Além de Aldemir Bendine, outros cinco diretores foram escolhidos pelo Conselho de Administração| Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Executivo é suspeito de favorecer socialite

O Ministério Público Federal em São Paulo pediu ontem a abertura de um inquérito policial para investigar empréstimo, que considera irregular, do Banco do Brasil à empresária e socialite Val Marchiori. A operação foi realizada em 2013, na gestão de Aldemir Bendine no comando do banco.

De acordo com representação de um grupo de funcionários do BB, a instituição disponibilizou R$ 2,79 milhões à empresa de Val, a Torke Empreendimentos, oriundos de uma linha de financiamento BNDES Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos), mesmo com o cadastro dela contendo restrições impeditivas de crédito, o que na prática inviabilizaria a liberação de tais recursos.

Bendine também já foi acusado de sonegação pela Receita Federal por ter omitido R$ 280 mil da sua declaração de Imposto de Renda.

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Banco do Brasil

Para o lugar de Bendini no Banco do Brasil, o governo nomeou o atual vice-presidente de varejo da instituição, Alexandre Abreu, de 49 anos. Abreu é administrador de empresas e está no BB desde 1986, onde também já desempenhou papel de diretor das áreas de cartões e previdência da instituição. É tido como um profissional de bom trânsito com o meio político, assim como no meio empresarial.

Bendine autorizou empréstimo irregular do BB a Val Marchiori

A presidente Dilma Rousseff escolheu Aldemir Bendine, CEO do Banco do Brasil e homem de sua confiança, para assumir a presidência da Petrobras, desapontando investidores que torciam por um nome do mercado para recuperar a imagem arranhada da petroleira.

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Funcionário de carreira do BB e alinhado às políticas do atual governo, Bendine terá entre seus desafios limpar o balanço da Petrobras, que tem ativos sobrevalorizados em dezenas de bilhões de reais por sobrepreço em contratos e falhas em projetos de engenharia, entre outras razões.

A petroleira está no centro de um escândalo de corrupção, revelado na Operação Lava Jato, envolvendo ex-funcionários, executivos de empreiteiras e políticos.

A escolha do executivo do BB indica as dificuldades que Dilma teve para costurar a sucessão na Petrobras de forma súbita, em 48 horas, com a renúncia repentina da presidente Graça Foster e de outros cinco diretores da companhia.

Bendine assumiu o maior banco da América Latina em abril de 2009. Sob sua chefia, a instituição federal liderou uma ofensiva do governo petista no crédito para atenuar os efeitos da crise financeira global na economia brasileira. Agora deixa o comando do BB com um volume de ativos que ultrapassa R$ 1,3 trilhão.

Além dele, o Conselho de Administração da Petrobras escolheu o ex-vice-presidente financeiro do BB, Ivan Monteiro, para ocupar a diretoria de Finanças e outros quatro diretores interinos para áreas operacionais.

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A escolha de Bendine não foi por unanimidade. Os conselheiros que representam os acionistas minoritários e os trabalhadores no Conselho de Administração da Petrobras, Mauro Cunha e Silvio Sinedino, respectivamente, votaram contra a eleição da nova diretoria.

Em nota à imprensa, Cunha disse que "o acionista controlador [o governo] mais uma vez impõe sua vontade sobre os interesses da Petrobras, ignorando os apelos de investidores de longo prazo".

As ações da Petrobras recuaram com força quando o nome de Bendine veio à tona e aceleraram a queda logo após a Petrobras confirmá-lo para presidir a petroleira. Os papéis preferenciais e os ordinários terminaram o dia em baixa de 6,94% e de 6,52%. O Ibovespa caiu 0,9%.

Currículo

Aldemir Bendine nasceu em dezembro de 1963 em Paraguaçu Paulista (SP). Graduado em administração de empresas, ingressou no BB em junho de 1978, com 14 anos, como office-boy em um programa de Jovem Aprendiz. Antes de assumir a presidência do BB, ocupava o cargo de vice-presidente de Cartões e Novos Negócios de Varejo.

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O novo presidente da Petrobras tem laços políticos com o PT, apesar de não ser filiado à sigla.

Mercado reage mal à indicação

A nomeação de Aldemir Bendine para assumir a Petrobras não foi bem digerida pelo mercado. O fato de o executivo ser alinhado com o governo federal frustrou as expectativas de analistas, que esperavam um nome de peso do mercado financeiro e independente, menos suscetível a interferências do Planalto na estatal. Com Bendine, o esperado choque de credibilidade não vai acontecer, disse Ricardo Kim, analista da XP Investimentos. Na avaliação do economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, a reação negativa é reflexo da credibilidade "bastante discutida" e pelo perfil mais político do que técnico do gestor. "Ele fez um grande trabalho no BB do ponto de vista financeiro, mas há dúvidas em relação à credibilidade dele", avaliou.

A analista da Concórdia, Karina Freitas, discorda: "Não vejo questionamentos sobre sua capacidade. Inclusive pode ser positivo para a companhia ter um presidente com conhecimento do mercado financeiro, devido à situação delicada pela qual passa, diante de sua alta alavancagem", disse.

A nomeação do executivo do BB também não agradou o corpo técnico da petroleira, que viu na escolha do nome uma demonstração de que o governo continuará interferindo na administração da empresa. Para a Federação Nacional dos Petroleiros, "continuará o jogo de interesses políticos".

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