Apesar de ter fechado em alta esta sexta-feira (29), o principal índice da Bovespa não conseguiu apagar as perdas acumuladas em novembro e pôs fim a uma série de quatro meses de ganhos, com especialistas prevendo um cenário incerto para dezembro. O Ibovespa fechou a última sessão do mês com avanço de 1,23%, a 52.482 pontos. O giro financeiro do pregão foi de R$ 5,4 bilhões. No mês, o índice acumulou queda de 3,27.
Embora os índices norte-americanos Dow Jones e S&P 500 tenham quebrado repetidamente novos recordes neste mês, o Ibovespa não pegou carona no movimento externo e ampliou a queda em 2013 para 13,9%. "Em que pese o mercado norte-americano ter subido bem, buscando novos recordes, não temos conseguido produzir fatos internos que aproveitem esse movimento", afirmou o especialista em renda variável Rogério Oliveira, da Icap Brasil.
Para ele, se a bolsa paulista melhorar em dezembro, deve ser dentro da ótica de que caiu muito, podendo chegar aos 53.200 pontos e não perdendo o suporte dos 51.200 pontos.
Em novembro, atingiram a Bovespa renovadas preocupações com a deterioração do cenário fiscal brasileiro e temores de um eventual rebaixamento da nota de crédito soberano. Tais fatores mantiveram negativo o sentimento quanto ao desempenho da economia doméstica. "O superávit primário de outubro veio abaixo do esperado, a inflação segue resiliente e estamos trabalhando com um cenário de taxas de juros mais altas", afirmou o analista Marcelo Torto, da Ativa Corretora.
Segundo ele, as falas divergentes de integrantes do banco central norte-americano sobre o futuro de seu programa de estímulos monetários, que tem sustentado os fluxos de liquidez para mercados emergentes, também trouxeram volatilidade à bolsa brasileira.
Além do cenário macroeconômico, papéis de grande peso no Ibovespa como os do setor financeiro contribuíram para acentuar o movimento de queda. Nesta semana, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou julgamento sobre a correção das cadernetas de poupança por prejuízos com planos econômicos das décadas dos anos 1980 e 1990.
O desfecho do julgamento ficará para o ano que vem, mas a possibilidade de que uma decisão favorável a poupadores traga um impacto financeiro enorme para os bancos causa desconforto entre investidores. Por sua vez, a preferencial da Petrobras recuou 6,4 por cento no mês, embora tenha subido 2,47 por cento nesta sexta-feira.
A estatal sofreu em meio à incerteza sobre a aprovação de um metodologia de precificação de combustíveis, cuja defasagem no mercado interno tem prejudicado o caixa da companhia.
Na opinião do estrategista-chefe do Crédit Agricole, Vladimir Caramaschi, a aprovação de um reajuste dos combustíveis seria uma boa notícia, mas resolveria apenas um dos problemas na mira de investidores. "A bolsa não sai da banda atual há algum tempo, e, se houver algo que rompa muito forte esse canal, deve ser para baixo. Há a chance de ocorrer uma correção nos mercados lá fora em algum momento no curto prazo, o que pesaria aqui", disse.
Dezembro também será marcado por ajustes à nova carteira teórica do Ibovespa, depois de a BM&FBovespa ter anunciado a primeira mudança na metodologia do índice em 45 anos. A primeira prévia da próxima carteira, que vai vigorar de janeiro a abril de 2014, será divulgada na segunda-feira.