A Bosch avalia transferir para a Índia a produção de uma bomba injetora que hoje é fabricada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). A empresa afirma que a decisão ainda não está tomada, mas admite que os custos de produção no Brasil – e, em especial, no Paraná – aumentaram muito nos últimos anos e sofrem forte concorrência de países como a própria Índia.
O produto em questão é a bomba injetora VE, usada em tratores e colheitadeiras, que responde por 15% da produção total da Bosch em Curitiba. A maior parte do que é produzido aqui vai para países da Europa e da Ásia, onde está concentrada a demanda.
Alta do dólar compensa queda das exportações
As exportações da Bosch estão em queda pelo quarto ano consecutivo. De janeiro a outubro, a unidade paranaense da multinacional exportou US$ 114 milhões, 16% menos que no mesmo período do ano passado, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
No entanto, as receitas da empresa em moeda brasileira provavelmente aumentaram, em razão da disparada do dólar. Em uma simulação que considera a cotação média da moeda norte-americana nos dez primeiros meses de 2014 (R$ 2,31) e 2015 (R$ 3,23), o faturamento da Bosch em reais aumentou 17% neste ano.
A empresa atribui às exportações a manutenção de seu quadro de pessoal. Embora o diretor do SMC Edson Antônio dos Anjos diga que o número de funcionários da fábrica da CIC baixou de 2,8 mil para 2,6 mil desde o início do ano, a Bosch afirma que seu turnover (rotatividade) “está dentro do normal, visto que a empresa conseguiu minimizar os efeitos da atual crise de demanda nacional por meio das exportações, além da gestão de férias individuais, redução de horas extras e movimentação interna de pessoal”.
Antes localizada em Campinas (SP), a produção da bomba VE foi deslocada para Curitiba em 1998, segundo Edson Antônio dos Anjos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC). “Mas nos últimos anos a produção diminuiu bastante, e o número de trabalhadores dessa linha, também”, diz.
Funcionários da unidade paranaense contam já estar tratando da transferência com colegas indianos. Uma das dificuldades nesse processo é o fuso horário – a diferença entre os dois países é de sete horas. Segundo o diretor do SMC, a transferência deve ser concluída até o primeiro trimestre de 2016.
A eventual transferência se encaixa na nova estratégia global da Bosch, de abastecer seus mercados consumidores com produção local. Em meados de 2014, por exemplo, a fábrica de Curitiba passou a produzir injeções eletrônicas a diesel, componentes que antes eram feitos nos Estados Unidos e exportados para o Brasil.
“A transferência de um produto de uma unidade para outra, seja dentro ou fora do Brasil, depende, entre outros fatores, da competitividade da atual unidade fabril e da demanda local. A Bomba Injetora VE é um produto com demanda localizada na Ásia e na Europa, e a competitividade para produção no Brasil sofre forte concorrência com países como a Índia”, disse, em nota, o gerente de recursos humanos da Bosch Curitiba, Duilo Damaso.
Demissões
Caso deixe de produzir a bomba VE, a unidade da CIC provavelmente demitirá funcionários, a não ser que conquiste outro produto nas concorrências internas promovidas pela Bosch. O problema é que produzir no Brasil ficou muito caro. No Paraná, mais caro ainda.
“Esta decisão [transferência da produção] ainda não está tomada. Mas, caso ocorra, adequar a nossa competitividade será de fundamental importância para atrair outro produto para esta unidade fabril, se quisermos manter o nível de ocupação”, afirmou Damaso. “Mas é fato que os custos de produção no Brasil, e em especial no Paraná, sofreram acréscimos nos últimos anos muito acima do resto do mundo.”
Portas fechadas
A perda de competitividade foi um dos motivos que levou a Bosch a encerrar as atividades de sua subsidiária Metapar, também instalada em Curitiba, que fabricava peças usinadas para bombas injetoras a diesel. Com o fechamento da empresa, em setembro, 145 funcionários foram demitidos.
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