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Mercado financeiro

Bolsa começa a semana em alta e dólar cai. O que explica o ânimo dos investidores?

Bolsa de Valores de São Paulo (Foto: Nelson Almeida/AFP)

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Mesmo com a pandemia do novo coronavírus avançando pelo país, com 23.473 mortes por Covid-19 confirmadas no Brasil, o mercado financeiro começou a semana otimista.

Na segunda-feira (25), a Bolsa subiu 4,25%, atingindo os 85.663 pontos. O combo de boas notícias também teve queda significativa no câmbio: a média da cotação do dólar na segunda (25) ficou em R$ 5,48, segundo o Banco Central, R$ 0,10 abaixo da registrada na sexta (22).

Nesta terça (26), o mercado parece seguir a mesma tendência. A Bolsa começou o dia em alta, subindo 1,3% por volta de meio-dia, e o dólar já estava na casa de R$ 5,37.

Analistas do mercado financeiro veem no cenário político as explicações para o movimento positivo dos investidores. Ao longo da semana passada, a expectativa era pela divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, na qual o presidente Jair Bolsonaro teria, de acordo com o ex-ministro Sergio Moro, deixado claras suas intenções de interferir politicamente na Polícia Federal (PF).

O relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga uma possível interferência, ministro Celso de Mello, levantou o sigilo sobre as imagens no fim da tarde de sexta-feira (22), quando o pregão já havia acabado. Por isso, as consequências da divulgação do vídeo só foram sentidas no começo desta semana.

"Todo mundo estava esperando algo comprometedor, e no fim das contas não foi a bomba que estava sendo alardeada", explica o consultor de investimentos Gustavo de Andrade.

Contribuiu para essa percepção o fato de que alguns trechos do vídeo já haviam sido divulgados, em uma transcrição encaminhada pela Advocacia-Geral da União (AGU) ao STF. Assim, poucas novidades, de fato, vieram à tona com a liberação das imagens.

Fala de Paulo Guedes fez ações do Banco do Brasil dispararem

Se o fato de o vídeo não conter o que se esperava ajudou a animar o mercado, outro fator que provocou reações positivas entre os investidores foi uma fala proferida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o encontro. Junto aos colegas, Guedes defendeu a privatização do Banco do Brasil, no que foi apoiado pelo presidente da instituição, Rubem Novaes.

A divulgação das declarações resultou em aumento de 10,49% nas ações do BB. Nesta terça-feira (26), os papéis do banco apresentaram estabilidade durante a manhã.

Além da divulgação do vídeo, outra explicação para a valorização das ações é o peso que o mercado dá às opiniões de Guedes. O ministro e sua agenda de ajuste fiscal são "queridinhos" dos investidores. Pesquisa realizada pelo Bradesco BBI entre gestores de recursos no país comprova a percepção: 40,6% dos 101 entrevistados disseram considerar uma possível demissão do ministro como o maior risco para o Brasil. O temor é mais frequente, até, do que o receio por uma segunda onda de contágio pelo coronavírus (34,7%).

Aparente conciliação entre Bolsonaro e governadores minimizou percepção de risco

Outro fator político que parece ter contribuído para o bom humor dos investidores foi a aparente aproximação entre Bolsonaro e governadores no combate ao coronavírus. Na quinta-feira (21), o presidente fez uma reunião virtual com os chefes de Executivo estaduais, para tratar do projeto de socorro a estados e municípios durante a pandemia. O acordo foi pelo veto do trecho que abriu exceções no congelamento de salário de servidores.

"Isso proporcionou uma reversão no risco-Brasil, que é uma variável muito relevante. Com a melhora no cenário político doméstico, a sensação dos investidores é de que 'pior que está, não fica'. Então o apetite ao risco fica maior", explica Vitor Vidal, economista da XP Investimentos.

Cenário internacional parece estar mais favorável

Mais um aspecto que contribuiu para diminuir o pânico dos investidores é a melhora do cenário em outros países. Na semana passada, por exemplo, o laboratório Moderna anunciou resultados positivos no processo de produção de uma vacina contra o novo coronavírus. Ao mesmo tempo, países da Europa anunciam a retomada gradual das atividades e do turismo.

"Qualquer coisa positiva nesse cenário que estamos vivendo já dá algum ânimo para o mercado", afirma Andrade.

Bons resultados da Bolsa vieram para ficar?

Os movimentos da Bolsa e do dólar não são fáceis de prever, já que ambos são sensíveis a acontecimentos alheios à economia, especialmente na política. A percepção dos analistas é que, ao menos durante esta semana, os resultados positivos permaneçam.

"Ainda é cedo para comentar, mas essa semana tende a ser boa. No fim da semana tem a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. Se a queda for menor do que o mercado espera, pode dar mais um ânimo", afirma o economista da XP.

Para quem investe na Bolsa, a orientação é ter atenção a possíveis movimentos bruscos das cotações, especialmente se houver novos episódios de crise política. "O mercado está muito volátil. Só daqui a alguns meses, quando soubermos o tamanho da crise, poderemos ter alguma certeza", avalia Andrade.

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