Bolsas “derreteram” mundo afora nesta segunda (5), começando pelo Japão. No Brasil, Ibovespa chegou a cair 2,2% e dólar disparou no início da manhã.| Foto: Engin Akyurt/Unsplash
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A forte queda observada nesta segunda-feira (5) em índices de ações de todo o mundo reflete um temor por parte de investidores de uma recessão econômica nos Estados Unidos, onde o Federal Reserve (Fed) pode ser obrigado a flexibilizar sua política monetária, cortando de forma emergencial a taxa básica de juros. 

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No Brasil, o Ibovespa, principal índice da bolsa de valores de São Paulo, chegou a cair 2,2% no início do pregão, mas por volta do meio-dia, registrava baixa de 1,18%. No longo prazo, analistas do mercado veem com incerteza as possíveis consequências do cenário, mas alertam para a possibilidade de desvalorização ainda maior do real ante o dólar.

O mau humor do mercado decorre, em parte, da divulgação, na sexta-feira (3), de dados do emprego nos Estados Unidos logo após a decisão do Fed, o banco central norte-americano, de manter a taxa de juros entre 5,25% e 5,5% ao ano, maior patamar desde julho de 2023. 

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O anúncio de que foram abertas 114 mil novas vagas de trabalho no mês de julho frustrou investidores, que esperavam um número próximo de 185 mil. A diferença foi interpretada inicialmente por alguns analistas como um sinal para o início de um ciclo de corte nos juros a partir da próxima reunião regular do Fed, nos dias 14 e 15 de setembro. 

Mas os mesmos números sugerem também uma desaceleração da economia norte-americana, sugerindo que o Fed pode ter postergado demais a redução da taxa básica de juros. A aversão a risco se espalhou pelos mercados nesta segunda-feira, derrubando preços de ações de empresas de todo o mundo. 

Forte queda de bolsas começou no Japão e se espalhou pelo mundo

O índice Nikkei 225, da Bolsa de Valores de Tóquio, encerrou o pregão com uma queda de 12,4%, recorde de baixa. O índice Topix, mais amplo, caiu 12,23%. Os resultados japoneses são influenciados pela decisão do banco central local, na semana passada, de elevar suas taxas de juros pela segunda vez em 17 anos, da faixa entre 0% a 0,1% para 0,25%. 

A volatilidade da bolsa japonesa se espalhou para outros mercados. Na Coreia do Sul, o índice Kospi fechou em queda de 8,77%. O Taiex, que reúne ações de Taiwan, despencou 8,35%, enquanto o STI, da Bolsa de Singapura, se desvalorizou 4,07%. Na China, o CSI 1000, que acompanha as mil maiores empresas da Bolsa de Xangai, se retraiu 2,73%. 

“Parece ser um conjunto de fatores, e não apenas o relatório de mercado de trabalho, que está influenciando a situação”, diz Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. Ele ressalta que os números de empregabilidade dos Estados Unidos não trouxeram grandes novidades na sexta-feira. 

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“O relatório aponta um aumento na taxa de desemprego, mas, ainda assim, 4,3% é uma taxa relativamente baixa. A maioria dos grupos de trabalhadores ainda está com taxas abaixo de 4%, exceto os menos escolarizados, com 6,7%, e aqueles que completaram o ensino médio, com 4,6%. Os salários também pararam de crescer rapidamente, o que sugere possíveis cortes de juros no futuro”, diz. 

Para ele, outros fatores que podem ter influência nos mercados financeiros incluem balanços recentes de empresas dos Estados Unidos e da Europa, considerados decepcionantes. “Especialmente nos setores automobilístico e financeiro na Europa e no setor de tecnologia nos Estados Unidos”, destaca. 

Fora isso, o ex-presidente norte-americano Donald Trump, que disputará a corrida à Casa Branca pelo Partido Republicano, tem se posicionado contra a liberdade de transações de empresas de tecnologia pelo mundo, o que também influencia o mercado globalmente. 

Nos Estados Unidos, o índice Dow Jones recuava 1,71% na abertura. O S&P 500 abriu em baixa de 3,66%, enquanto o Nasdaq Composite, ponderada fortemente por empresas do setor de tecnologia da informação, afundava 6,34%. 

O estrategista-chefe da corretora Avenue, William Castro Alves, também vê como difusas as causas para a reação negativa dos investidores nesta segunda. “É sempre muito difícil justificar e entender movimentos de pânico no mercado”, diz. “Tais movimentos muitas vezes não possuem necessariamente um forte condicionante nos fundamentos econômicos”, afirma. 

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Para além de uma possível desaceleração da economia norte-americana e da elevação das taxas de juros no Japão, que devem fortalecer o iene e prejudicar as empresas exportadoras do país, o economista cita outros fatores que influenciam o cenário econômico global, como o risco de escalada nas tensões geopolíticas no Oriente Médio. 

Na semana passada, o líder do grupo terrorista Hamas, Ismail Haniyeh, foi morto no Irã, horas depois do comandante do também terrorista Hezbollah, Fuad Shukr, ter sido executado no Líbano.

Nos Estados Unidos, a realização de lucros de companhias do setor de tecnologia também contribui para um movimento de venda de ações e, consequentemente, de depreciação dos papéis. 

Além disso, cita Alves, a notícia de que o investidor Warren Buffet reduziu sua exposição a algumas de suas principais posições acabou elevando a percepção de que a atual relação risco versus retorno do mercado não estaria tão favorável. 

“Vemos a reação do mercado como exagerada e repercutindo um receio de uma forte e/ou grave recessão à frente, a qual vemos como altamente incerta”, diz o estrategista da Avenue. “Vale a ressalva que a economia americana já enfrentou 48 recessões em sua história, e que, a despeito dos momentos difíceis, o dólar continuou sendo a principal moeda de reserva de valor global.”

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Para ele, no curto prazo, com a queda no valor das ações paralelamente a uma redução nos juros, há uma tendência a um aumento de ativos na renda fixa, o que pode valorizar a moeda norte-americana frente ao real.

Nesta segunda, por volta de meio-dia, o dólar estava cotado a R$ 5,78, alta de 1,22% em relação ao fechamento de sexta-feira (R$ 5,71).

Alex Carvalho, analista da CM Capital, lembra que, apesar do comportamento dos investidores refletir o mau humor global, no Brasil as empresas estão em temporada de balanços, o que nos próximos dias pode resultar em valorização das ações.