Na semana em que uma das maiores casas de câmbio de bitcoins entrou com pedido de concordata e que o suposto criador da moeda virtual foi encontrado depois de viver seis anos em completo anonimato, o futuro dos bitcoins é colocado em xeque por especialistas e investidores. Se por um lado o sistema é apontado como uma das maiores revoluções financeiras das últimas décadas, o excesso de especulação e a falta de um lastro real ainda geram uma série de incertezas.
INFOGRÁFICO: Entenda como funciona o bitcoin
Em 28 de fevereiro, umas das maiores empresas ligadas ao mercado de bitcoins sofreu um ataque hacker que fez evaporar meio bilhão de dólares em BTCs (unidade da moeda virtual). Seis dias mais tarde, a revista americana Newsweek publicou uma matéria dizendo ter encontrado o criador do sistema criptografado de bitcoins. Até então, acreditava-se que Satoshi Nakamoto era apenas o nome adotado por uma legião de hackers criadores da tecnologia da nova moeda, ou então que era uma organização controlada por gigantes da tecnologia e que o nome adotado era a fusão das marcas Samsung, Toshiba, Nakamichi e Motorola. Nesse meio tempo, a CEO da primeira plataforma de bitcoins foi encontrada morta em Cingapura, sob suspeita de suicídio.
Mesmo com a série de incidentes sinistros recentes, a plataforma ganha mais campo e adeptos a cada dia. "É um sistema revolucionário. Talvez seja a grande inovação na economia desde a invenção do cartão de crédito", afirma Bernardo Quintão, fundador da startup curitibana BitWiFi, que trabalha com a moeda virtual.
Segundo ele, o grande legado do bitcoin é o desenvolvimento de um sistema inviolável e ágil de transferência de moeda sem custos. "É impossível dizer hoje a dimensão que isso vai ter um dia, mas o bitcoin está para o dinheiro como o e-mail está para a carta. Ele veio para ficar", afirma.
A adesão, mesmo com futuro nebuloso, é crescente. O governo alemão autorizou que sejam feitas transações privadas com a moeda e o ex-presidente do Fed (banco central americano) Ben Bernanke reconheceu que o sistema tem potencial para dominar o e-commerce em alguns anos.
O grande risco, por enquanto, gira em torno do valor do bitcoin e a bolha criada pelos seus investidores. "Não recomendo a ninguém que invista um apartamento nisso, por exemplo. Mesmo com um sistema aparentemente sólido, neste momento seria uma loucura", afirma o consultor de investimentos Armando Gotardi, em referência ao programador de Santos (SP) que colocou seu apartamento de R$ 250 mil a venda, mas só aceita bitcoins em troca.
No momento, o problema do bitcoin é que ainda cumpre pouco seu papel como moeda. Seu uso se restringe aos poucos lugares que o aceitam e em transações entre usuários adeptos do sistema. "Eu diria que este ainda é um sistema em desenvolvimento. Neste momento, é uma irresponsabilidade comprar uma grande quantia em bitcoins", pondera Quintão, que também é sócio de uma boutique de investimentos.
Anonimato de bancos e bolsas divide especialistas
A falta de informações sobre os principais operadores de bitcoins no mundo é um dos pontos de maior discordância entre a comunidade de investidores e especialistas sobre a moeda virtual.
Para Jorge Stolfi, professor de Ciência da Computação da Unicamp, a falta de transparência tira a credibilidade do sistema virtual. "O modelo é incontestavelmente sólido, mas a gerência das instituições que operam as bitcoins não passa credibilidade", diz ele, que é PhD em banco de dados pela Universidade de Stanford, da California.
Segundo Stolfi, as principais bolsas da moeda virtual têm origem obscura. "A Bitstamp é da Eslovênia, mas inexplicavelmente tem registro em Londres, e a BTC-e é da Bulgária, mas pertencente a dois russos completamente anônimos", completa.
O fundador da startup BitWiFi, Bernardo Quintão, acredita que isso não é um problema. "Ninguém que tiver bitcoins precisa investir numa bolsa. Basta guardar no seu próprio computador", explica.