A disparada de preços das propriedades no Brasil e o aumento de quase 40% do real contra o dólar desde 2009 provocaram uma verdadeira febre nos brasileiros de comprar condomínios de luxo em Miami: um frenesi que incentiva o ainda abatido mercado imobiliário da Flórida.
O setor financeiro de Miami, Brickell, já é apelidado por alguns como o "Brickellcinho" pelo português que é ouvido nas áreas comuns dos condomínios, que ainda podem ser encontrados por menos de 300 mil dólares.
Mas os brasileiros de hoje compram em dinheiro também aqueles apartamentos em Sunny Isles, Bal Harbour e Hollywood, o famoso corredor das praias do sul da Flórida, onde suas propriedades têm uma base mínima de um milhão de dólares.
"Miami tem um novo fascínio com os brasileiros, mas acredito que esta tendência começou há dois anos", disse à AFP Geane Brito, corretora imobiliária para vendas internacionais do Chariff Realty Group em Miami.
Brito, responsável por atender os compradores brasileiros, afirma que graças "à força do real, não apenas estão comprando apartamentos de forma maciça. Compram tudo!", disse a especialista em bens imóveis.
Trump Hollywood, o mais recente condomínio de luxo em frente ao mar em Hollywood Beach, ao nordeste de Miami Beach, esteve a ponto de ser um "elefante branco" após a crise imobiliária em 2006, mas desde o relançamento das vendas, em janeiro de 2011, os apartamentos vão para as mãos de brasileiros, canadenses e mexicanos que aproveitam a força de suas moedas.
"No Brasil não há nada tão completo, com tantos serviços para os proprietários e, sobretudo, com esta segurança", explicaram à AFP Ariel e Neide Lenharo, um casal de aposentados de São Paulo que fez fortuna no ramo de implantes odontológicos.
O casal viajou em setembro para ver este condomínio. "Viemos de férias, nos encantou e o compramos; pedimos que fosse com tudo o que tinha no apartamento modelo", disse Neide Lenharo pouco depois de assinar seu título de propriedade na Flórida, após pagar de uma vez só 1,9 milhão de dólares por 300 metros quadrados de luxo.
"Pedimos decorado, então diminuíram cerca de 100 mil dólares", disse a mulher, repousando em uma espreguiçadeira com vista para o mar, onde os proprietários têm serviços com tudo incluído, como um hotel cinco estrelas.
Neste complexo de 200 unidades - que já vendeu mais da metade delas -, os proprietários pagam pelo menos 1.500 dólares mensais de gastos comuns, para manter uma adega para armazenar suas coleções particulares de vinhos, cozinha comum com café da manhã todas as manhãs e até um salão para fumar e uma tabacaria.
Segundo a Associação Nacional de Corretores Imobiliários (NAR, em inglês), a Flórida é a região mais popular nos Estados Unidos para compradores estrangeiros (com 22%), seguida pela Califórnia (12%) e Arizona (11%).
Apenas em Miami, 80% das propriedades são vendidas a clientes do exterior que buscam suas casas de veraneio, e ao menos 40% deles são brasileiros, segundo as casas de bens imóveis mais importantes do condado de Miami Dade.
Antes do boom do real, cerca de 300 mil brasileiros viviam na Flórida.
"Os canadenses são nossos melhores clientes, mas nos últimos anos nos beneficiamos da melhoria das condições econômicas na América do Sul e na América Central", disse Greg Freedman, sócio de BH3, o novo proprietário e construtor da Trump Hollywood, ao citar entre seus melhores compradores brasileiros, mexicanos, venezuelanos e colombianos.
Daniella e Alejandro Vasconcellos, um casal carioca de cerca de 35 anos, simboliza o novo perfil dos compradores brasileiros em Miami: profissionais de classe média que, em uma boa jogada e como trabalhadores em seus países, podem hoje em dia adquirir uma propriedade em Miami como investimento.
"Já não são apenas os ricos latinos que investem. Os preços das casas nos Estados Unidos continuam deprimidos, mas esta crise irá passar", disse Vasconcellos, que neste ano comprou um apartamento em Brickell.
Para Jeremy Green, do Benchmark Realty Group, que afirma trabalhar 99% para clientes brasileiros em Miami, "estas pessoas estão fazendo os investimentos de sua vida ao vender ativos caros no Brasil e vir comprar em um mercado deprimido".
A boa fase do Brasil se espalha para todos os setores. Não apenas as agências imobiliárias destinam funcionários bilingues em português, mas também se proliferam as lojas com bandeira brasileira nas vitrines em sinal de que há consumidores. E na recente edição da feira de arte contemporânea Art Basel, os brasileiros se destacaram entre os melhores compradores.
O Brasil tem um imposto de importação sobre a arte de quase 40%. "Eles vêm a Miami ou Nova York, compram suas propriedades e colocam a arte nas paredes. Isto é fantástico para nós", disse ao jornal El Nuevo Herald Gary Nader, proprietário de uma galeria local.
No turismo neste ano, os brasileiros também levaram o troféu dos mais consumistas na Flórida, ao gastarem entre janeiro e junho 1 bilhão de dólares no estado: 61% a mais que no ano passado, segundo o governo estatal.
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