Bolívia e Venezuela apresentaram à meia-noite de quinta-feira uma ambiciosa aliança estratégica, com o lançamento dos primeiros projetos de prospecção de uma nova empresa binacional de petróleo, a YPFB-Petroandina, que somarão investimentos de pelo menos US$600 milhões de dólares.
A apresentação da parceria entre as estatais YPFB, da Bolívia, e PDVSA, da Venezuela, foi retardada em mais de sete horas devido à demora do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para desembarcar em La Paz.
"Os campos de gás haviam sido seqüestrados pelo imperialismo e seus lacaios internos; na Venezuela liberamos e na Bolívia liberaram essas riquezas (ao nacionalizar o setor)", disse Chávez no palácio presidencial de La Paz, após assinar com seu aliado Evo Morales o convênio que deu origem à joint venture, que inicialmente explorará uma área amazônica ao norte de La Paz e blocos no Chaco (sudeste), onde estão as maiores jazidas em funcionamento da Bolívia.
Portando uma coroa de flores e folhas de coca, Chávez disse que a Bolívia, maior exportador sul-americano de gás, "precisa com urgência elevar sua produção", e que com ajuda venezuelana o país mais pobre do subcontinente dará "o próximo passo, que deve ser uma grande indústria petroquímica".
- Dissemos que queremos sócios, não patrões, e hoje temos um sócio - disse Morales na cerimônia, já na madrugada de sexta-feira.
Foi uma referência clara à afirmação feita pelo próprio Chávez, no ano passado, sobre a Petrobras, quando o presidente boliviano decidiu nacionalizar as refinarias de estatal brasileira no país.
Desde que Morales decretou a nacionalização do setor, em maio de 2006, empresas estrangeiras, como a Petrobras e a espanhola Repsol-YPF estão submetidas à autoridade da YPFB e a cargas tributárias que às vezes superam 80% valor de petróleo e gás.
Na quinta-feira, ministro da Presidência boliviano, Juan Ramón Quintana, disse lamentar que a Petrobras tenha um "pessimismo financeiro" em relação à Bolívia e disse esperar que a parceria com a Venezuela mudasse "a perspectiva que a Petrobras tem em relação aos seus investimentos ".
Chávez prestigiando na Bolívia
Chávez chegou a La Paz às 22h30 (23h30 em Brasília), quando a temperatura se aproximava de zero grau. Mesmo assim, foi recebido com honras militares e aplausos de centenas de pessoas diante do palácio presidencial.
Nesta semana, o presidente venezuelano já esteve em Buenos Aires, Montevidéu e Quito, promovendo projetos de integração regional.
Na nova binacional, a YPFB terá 60% das ações. Inicialmente, a Venezuela vai entrar com o capital, enquanto a Bolívia cederá os direitos de prospecção e exploração, além dos estudos técnicos já feitos nas zonas escolhidas.
Desde que Morales assumiu o governo, há um ano e meio, seu governo vem recebendo forte ajuda da Venezuela, em ações como doações de tratores e assistência contra desastres naturais.
Na sexta-feira, Chávez e Morales presidem o lançamento de uma licitação para a construção de uma usina termoelétrica de 100 megawatts na região cocaleira do Chapare, berço político de Morales.
A obra marcará a "refundação" da Empresa Nacional de Eletricidade (Ende), que ocupava um papel marginal desde a privatização do setor, na década passada.
A Ende terá 60% de participação na recém-criada sociedade com o governo venezuelano.
Na manhã de sexta-feira, antes de irem ao Chapare, Chávez e Morales se encontram em Tarija (sul) com o colega argentino Néstor Kirchner. Eles assistem ao lançamento da licitação de uma fábrica extratora de líquidos, parte de um multimilionário projeto de ampliação das compras argentinas de gás boliviano.
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