O Banco Central do Brasil (BCB) realizou uma análise técnica sobre o mercado de apostas online - também conhecido como bets - e o perfil dos apostadores no Brasil, após uma solicitação apresentada pelo senador Omar Aziz (PSD-AM). A análise, divulgada nesta terça-feira (24), revela a magnitude desse mercado e os desafios operacionais envolvidos, além de oferecer um panorama preliminar das apostas online no país.
Um dado alarmante da análise é que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família apostaram cerca de R$ 3 bilhões no mês de agosto de 2024, com uma mediana de R$ 100 por pessoa. Aproximadamente 4 milhões desses apostadores são chefes de família, correspondendo a 70% dos beneficiários que apostaram, o que levanta preocupações sobre o impacto financeiro das apostas em famílias de baixa renda.
Segundo o estudo, o mercado de apostas online no Brasil movimenta valores significativos, com um volume mensal de transferências variando entre R$ 18 e R$ 21 bilhões ao longo de 2024. A maior parte dessas transações é realizada via Pix, um dos métodos preferidos pelos apostadores. O relatório também estima que cerca de 24 milhões de brasileiros participaram dessas apostas, com destaque para a faixa etária de 20 a 30 anos. O valor médio mensal gasto aumenta conforme a idade, partindo de R$ 100 para os mais jovens e ultrapassando R$ 3.000 para os mais velhos.
O BCB destacou que muitas empresas de apostas não estão devidamente classificadas no setor econômico apropriado (CNAE 9200-3/99), o que dificulta o mapeamento completo do mercado. Além disso, o levantamento inicial indica que 15% do valor apostado é retido pelas empresas, sendo o restante distribuído como prêmios.
O estudo, no entanto, está em fase preliminar, e o Banco Central reconhece a necessidade de mais dados para avaliar melhor os efeitos desse mercado na economia e no bem-estar financeiro da população.
Preocupação com crescimento das "bets"
Ao participar de um evento, na manhã desta terça-feira (24), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçou a preocupação com o crescimento das "bets" e com uma possível piora na qualidade do crédito e na inadimplência das famílias.
Campos Neto informou que houve um aumento superior a 200% no valor que os apostadores transferem para essas empresas via Pix. Ele também destacou o resultado da análise feita pelo órgão que apontou que parte considerável dos apostadores são pessoas de baixa renda e até mesmo beneficiários do programa Bolsa Família.
“A correlação entre pessoas que recebem Bolsa Família, pessoas de baixa renda, e o aumento das apostas tem sido bastante grande. A gente consegue mapear o que teve de Pix para essas plataformas e o crescimento de janeiro para cá foi bastante grande”, frisou em palestra no evento J. Safra Brazil Conference 2024, em São Paulo.
O presidente do BC ainda disse que a autoridade monetária tem procurado ajudar o governo e o Congresso com os dados sobre as transações.
“A gente pega o ticket médio, subiu mais de 200%. É uma coisa que chama atenção e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta”, alertou.
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