O mercado brasileiro continua influenciado pelo cenário externo e repete nesta sexta-feira o comportamento observado na quinta. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) passou a manhã inteira em baixa e, às 13h16m, recuava 1,72%, para 40.143 pontos. O dólar comercial segue em sentido inverso e, no mesmo horário, tinha alta de 1,71%, a R$ 2,1370 na compra 2,139 na venda.
Segundo o analista Gustavo Barbeito, da corretora Prosper, a queda da Bolsa e alta do dólar estão inteiramente ligados à conjuntura internacional, sem qualquer influência de fatores internos. A maior preocupação é com a possibilidade de novos aumentos na taxa de juros dos Estados Unidos, que na quarta-feira passou de 4,75% para 5%. Além da sinalização imprecisa do Federal Reserve (o banco central americano), os temores estão sendo alimentados pela disparada de "commodities" como cobre, zinco, ouro e petróleo.
- A alta das "commodities" aumenta os riscos de pressões inflacionárias e, com isso, reforça as perspectivas de novas elevações nas taxas de juros - comentou Barbeito.
De acordo com o analista, a tendência de alta das "commodities" foi reforçada com a decisão da China de aumentar suas reservas de metais, estreitando ainda mais a diferença entre oferta e demanda desses produtos. A perspectiva de aumento de preços é um estímulo para muitos investidores saírem da bolsa (especialmente de países emergentes) e aumentarem suas aplicações em "commodities". Além disso, algumas aplicações, como o ouro, costumam ser mais procuradas em momentos de incerteza, já que oferecem segurança maior do que outros ativos.
- O mercado financeiro está assistindo a uma realocação de ativos - afirmou Barbeito.
Na Bolsa, diz ele, as vendas são lideradas por investidores estrangeiros, especialmente fundos globais, que hesitam menos em realocar suas aplicações. Em momentos como este, explica, papéis com mais liquidez são os que mais sofrem, como Petrobras e Vale do Rio Doce. Às 13h16m, as ações preferenciais da Petrobras caíam 1,18% e as da Vale recuavam 2,13%. Segundo Barbeito, a nacionalização dos ativos de petróleo e gás na Bolívia e o endurecimento do presidente do país, Evo Morales, com a Petrobras e o Brasil não estão afetando os papéis da estatal.
- A Bolívia é estratégica para o Brasil e muito importante para empresas como a Comgas ou fabricantes de cerâmica, que usam muito o gás daquele país. Mas, para a Petrobras, a importância é pequena. Os ativos na Bolívia representam apenas 1% do valor de mercado da empresa - comentou.