Segundo pesquisa da Anbima, 22 milhões de brasileiros apostaram em bets em um ano.| Foto: Pixabay
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Há mais brasileiros apostando em bets do que investindo em aplicações financeiras. Segundo pesquisa da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), em 2023, 22 milhões de pessoas afirmaram ter feito apostas online, enquanto 21 milhões tinham dinheiro aplicado em produtos financeiros como títulos públicos e fundos de investimento.

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O crescimento das apostas online é expressivo no Brasil. Segundo levantamento da Strategy&, ligada à consultoria internacional da PwC, o mercado de apostas no Brasil deverá fechar 2024 com crescimento de 89% em relação a 2020. O interesse é maior entre os mais jovens (29%), especialmente aqueles nascidos a partir de 1995, e entre os homens. A participação também é significativa nas classes de renda mais baixa.

Entre as principais motivações para apostar, destacam-se a possibilidade de ganhar dinheiro rápido (40%) e a chance de obter altos retornos (37%). Outros fatores citados são diversão e a emoção da aposta.

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Parte dos apostadores veem bets como investimento

O levantamento mostra que 22% dos apostadores veem as apostas como uma forma de investimento financeiro. Essa percepção é mais comum entre os chamados boomers (38%) e a geração X (27%), grupos que incluem pessoas nascidas entre 1946 e 1980.

Os motivos que levam a essa visão são:

  • expectativa de retorno rápido: muitos apostadores acreditam que as apostas podem trazer ganhos em momentos de necessidade;
  • comparação com investimentos tradicionais: alguns apostadores veem as bets como uma alternativa viável para fazer o dinheiro render, comparando-as a aplicações financeiras;
  • atração pelo risco: a natureza arriscada das apostas, com possibilidade de altos ganhos, atrai pessoas em busca de oportunidades diferentes dos produtos financeiros convencionais; e
  • diversão e emoção: o entretenimento e a emoção das apostas também contribuem para essa percepção.

A familiaridade dos jovens com dispositivos móveis e aplicativos, a aceitação das apostas como forma de entretenimento e socialização e a promoção feita por influenciadores nas redes sociais também impulsionam a adesão a esse mercado.

Muitos jovens, diante de um cenário econômico desafiador, veem as apostas como uma forma de obter receita extra sem a necessidade de grande capital inicial, ao contrário de muitos investimentos financeiros.

Essa percepção pode ser perigosa. A Anbima alerta que a natureza lúdica das bets pode obscurecer os riscos envolvidos, o que é especialmente preocupante entre os mais jovens.

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Estudo de 2023 alertou Congresso e governo sobre impacto de bets no orçamento doméstico

Um estudo realizado pela consultoria legislativa do Senado em 2023 já alertava congressistas e governo sobre os riscos do aumento do endividamento das famílias de baixa renda em decorrência das apostas online. O relatório também indicou a possibilidade de efeitos negativos nas atividades econômicas.

Outro aspecto destacado é a falta de conhecimento sobre como a expansão do mercado de apostas esportivas pode afetar o orçamento familiar, a capacidade de poupança e o nível de endividamento.

Para Bia Santos, CEO da Barkus, empresa voltada à educação financeira, as apostas podem ser devastadoras para o orçamento familiar, especialmente nas classes de menor renda. Ela destaca que o discurso de enriquecimento rápido atrai pessoas financeiramente vulneráveis. "A urgência de melhorar de vida é um prato cheio para as bets", afirma.

A situação dos jovens é particularmente delicada. Apesar de o desemprego entre aqueles de 18 a 24 anos ter caído para 14,3% no segundo trimestre de 2024, o menor em quase dez anos, o índice ainda é mais que o dobro da média nacional (6,9% no mesmo período). O rendimento médio desses jovens (R$ 1.741) corresponde a 56% da média nacional.

Segundo ela, a solução passa por educação financeira: "As pessoas precisam entender que não há ganhos rápidos nos investimentos e que contar com a sorte é arriscado. Investimentos seguros, como o Tesouro Direto, oferecem um futuro financeiro mais equilibrado", diz.

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Setor questiona estudos sobre impactos negativos na economia

O Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR), uma das entidades representativas do segmento, encomendou um estudo à LCA Consultores para medir o impacto do mercado de apostas no Brasil.

Segundo o levantamento, os gastos líquidos anuais com apostas variam entre 0,1% e 0,3% do PIB. Quando analisados em relação ao consumo das famílias, os gastos representam entre 0,2% e 0,5% do total.

O estudo concluiu que, entre 2022 e 2024, não houve evidências de que as bets tenham afetado significativamente o endividamento familiar.

No entanto, dados do Banco Central apontam um aumento na inadimplência em agosto de 2024, mesmo em um cenário de economia aquecida.

Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revelou que 46% dos apostadores admitiram ter renunciado a algum consumo para apostar. A confederação aponta que 15% dos apostadores já deixaram de pagar contas para usar o dinheiro em jogos ou bets.

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Outra pesquisa, da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), indicou que o aumento das bets penalizou principalmente o consumo de itens de vestuário, supermercado e serviços como restaurantes e viagens.

Um levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (FecomércioSP) revelou que 20% dos apostadores usariam o dinheiro para pagar contas, caso não tivessem destinado às bets.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]