Ao comentar sobre a crise nos Correios - que já fala em risco de insolvência - o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que o governo Lula tenta alterar o passado para jogar a culpa dos problemas da estatal sobre o governo anterior.
De acordo com documento interno tornado público no início deste mês, após amargar o terceiro ano seguido de prejuízos, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) passou a adotar “medidas urgentes” de economia de gastos para evitar a “insolvência” da estatal.
Segundo o documento, a tributação de 20% sobre as compras estrangeiras até US$ 50, que ficou conhecida como “taxa das blusinhas”, foi responsável por derrubar a receita da empresa em R$ 1 bilhão, em 2024.
A empresa também atribui a frustação com as receitas em 2024 ao “sucateamento” e “prejuízo de quase R$ 1 bilhão deixado pelo governo anterior”.
Além disso, a estatal disse que “a média de investimento anual entre 2019 e 2021 ficou em R$ 345 milhões, aquém das necessidades para assegurar a sustentabilidade do negócio”.
“Os Correios começaram a dar lucro no governo Temer, pouco mas deu. Depois, foi lá pra cima o lucro. Agora, você pega o balanço oficial que mostra que lá atrás, no governo Dilma, tinha um passivo trabalhista. O governo Temer não reconheceu esse passivo, no nosso governo também não reconhecemos. Agora, em 2024, o governo Lula reconheceu independente do deslinde da decisão judicial e pagou, aproximadamente, R$ 1 bilhão para os advogados que defendiam os servidores dos Correios”, disse Bolsonaro em entrevista concedida ao canal Auriverde Brasil, nesta terça-feira (10).
“Pegaram esse balanço negativo de R$ 1 bilhão e botaram na minha conta. Então, nos quatro anos em que os Correios foram superavitários comigo, passou a ser deficitário no último ano porque no Brasil até o passado é incerto”, completou o ex-presidente.
Estatal corre risco de despejo
Além do rombo financeiro, os Correios correm risco de despejo em 200 imóveis alugados pela estatal por falta de pagamento.
São 122 imóveis com ações em andamento que podem ser executadas desde 30 de novembro. Há outros 127 contratos com prazo a vencer até o fim do ano.
Entre os imóveis em risco, há 206 agências dos Correios, 34 centros de distribuição domiciliar, 3 centros de tratamento de cartas e encomendas e 1 centro de encomendas.
Teto de gastos
Notificada, a estatal decretou em outubro um teto de gastos para o ano de R$ 21,96 bilhões e determinou que renovações de contratos só poderiam ser feitas a partir da economia gerada na negociação de outros imóveis.
Com base nesse limite de gastos, a estatal determinou as seguintes ações:
- suspensão temporária das contratações (mínimo 120 dias);
- negociação do valor global dos contratos vigentes com redução no mínimo em 10% dos valores bloqueados em 2024 e 2025 e;
- realização das prorrogações de vigências de contratuais a partir de outubro, somente com utilização de recursos oriundos da economia realizada no item anterior.
Gestão atual
O atual presidente dos Correios é o advogado Fabiano Silva dos Santos, que foi indicado ao cargo pelo grupo Prerrogativas no início do governo do presidente Lula (PT).
Fabiano também é conhecido como “churrasqueiro de Lula” por sua proximidade com o petista e tem relação de amizade com o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR), filho do ex-ministro José Dirceu.
Desde que tomou posse, Fabiano enfrenta pressão para apresentar soluções estruturais, mas suas decisões têm gerado o efeito contrário com impacto negativo no orçamento da empresa.
De janeiro a setembro de 2024, a estatal acumulou um prejuízo de R$ 2 bilhões, o maior já registrado para o período desde a sua fundação.
Caso o ritmo do prejuízo se mantenha até o fim do ano, a previsão é de que o déficit supere os R$ 2,1 bilhões registrados em 2015, durante o governo Dilma Rousseff (PT).
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