O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou nesta quarta-feira medidas que ampliam as exigências socioambientais para que a instituição apoie a cadeia produtiva da pecuária bovina, tanto para concessão de financiamento quanto para participação acionária em empresas.

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"Vamos reiterar nosso compromisso com a responsabilidade socioambiental. É uma decisão firme e decidida, e vamos ter que empenhar muitos esforços na implementação e no monitoramento desses processos", disse em entrevista a jornalistas o presidente do banco, Luciano Coutinho.

A medida vem depois de o banco ter sido criticado por apoiar frigoríficos que comprariam gado criado em áreas desmatadas e de o Ministério Público Federal do Pará ter recomendado, em meados de junho, que redes de supermercados deixassem de adquirir a carne de frigoríficos que compram gado de áreas desmatadas.

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Alguns varejistas como o Wal-Mart seguiram a recomendação.

O Wal-Mart, por sinal, informou nesta semana que manteve a suspensão à compra de carnes cuja origem seja o Pará, apesar de os frigoríficos terem assinado um Termo de Ajuste de Conduta, visando o estabelecimento de práticas ambientais sustentáveis.

Segundo o BNDES, as medidas anunciadas complementam iniciativas tomadas pelo banco nos acordos de participação acionária firmados com frigoríficos em 2008.

"Na ocasião, o BNDES incluiu cláusulas contratuais semelhantes às que foram posteriormente estabelecidas pelo Ministério Público no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com frigoríficos em julho de 2009", acrescentou o BNDES em comunicado.

As medidas serão retroativas e as empresas que já têm apoio do BNDES precisarão se adequar às novas regras anunciadas nesta quarta-feira.

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"Queremos que os grandes líderes desse processo de disciplina sejam os grandes frigoríficos", frisou Coutinho.

De acordo com o BNDES, os frigoríficos precisarão comprovar a adesão ao sistema de rastreabilidade da cadeia produtiva de bovinos, a partir de 2010, e poderão contar com o apoio do banco na implementação de sistemas pelo país.

"A pecuária brasileira tem que abandonar a visão extensionista. Mais espaço é prover mais desmatamento. Para segurar esse extensionismo, podemos aumentar a produtividade da pecuária", afirmou o executivo ao destacar que o monitoramento do gado e a rastreabilidade caberão ao Ministério da Agricultura.

O sistema atual em vigor apenas acompanha a "vida do gado", mas não é capaz de identificar se o boi foi criado em uma área ilegal.

"O nosso sistema é para controlar a sanidade, mas não se exige a especificação da área, se é área desmatada ou não", disse o assessor do Ministério da Agricultura, Derli Dossa.

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O Ministério da Agricultura já anunciou que espera rastrear eletronicamente o rebanho do Pará, com o objetivo de evitar que frigoríficos comprem gado de áreas desmatadas. A iniciativa conta com o apoio das empresas frigoríficas, segundo o governo, e poderia ser implantada nos próximos meses.

As diretrizes do banco preveem que todos os animais abatidos deverão ter, a partir de janeiro de 2012, rastreabilidade mínima de 6 meses, chegando a janeiro de 2016 com rastreabilidade do nascimento até o abate.

Segundo a secretária executiva do Ministério do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, a pecuária é responsável por ao menos 60 por cento do desmatamento ilegal na Amazônia.

"Um agente financeiro como o BNDES, ao criar novas regras, com certeza levará a novas práticas por parte dos empreendedores. Temos que distinguir boas e más práticas na Amazônia", disse ela.

O BNDES também exigirá um plano de desenvolvimento socioambiental dos frigoríficos.

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Além disso, para obterem apoio do BNDES, "os frigoríficos só poderão comprar gado de fornecedores que não constem na relação de áreas embargadas do Ibama" e não poderão constar da "lista suja" do Ministério do Trabalho e nem terem sido condenados por invasão de terras indígenas, violência agrária, grilagem de terra e/ou desmatamento ilegal.

Os fornecedores diretos ainda precisarão apresentar licença ambiental da propriedade rural.

O BNDES afirmou ainda que os prazos dados aos produtores são compatíveis com os estabelecidos no termo assinado com o Ministério Público.

Em 2008, as operações totais do BNDES, incluindo empréstimos e participações acionárias somaram 6 bilhões de reais.

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