Petrobras e Bolívia iniciaram nova queda de braço com relação ao suprimento de gás. Embora a estatal evite comentar o assunto, os bolivianos voltaram a pressionar por aumento no preço do combustível, pedindo a implementação de acordo fechado no ano passado entre os governos dos dois países. Além disso, querem uma redução nos volumes de exportação, para que possam destinar o gás que não vem sendo consumido pelo Brasil a outros clientes, como a Argentina ou indústrias locais.
As duas partes se reuniram na semana passada em Santa Cruz de la Sierra para iniciar as conversas. Segundo autoridades do setor energético boliviano, a revisão do contrato com o Brasil esteve na pauta. A Petrobras, por sua vez, diz que encontro tratou apenas de "temas de rotina". Uma fonte próxima às negociações, porém, conta que a Bolívia quer que a Petrobras cumpra a promessa, feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao país no mês passado, de pôr em prática acordo sobre os novos preços do gás.
O assunto está em suspenso desde fevereiro de 2007, quando Lula aceitou pleito de Evo Morales para que a estatal começasse a pagar pelas chamadas "frações nobres" do gás que importa da Bolívia - moléculas de etano, propano e butano, que poderiam ser separadas e vendidas a preços superiores. A conta adicional, segundo cálculos feitos na época, pode ser superior a US$ 100 milhões por ano. Até agora, porém, não houve acordo sobre uma fórmula para calcular o preço adicional.
A Bolívia quer agilizar esse processo e espera novo encontro com representantes da Petrobras nos próximos dias, informou esta semana o presidente da estatal local YPFB, Carlos Villegas. No fim de semana seguinte à reunião de Santa Cruz, a Petrobras reduziu as importações de gás boliviano para a casa dos 16 milhões de metros cúbicos por dia, o menor nível desde o fim de 2003. O volume representa quase a metade da capacidade do Gasoduto Bolívia-Brasil, de 31 milhões de metros cúbicos por dia.
O ato foi encarado por especialistas como um alerta aos bolivianos que o Brasil não sofre mais de dependência excessiva do gás do país vizinho - pelo contrário, o Brasil hoje tem um cenário de excedente de oferta e caminha para se tornar exportador na próxima década, a partir das reservas do pré-sal. A empresa nega que tenha agido com esse objetivo, mas disse que preferiu, durante o fim de semana, escoar cargas de gás natural liquefeito (GNL) compradas a preços mais baratos.