O Banco Central Europeu (BCE) resistiu a pressões nesta quinta-feira para se comprometer com um programa de compra de bônus para conter a crise de dívida da zona do euro, mas operadores de bolsa afirmaram que o BCE já vem comprando títulos mesmo assim.
Segundo o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, o banco decidiu manter o juro e estender o prazo da rede de liquidez aos bancos do bloco monetário, realizando operações de três meses em janeiro, fevereiro e março, "com oferta total".
Ele não fez menção, no entanto, sobre um aumento das compras de bônus. O pacote de 85 bilhões de euros da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a Irlanda divulgado recentemente não dissipou a preocupação do mercado com a situação fiscal de outros países da zona do euro.
"Eu digo que estamos constantemente alertas. Estamos constantemente olhando a situação nos mercados", disse Trichet em entrevista coletiva.
"O SMP (sigla em inglês para o programa de compra de títulos do BCE) está em curso. Repito, em curso... Não vou comentar as observações de participantes do mercado", acrescentou.
Rumores de que o BCE apoiaria novas medidas para combater a crise fiscal em países periféricos da União Europeia ajudaram a estabilizar o euro e impulsionar os mercados de ações, apesar das preocupações com Portugal e Espanha.
O fato de que nada foi anunciado oficialmente preocupou alguns analistas. Mas outros ficaram menos decepcionados após notícias de que o BCE estaria comprando títulos de Portugal e da Irlanda, o que levou a uma queda no prêmio que investidores estão exigindo para comprar os bônus desses países ao invés de títulos da Alemanha.
O estrategista-sênior de câmbio da RBC Capital, em Toronto, Matthew Strauss, afirmou que Trichet ainda não definiu um limite para o programa de compra de bônus, e que isso indica que a opção de mais aquisições "não está necessariamente descartada".
As compras de títulos públicos pelo BCE, segundo um operador, "têm sido maiores que nas últimas semanas, desde ontem. Ontem e hoje com certeza foi maior que o normal".
O Morgan Stanley afirmou em relatório que as esperanças do mercado de um amplo anúncio de compra de bônus foram extintas. Porém, "ao mesmo tempo, parece que o BCE continuou aumentando suas compras sob o SMP".
Euro em perigo?
Alguns economistas dizem que o futuro do euro está em jogo, e temem um contágio da crise na Ásia e nos Estados Unidos.
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que a situação na Europa é "séria" e que o FMI já está pronto para fornecer ajuda financeira e técnica se os países do continente precisarem.
Mas líderes europeus negam a possibilidade de colapso do euro, refutando notícias de que haveria uma cúpula especial neste fim de semana para lidar com a crise.
Divisões no BCE
Antes das declarações de Trichet, alguns investidores disseram ser muito cedo para um anúncio conclusivo de novas medidas por causa de um debate intenso dentro do BCE sobre méritos de tais atuações.
O presidente do banco central alemão, Axel Weber, pediu que o programa fosse cancelado e outros membros do BCE criticaram a decisão do Federal Reserve de comprar 600 bilhões de dólares em dívida dos EUA para estimular a economia norte-americana.
Alguns economistas pediram que o BCE rasgue seu livro de regras e faça tudo o que for possível para proteger o euro, particularmente porque os governos parecem estar ficando sem ideias para restaurar a confiança na união monetária.