Os reflexos da crise internacional na economia real, surgindo aos poucos por meio de balanços de empresas e de indicadores sobre a atividade econômica, afetaram as bolsas de valores em todo o mundo ontem. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foi forçada, pela terceira vez no mês, a interromper o pregão por meia hora após o seu principal índice, o Ibovespa, despencar 10% (o mecanismo do circuit breaker suspende os negócios quando a queda chega a este patamar). Por pouco não houve nova interrupção a queda no Ibovespa chegou a 14,81% a menos de 40 minutos do fim do pregão. No final do dia, a bolsa paulista perdeu 11,39%, aos 36.833,02 pontos, na maior retração porcentual em 10 anos no dia 10 de setembro de 1998, caiu 15,8%.
"Não há boas notícias para a bolsa no Brasil", disse o estrategista-chefe para América Latina do Barclays em Nova Iorque, Paulo Hermanny. De acordo com ele, apesar da correção de baixa muito forte pela qual as ações brasileiras passaram, há um cenário de recessão nos Estados Unidos e no mundo, previsão de menor crescimento no Brasil, de commodities com preços mais baixos.
Na Bolsa de Nova Iorque, o índice Dow Jones caiu 7,87% a maior queda porcentual desde outubro de 1987; o S&P-500 recuou 9,03% e o Nasdaq Composite cedeu 8,47%.
Com os investidores reduzindo suas posições em ações e commodities, cujos preços também desabaram pelo mundo todo diante da perspectiva de diminuição da demanda por matérias-primas, a moeda americana se valorizou em relação ao real e outras moedas de países da América Latina.
O mercado de câmbio teve ontem mais um dia turbulento, em que a taxa oscilou entre a cotação máxima de R$ 2,200 e a mínima de R$ 2,082. Após uma ação agressiva do Banco Central, que interferiu por três vezes, a moeda americana terminou o dia a R$ 2,166 para venda, com avanço de 3,48%.
O pessimismo do mercado foi realimentado por novos indicadores negativos dos EUA. As vendas no varejo norte-americano caíram 1,2% em setembro em relação a agosto, registrando a terceira queda consecutiva e o maior declínio desde agosto de 2005. O núcleo do índice de inflação ao produtor (PPI) nos EUA, que exclui alimentos e energia, também veio pior do que o esperado: subiu 0,4% em setembro em comparação com agosto, acima da previsão média de analistas, de alta de 0,2%.
Para completar, o "livro bege" do Fed ajudou ainda a amparar o mal-estar geral ao relatar que os problemas nos mercados financeiros globais se intensificaram em setembro e a atividade econômica sofreu um enfraquecimento em todos os 12 distritos do Federal Reserve. Segundo o "livro bege", todas as regiões do país se tornaram mais pessimistas quanto à perspectiva da economia; a maioria dos distritos relatou desaceleração na atividade industrial e redução dos gastos dos consumidores.
Em discurso no Economic Club of New York, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, apontou diferenças entre a crise atual e a Depressão de 1929 e não trouxe alívio aos negócios. Bernanke disse que uma repetição da experiência da Grande Depressão é improvável em virtude de diferenças fundamentais em como os formuladores da política responderam aos problema naquela ocasião e agora.
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