A persistente aversão ao risco nos mercados emergentes, reforçada hoje por dados ruins da economia chinesa, levaram o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, a fechar em queda de 3,13%, a 46.147 pontos. Foi a maior desvalorização diária do índice desde 2 de julho de 2013, quando perdeu 4,24%. Além disso, o Ibovespa também atingiu sua menor pontuação desde 12 de julho do ano passado, quando ficou em 45.533 pontos.
A fuga do risco pelos investidores inflou a demanda por aplicações consideradas mais seguras, como o dólar, que fechou o primeiro dia de negócios de fevereiro em alta. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 0,74% sobre o real, para R$ 2,433 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,03%, a R$ 2,437.
Entre as 24 moedas emergentes mais negociadas, apenas sete tiveram ligeira valorização em relação ao dólar. As demais, cederam. "A cautela dos investidores em relação aos emergentes, que derrubou os mercados em janeiro, persiste em fevereiro", diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora. "Apesar disso, não há novidade. Já era sabido que os emergentes sofreriam com a retirada do estímulo nos EUA, o que reduz o volume de recursos disponível para investimento nesses mercados", acrescenta.]
Segundo o analista, o desaquecimento chinês pesa mais sobre o Brasil, uma vez que a China é nosso principal parceiro comercial. "A economia chinesa é uma grande compradora de matérias-primas. A preocupação é que a demanda pelos nossos produtos seja menor", completa.
Nesta segunda foi divulgado que o crescimento do setor de serviços da China desacelerou para uma mínima de cinco anos em janeiro, segundo a pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) oficial do país.
Queda Exagerada
Na avaliação de especialistas consultados pela Folha de S.Paulo, a queda da Bolsa brasileira em 2014, de 10,41% é exagerada. No ano passado, o Ibovespa teve desvalorização de 15,5%. "Temos que considerar que boa parte da retirada do estímulo americano, que originou a desconfiança com os emergentes, já está sendo considerada nos preços dos papéis, o que reduz a probabilidade de perdas mais expressivas", diz Julio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho.
"Além disso, em comparação com os demais emergentes, estamos com um cenário mais positivo. Começamos a subir os juros antes, em meados do ano passado, e nossas reservas internacionais são bem maiores", completa Hegedus.
O analista da consultoria Leme Investimentos João Pedro Brügger concorda que a queda da Bolsa brasileira em 2014 está exagerada, mas diz que o quadro não deve mudar no curto prazo. "A pressão externa ainda deve durar até, pelo menos, a segunda metade do ano. Aqui no Brasil, ainda temos um agravante: a deterioração da economia. Temos juros em alta, inflação ainda elevada, crescimento fraco e contas públicas em péssima situação, sem perspectiva de melhora por ser um ano eleitoral (que demanda maiores gastos públicos)", afirma.
Segundo ele, a Bolsa brasileira está ficando mais barata em dólar, o que pode gerar uma retomada pontual do Ibovespa nos próximos dias. "Os investidores podem aproveitar algumas barganhas, pois muitas ações têm ficado baratas diante do recente clima de aversão ao risco instaurado no mercado", completa.
Nesta segunda, o relatório Focus, do Banco Central, mostrou um aumento na expectativa do mercado para a Selic (juro básico) em 2015. A estimativa passou de de 11,50% ao ano para 11,88% ao ano. Os investidores avaliaram ainda a notícia de que o Brasil voltou a apresentar deficit comercial bilionário no início do ano.
Nos EUA, as principais Bolsas do país caíam mais de 1% após dados indicarem que o setor industrial da maior economia do mundo cresceu em seu menor ritmo em oito meses em janeiro. Os mercados americanos fecham por volta de 19h (de Brasília).