Nakamoto, suposto criador da moeda virtual, foi “revelado” pela Newsweek na semana passada| Foto: David MacNew/ Reuters

Especulação

Procura chinesa gerou bolha no fim de 2013

O ganho de popularidade dos bitcoins e a possibilidade de gerir contas anônimas resultou em uma corrida de investidores chineses em busca da moeda virtual. A procura fez a cotação disparar e o valor de um BTC saltou de US$ 100 em abril para mais de US$ 1,1 mil em dezembro. Hoje, os chineses são responsáveis por mais de dois terços de toda a movimentação mundial da moeda.

A bolha imobiliária nos grandes centros chineses e o controle governamental sobre o câmbio também levou os investidores locais a arriscarem suas economias nos bitcoins. Para tentar conter o movimento, o governo chinês proibiu negociações em bitcoins. "Sem poder usar a moeda no mercado real, ela virou objeto exclusivamente de especulação por lá", explica o consultor de investimentos Armando Gotardi.

A valorização, no entanto, não se manteve tão forte. Nos meses seguintes, a moeda passou a oscilar e agora está cotada em US$ 600. "A valorização foi muito rápida, mas é impossível dizer qual será seu comportamento no futuro próximo. Muitos investidores já perderam bastante dinheiro", diz Jorge Stolfi, professor de Ciência da Computação da Unicamp.

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Na semana em que uma das maiores casas de câmbio de bitcoins entrou com pedido de concordata e que o suposto criador da moeda virtual foi encontrado depois de viver seis anos em completo anonimato, o futuro dos bitcoins é colocado em xeque por especialistas e investidores. Se por um lado o sistema é apontado como uma das maiores revoluções financeiras das últimas décadas, o excesso de especulação e a falta de um lastro real ainda geram uma série de incertezas.

INFOGRÁFICO: Entenda como funciona o bitcoin

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Em 28 de fevereiro, umas das maiores empresas ligadas ao mercado de bitcoins sofreu um ataque hacker que fez evaporar meio bilhão de dólares em BTCs (unidade da moeda virtual). Seis dias mais tarde, a revista americana Newsweek publicou uma matéria dizendo ter encontrado o criador do sistema criptografado de bitcoins. Até então, acreditava-se que Satoshi Nakamoto era apenas o nome adotado por uma legião de hackers criadores da tecnologia da nova moeda, ou então que era uma organização controlada por gigantes da tecnologia e que o nome adotado era a fusão das marcas Samsung, Toshiba, Nakamichi e Motorola. Nesse meio tempo, a CEO da primeira plataforma de bitcoins foi encontrada morta em Cingapura, sob suspeita de suicídio.

Mesmo com a série de incidentes sinistros recentes, a plataforma ganha mais campo e adeptos a cada dia. "É um sistema revolucionário. Talvez seja a grande inovação na economia desde a invenção do cartão de crédito", afirma Bernardo Quintão, fundador da startup curitibana BitWiFi, que trabalha com a moeda virtual.

Segundo ele, o grande legado do bitcoin é o desenvolvimento de um sistema inviolável e ágil de transferência de moeda sem custos. "É impossível dizer hoje a dimensão que isso vai ter um dia, mas o bitcoin está para o dinheiro como o e-mail está para a carta. Ele veio para ficar", afirma.

A adesão, mesmo com futuro nebuloso, é crescente. O governo alemão autorizou que sejam feitas transações privadas com a moeda e o ex-presidente do Fed (banco central americano) Ben Bernanke reconheceu que o sistema tem potencial para dominar o e-commerce em alguns anos.

O grande risco, por enquanto, gira em torno do valor do bitcoin – e a bolha criada pelos seus investidores. "Não recomendo a ninguém que invista um apartamento nisso, por exemplo. Mesmo com um sistema aparentemente sólido, neste momento seria uma loucura", afirma o consultor de investimentos Armando Gotardi, em referência ao programador de Santos (SP) que colocou seu apartamento de R$ 250 mil a venda, mas só aceita bitcoins em troca.

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No momento, o problema do bitcoin é que ainda cumpre pouco seu papel como moeda. Seu uso se restringe aos poucos lugares que o aceitam e em transações entre usuários adeptos do sistema. "Eu diria que este ainda é um sistema em desenvolvimento. Neste momento, é uma irresponsabilidade comprar uma grande quantia em bitcoins", pondera Quintão, que também é sócio de uma boutique de investimentos.

Anonimato de bancos e bolsas divide especialistas

A falta de informações sobre os principais operadores de bitcoins no mundo é um dos pontos de maior discordância entre a comunidade de investidores e especialistas sobre a moeda virtual.

Para Jorge Stolfi, professor de Ciência da Computação da Unicamp, a falta de transparência tira a credibilidade do sistema virtual. "O modelo é incontestavelmente sólido, mas a gerência das instituições que operam as bitcoins não passa credibilidade", diz ele, que é PhD em banco de dados pela Universidade de Stanford, da California.

Segundo Stolfi, as principais bolsas da moeda virtual têm origem obscura. "A Bitstamp é da Eslovênia, mas inexplicavelmente tem registro em Londres, e a BTC-e é da Bulgária, mas pertencente a dois russos completamente anônimos", completa.

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O fundador da startup BitWiFi, Bernardo Quintão, acredita que isso não é um problema. "Ninguém que tiver bitcoins precisa investir numa bolsa. Basta guardar no seu próprio computador", explica.