O bilionário inglês Richard Branson, controlador do grupo Virgin - que, entre outros negócios, tem uma companhia aérea e uma gravadora -, enviou dois de seus homens de confiança ao Brasil nesta semana para analisar de perto o mercado de etanol. Na agenda do belga Dimitri Pauwels e do americano Brett Lund há uma lista "secreta" de usineiros com quem pretendem negociar uma parceria, que pode ser fechada nos próximos meses.
Branson é um dos principais sócios da Gevo, empresa de biotecnologia criada há quatro anos nos Estados Unidos e que desenvolveu uma tecnologia de produção de isobutanol, também chamado de etanol de segunda geração. Em vez de usar enzimas para catalisar o processo, ela produz o combustível com microorganismos geneticamente modificados. Segundo Lund, o isobutanol é tão eficiente quanto a gasolina, mais fácil de ser distribuído, pois não se mistura à água, não exige mudanças no motor do carro e ainda pode gerar outros subprodutos para a indústria química, como plásticos, polímeros, biodiesel e combustível para aviação.
"A Gevo não quer comprar usinas no Brasil porque o país já tem excelentes operadores. Nessa parceria, seremos os provedores de tecnologia e os brasileiros, os provedores de açúcar e de produção", explica Pauwels, consultor do grupo Virgin para a América Latina. "A Gevo é uma empresa pequena e tem de começar por algum lugar. E o Brasil é a melhor opção. Está aberto para investimentos estrangeiros e parcerias e é líder em açúcar, tanto no consumo quanto na produção. É muito mais fácil começar por aqui."
Os executivos querem convencer os usineiros que o etanol de segunda geração pode aumentar a margem de lucro das empresas. Como são mais eficientes - pelo menos em escala experimental -, vão valer mais que o bom e velho álcool. "O nosso parceiro não precisa ser o maior, mas precisa ter escala e acesso à financiamento (para fazer as adaptações na usina)", explica Pauwels.
Um dos parceiros mais óbvios da Gevo no país é a Brenco, novo grupo sucroalcooleiro de brasileiros e estrangeiros que vai produzir etanol em larga escala. Um dos seus principais investidores é o indiano Vinod Khosla, fundador da Sun Microsystems e da própria Gevo.
AVIAÇÃO - Branson entrou alguns anos mais tarde, quando a Gevo começou a desenvolver combustível para aviação. Hoje ele já é produzido em uma unidade experimental em Denver, no Colorado (EUA), onde também é feito biodiesel e isobutanol. "Hoje usamos o milho nos nossos laboratórios, mas o processo vai ficar muito mais fácil com a cana-de-açúcar", diz Lund. "Nosso próximo projeto é produzir plásticos e diferentes tipos de polímeros." No caso da aviação, o combustível só poderá ser usado nos aviões da Virgin depois que for homologado pelos órgãos de governo.
A Gevo é considerada uma empresa de ponta pela comunidade científica. Na edição de fevereiro deste ano da prestigiada revista "Nature", ela foi citada ao lado de outras empresas americanas como um exemplo de inovação na produção de biocombustíveis. "Estamos aperfeiçoando nosso processo para ter escala comercial. Estamos muito próximos, acredito que em 18 a 24 meses isso será possível", diz Lund.
A reportagem da "Nature" coloca em questão a real capacidade dos cientistas de transformar as experiências de laboratório em um combustível acessível e que possa ser produzido em quantidade industrial. Os cientistas ouvidos pela publicação estão otimistas.
Segundo os executivos da Gevo, produzir o novo biocombustível não exige grandes adaptações nem vultosos investimentos. Um executivo da Gevo disse à "Nature" que a reforma de uma usina pode custar US$ 20 milhões. "O conceito é mais ou menos o mesmo. É preciso incluir mais alguns tubos e tanques. O retorno sobre esse investimento vem rápido, em um ano", diz Pauwels.
A parceria com os usineiros é apenas o primeiro passo do plano da Gevo para o Brasil. Nos próximos 18 meses, a empresa pretende fazer o mesmo movimento na indústria química.
Grupos como Braskem, por exemplo, que está investindo pesado em um pólo álcoolquímico, podem se tornar alvos da Gevo. "Qualquer parceria que fizer sentido estratégico nós vamos fazer", diz Pauwels.
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