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Guerra do petróleo

Bolsa desaba 12% – a maior queda em 22 anos; dólar fecha em R$ 4,72

Painel da Bolsa de Valores de São Paulo.
(Foto: Nelson Almeida/AFP)

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A Bolsa brasileira fechou em queda de 12,17% nesta segunda-feira (9), aos 86.067,20 pontos, e o dólar alcançou 4,7243, com alta de 1,95%, em dia de caos nos mercados financeiros globais por causa da crise do petróleo e o avanço do coronavírus. Foi a maior queda diária, em porcentual, do Ibovespa desde 10 de setembro de 1998, em meio à crise global.

A B3 teve de acionar o circuit breaker de manhã, suspendendo os negócios por pouco mais de meia hora, depois de o Ibovespa ter caído mais de 10%. O mecanismo permite, na ocorrência de movimentos bruscos de mercado, o amortecimento das ordens de compra e de venda. Foi a 18ª vez em que o circuit breaker foi acionado desde sua adoção em 1997. A última ocasião foi em 18 de maio de 2017, por causa da Delação da JBS.

Os negócios na B3 foram retomados às 11h08. Depois de uma melhora pontual, o índice voltou a acelerar o ritmo de queda, acompanhando o mercado internacional e fechando em 12,17%. Os preços das ações estão sendo afetados fortemente pela queda no preço do petróleo no mercado internacional – a maior em um único dia desde a Guerra do Golfo, em 1991.

Na hora em que a Bolsa entrou no circuit breaker, a Petrobras ON cedia 24,61% e Petrobras PN, 23,96%. A mineradora Vale recuava 10,78%.  o fim do dia, a petroleira perdeu R$ 91,2 bilhões em valor de mercado, com queda de 29,68% nas ações ON e de 29,70% nas PN, nos maiores recuos diários desde 1990.

A queda nas bolsas de todo o mundo causou uma corrida de investidores por aplicações consideradas mais seguras. Os preços do ouro atingiram seus níveis mais altos em oito anos nesta segunda. No entanto, após ultrapassar brevemente o nível de US$ 1.700, o preço do metal amarelo para maio recuou, fechando em US$ 1.675,70 por onça troy, alta de 0,2%.

Novo recorde do dólar

O dólar começou a semana batendo mais um recorde nominal – descontando a inflação – desde o Plano Real, atingindo a casa de R$ 4,79, na manhã desta segunda. Para tentar conter a disparada do dólar, o Banco Central vendeu US$ 3 bilhões à vista das reservas internacionais ainda de manhã. À tarde, o BC vendeu mais US$ 465 milhões em novo leilão de dólares à vista.

Mesmo assim, a divisa americana fechou com valorização, seguindo a tendência do dólar no exterior. A moeda americana terminou o dia cotada a R$ 4,72, depois de ter atingido a máxima de R$ 4,79.

Dia de caos nas bolsas do mundo

O dia foi marcado por quedas em Bolsas de todo o mundo. Na Ásia, as Bolsas da China, seguindo o mau humor generalizado dos mercados financeiros, fecharam em queda. O principal índice acionário do país, o Xangai Composite, teve recuo de 3,01%.

Na Europa, as Bolsas registraram quedas expressivas. O índice pan-europeu Stoxx 600 fechou em queda de 7,44%. Pesou nesse resultado, além da crise do petróleo, o avanço das mortes por coronavírus, em meio à dificuldade dos países europeus em conter a propagação da doença.

Em Londres, o índice FTSE 100 fechou em baixa de 7,69%, com forte impacto das quedas de mineradoras. O DAX de Frankfurt caiu 7,94%, pressionado pelas ações de bancos. Em Paris, o índice CAC 40 teve desvalorização de 8,39% e, em Milão, o FTSE MIB registrou baixa de 11,17%.

Os motivos para o pânico do mercado financeiro

O dia de caos teve como estopim a guerra nos preços do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia. Os sauditas e a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) desejavam segurar a desvalorização do barril, que vinha com preços em queda por conta da desaceleração da economia mundial. Os russos, entretanto, não concordaram com o acerto – o que fez o governo saudita iniciar uma retaliação, com a desvalorização artificial no valor do óleo.

"É um acontecimento que tem baixíssima capacidade de previsão. São produtores trabalhando deliberadamente na direção de destruir a cotação de seus próprios produtos. Isso muda o contexto internacional muito mais do que a própria epidemia do coronavírus", opina Adeodato Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial.

Para ele, se o impasse continuar, o preço do petróleo pode seguir despencando. "Não há limite para a oscilação de preços de commodities em momento de choque de expectativa. O típico dessa classe é de que o preço só se normalize quando houver algum tipo de condição para o novo equilíbrio", afirma Netto.

Coronavírus e guerra comercial já davam instabilidade ao mercado

O impasse entre sauditas e russos foi apenas o último ingrediente para que o caos se instalasse no mercado financeiro mundial. "O cenário é de tempestade perfeita. Tivemos uma instabilidade muito grande há alguns meses por conta da guerra comercial entre EUA e China, além da diminuição das perspectivas de crescimento por causa do coronavírus", relembra Wagner Parente, CEO da consultoria BMJ.

Ele aponta que, em momentos de tanta incerteza, o movimento natural é de fuga dos ativos considerados mais voláteis, que incluem aqueles associados a países emergentes, como o Brasil. Nesses casos, os investidores procuram ativos considerados mais seguros – como títulos do tesouro americano e a própria moeda dos EUA.

Na opinião de Parente, as próximas horas devem ser de mais estabilidade, mesmo que em um patamar baixo. Ele não descarta, porém, que a bolsa tenha que fazer outro (ou mais de um) "circuit breaker", para diminuir a volatilidade dos ativos.

O caos continua nos próximos dias?

Os analistas apontam que os próximos movimentos do mercado financeiro são imprevisíveis, já que dependem de um acordo que cesse a guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia.

Adeodato Netto afirma que, por trás do conflito, está, na realidade, uma disputa entre EUA e Rússia pelo mercado de energia. "A Arábia Saudita é um grande aliado dos EUA. Vai ser importante monitorar como será o posicionamento dos principais países do mundo", diz.

"Só Deus sabe como serão os próximos dias", concorda o CEO da BMJ.

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