O BNDES vai abrir a torneira para as startups. Pelo menos R$ 50 milhões já estão reservados pelo banco para investir em startups e fomentar o ecossistema de inovação. Em processo de reestruturação — que passa pela aproximação com micro, médias e pequenas empresas — o banco irá lançar um programa de aceleração e liderar um fundo que deve realizar aportes financeiros em 100 startups, nos próximos anos.
Até o fim do ano que vem (2019), o banco quer lançar gaum grande centro de empreendedorismo, no Rio de Janeiro, aos moldes do Cubo, do Itaú, e do inovraBra Habitat, do Bradesco (ambos em São Paulo). O local, ainda sem sede definida, deve ser grande o suficiente para abrigar um coworking, programas de aceleração, grandes empresas com braços tecnológicos e fundos de investimento, além de equipes do próprio BNDES.
O banco está em busca de parceiros para tirar o projeto do papel. A previsão é divulgar o espaço físico escolhido (possivelmente no Centro do Rio de Janeiro, ou na região do chamado Porto Maravilha) até o final deste ano.
Em paralelo, pelo menos dois projetos de grande porte já estão saindo do papel. Um deles é um fundo de coinvestimento anjo, que irá investir em negócios nascentes, com faturamento anual de até R$ 1 milhão. Inicialmente, o BNDES irá aportar R$ 40 milhões no fundo — outros R$ 20 milhões devem ser captados no mercado.
Outros R$ 10 milhões já estão previstos para um outro programa, de criação e aceleração de startups. Deve funcionar em dois módulos: um para tirar ideias do papel e convertê-las em empresas; e outro para ajudar startups já maduras a alavancarem seus negócios. O projeto é um piloto do BNDES Garagem, que irá integrar o centro de empreendedorismo a ser lançado no Rio de Janeiro.
Fundo para fomentar o mercado de anjos
O BNDES (por meio do BNDESPar) já estruturou mais de 60 fundos que aportaram em mais de 300 empresas, explica o chefe do departamento de Investimento em Fundos do sistema BNDES, Gustavo Tenório Reis. A prática teve início em 1995. Tenório e os responsáveis pelo fundo e pelo BNDES Garagem conversaram com a Gazeta do Povo sobre as iniciativas do banco.
“O banco investe ao longo de toda a cadeia de ciclo de crescimento das empresas, seed money, venture capital, e até private equity, que é o estágio anterior ao mercado de capitais. Mas o investimento anjo é uma iniciativa inédita”, comenta Tenório.
Em um primeiro momento, o fundo deve aplicar cheques de até R$ 500 mil em empresas nascentes, com faturamento anual inferior a R$ 1 milhão.
O segmento não é exatamente um gap de mercado. O chamado “vale da morte” das startups brasileiras ocorre em um momento posterior (com cheques entre R$ 1,5 milhão e R$ 3 milhões). O mercado de anjos é um pouco mais popular, e a estratégia do BNDES é justamente propiciar um amadurecimento deste público.
“A nosso ver, o mercado de investidores-anjo no Brasil ainda é incipiente”, explica o gerente responsável pelo fundo de coinvestimento anjo dentro do sistema BNDES, Fernando Rieche. Por isso o fundo foi desenhado com vistas a fomentar as startups, mas também a incluir investidores-anjo que já atuam no país.
Com R$ 40 milhões previstos de aporte inicial, o BNDESPar será o investidor âncora do fundo. Outros R$ 20 milhões devem ser captados com o mercado. Detalhes deste funcionamento devem constar no regulamento do fundo, a ser elaborado e aprovado pela Comissão de Valores Mobiliários.
Gestora irá selecionar e fazer aportes
A gestão fica a cargo da Domo Invest, selecionada por meio de edital. Especializada em venture capital, a gestora trouxe dois pioneiros do investimento-anjo no Brasil para estar à frente do projeto com o BNDES. Franco Pontillo, um dos investidores-anjo do Buscapé, e Mario Letelier, “anjo” há mais de uma década.
“A gente está bastante conectado com diferentes partes do ecossistema, e o trabalho dos dois vai ser estar em contato com o ecossistema e a comunidade, como aceleradoras, incubadoras, associações de anjo, investidores. E dizer para eles: quando você for fazer um investimento me traz que eu quero estar junto”, explica Gabriel Sidi, um dos sócios da Domo.
Novos aportes, limitados a R$ 5 milhões, podem ser feitos nas startups que conquistarem bons resultados. O fundo terá duração de 10 anos, sendo os primeiros 3 de investimento, outros 3 de reinvestimento, e os últimos 5 anos para desinvestimento, quando o fundo deve liquidar sua participação nas startups.
BNDES Garagem
Em outra frente, o BNDES está com um edital em aberto para o primeiro estágio do BNDES Garagem. O banco busca uma aceleradora (ou consórcio de aceleradoras) para executar o programa, com um orçamento de R$ 10 milhões. O anúncio da escolhida deve ocorrer até setembro deste ano, e a seleção das startups está prevista para novembro.
O programa ocorre em dois módulos. Um de criação de startups, que deve selecionar 30 empreendedores (em uma primeira turma) com ideias inovadoras para transformar estas ideias em produto. O segundo é de aceleração, para outras 30 startups que já tenham um produto em operação.
Uma das estratégias é aproveitar o conhecimento técnico do BNDES na alavancagem destas startups, inclusive para conectá-las a grandes clientes do banco. Uma startup do agronegócio, por exemplo, pode contar com conselhos da área dentro do banco responsável por fazer contato com empresas deste setor, e assim por diante.
Inovação para fora e para dentro
Em paralelo a iniciativas de fomento a inovação, o BNDES tem olhado para dentro ao se aproximar de startups, em especial das chamadas fintechs (startups da área financeira). O Desafio BNDES Fintech, lançado no início do mês, está com inscrições abertas até setembro, e irá oferecer R$ 100 mil em prêmios a soluções inovadoras para o mercado financeiro.
No início do ano, em janeiro, o banco lançou uma chamada pública para fintechs que pudessem apresentar soluções tecnológicas que facilitam o relacionamento do BNDES com empresas de menor porte, nas áreas de educação financeira, análise de crédito, matching de soluções financeiras e leilões reversos de crédito para financiamento.
Em fevereiro o BNDES firmou um termo de cooperação com o KfW (banco que é como o BNDES alemão) sobre o desenvolvimento da tecnologia blockchain, banco de dados utilizado no desenvolvimento de criptomoedas. O banco fez testes com o software TruBudget, que tem funcionamento similar ao do Bitcoin.
“Para ser mais aberto [para empresas de menor porte] e eficiente [neste relacionamento] o banco precisa se digitalizar. E vamos conseguir isso pelo relacionamento com startups”, explica Bruno Aranha, da área de Gestão de Participações do banco (e responsável pelo programa BNDES Garagem). “A gente fomenta a inovação e estar startups inovadoras, mas eles também podem nos trazer soluções de negócios para o banco funcionar de forma mais eficiente e assim conseguirmos impactar as pequenas e médias empresas como um todo”.
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