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Às vésperas de uma nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que deve definir uma nova alta na Selic, taxa básica de juros, o PT e aliados do governo voltaram à carga nos ataques ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
Dessa vez, a crítica se deu pela não intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio para conter a escalada da moeda, que bateu o recorde de R$ 6,11 no dia mais crítico, em novembro. O deputado Guilherme Boulos (Psol-SP) processou Campos Neto por negligência do BC no combate ao dólar alto, alegando conflito de interesse na atuação.
“Quem tem instrumentos cambiais para atuar sobre a alta do dólar é, também, o Roberto Campos Neto, presidente do BC. Agora, o que acontece se o presidente do Banco Central tem ganhos pessoais quando o dólar sobe e quando o juro cresce? O nome disso é conflito de interesse”, disse Boulos em vídeo publicado nesta semana nas redes sociais.
O deputado afirmou ter pesquisado o patrimônio de Campos Neto e concluído que parte dos investimentos estão atrelados à taxa básica, a Selic. Outra parte está indexada ao dólar. Com isso,Boulos e outros aliados do PT tem acusado Campos Neto de manter os juros e o dólar altos para conseguir mais ganho com as aplicações financeiras.
“Quando o dólar sobe, o patrimônio do Roberto Campos Neto também aumenta. Isso sem falar no conflito de interesses político, que é mais óbvio. Além de ter sido indicado por Bolsonaro, ele tem relações orgânicas, estreitas com o bolsonarismo”, declarou Boulos.
BC intervém em câmbio desfuncional
O BC, no entanto, só pode vender recursos da reserva internacional para segurar a cotação da moeda americana em ocasiões que um estudo técnico avalize que o mercado de câmbio está disfuncional, como aconteceu na pandemia de Covid-19. As regras definidas pelo governo para o BC agir não estabelecem uma meta de dólar ou limite para a desvalorização do real, e seguem o regime de câmbio “flutuante”.
A disparada da cotação do dólar tem sido registrada nas últimas semanas devido à desconfiança do mercado financeiro das medidas de ajuste fiscal promovidas pelo governo. O pacote de corte degastos anunciado no final de novembro foi considerado insuficiente e enfrenta resistência para aprovação no Congresso.
Além disso, a decisão não depende só de Campos Neto, mas do colegiado, inclusive do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado ao cargo após trabalhar como secretário-executivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Galípolo vai assumir a presidência do BC a partir de janeiro, com o final do mandato de Campos Neto. Embora tenha sido indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o definiu como “menino de ouro”, enfrenta desconfianças de aliados do governo por votações alinhadas a RCN nas decisões sobre juros.