A Bovespa está a caminho de registrar seu pior semestre desde o auge da crise global em 2008, com agentes citando preocupações com a economia brasileira como motivo para o clima de maior pessimismo entre investidores, além de incertezas sobre o futuro dos programas de estímulo monetário no exterior. O Ibovespa acumula queda de 18,3% no ano até 11 de junho, no pior desempenho dentre os principais índices acionários globais. No mesmo período, o referencial norte-americano S&P 500 subiu 14 por cento e o índice de ações europeias FTSEurofirst 300 acumulou alta de 4 por cento.

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A menos que consiga engatar uma recuperação até o fim do mês, o Ibovespa deve registrar sua pior baixa semestral desde a segunda metade de 2008, quando os efeitos da crise financeira global levaram o índice que reúne as principais ações brasileiras a afundar 42,25 por cento. "A situação da Bovespa está um pouco crítica", disse o diretor da Mirae Asset Securities Pablo Spyer, citando preocupações, no front interno, com o crescimento da economia abaixo do previsto, inflação e juros em alta, além da recente desvalorização do real ante o dólar. "Acho que a situação tende a piorar antes de melhorar."

A percepção de que o ambiente de negócios deve ser mais difícil daqui para frente tem se traduzido num movimento de revisões para baixo das projeções para o Ibovespa no fim de 2013, como fizeram recentemente analistas da Ágora Corretora e do Citi. "O viés para o mercado é negativo, pelo menos no curto prazo", disse o analista Aloisio Lemos, da Ágora --a casa cortou em maio a estimativa para o Ibovespa em 10 mil pontos, para 62 mil pontos, um número ainda "bastante otimista considerando o cenário para o mercado".

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O Citi reduziu, também em meados de maio, sua projeção para o índice de 65 mil para 63 mil pontos no fim de dezembro. O ânimo dos investidores sofreu novo golpe na semana passada, com a revisão para "negativa" da perspectiva do rating soberano do Brasil pela agência de risco Standard & Poor's. "Foi um balde de água fria para a gente que até pouco tempo atrás achava que o Brasil era a bola da vez", disse Spyer, da Mirae.

Também na última semana, o governo federal zerou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos estrangeiros em renda fixa, antes em 6 por cento. A retirada dessa barreira abriu espaço para estrangeiros que vinham arbitrando taxas de juros nos mercados à vista e futuro da Bovespa --em operações chamadas de "cash-and-carry"-- voltarem a investir diretamente em renda fixa.

Só nos três primeiros dias após a medida, os estrangeiros sacaram 3,35 bilhões de reais da Bovespa, reduzindo o saldo positivo no ano para 4,5 bilhões de reais até 7 de junho. Os contratos vendidos no Ibovespa futuro em aberto diminuíram nesse período, mas ainda permaneceram em patamar elevado --em 129,5 mil, equivalentes a cerca de 6,7 bilhões de reais.

Além das preocupações com o Brasil, temores de que os principais bancos centrais no mundo comecem a reduzir seus programas de estímulos monetários são mais um fator de estresse para investidores, contribuindo para a recente migração de fluxos de mercados emergentes para ativos considerados mais seguros.

"A política de 'quantitative easing' (nos Estados Unidos) deve diminuir e isso deve causar uma mudança de fluxos nos mercados emergentes como um todo. Estamos vendo o investidor global se antecipar um pouco a essa mudança na política monetária", disse a diretora da BlackRock no Brasil, Karina Saade.

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Barata

Neste cenário, o Ibovespa está sendo negociado na faixa de 95 por cento do seu valor patrimonial, destacou o estrategista Luis Gustavo Pereira, da Futura Corretora. Segundo ele, nem mesmo no pior momento da crise de 2008 o índice operou abaixo desse nível.

"Isso reflete o mau humor com o cenário macroeconômico e com as perspectivas de lucro futuro das empresas", disse Pereira. "Mas isso também é um indício de que a bolsa no geral está descontada, sugerindo que se o quadro melhorar, esses ativos tendem a mostrar alguma recuperação", avaliou. "Potencialmente a gente tem energia para a bolsa subir, mas isso depende do governo não intervir tanto, de termos um ambiente mais previsível para os negócios", afirmou Pedro Barbosa, sócio da gestora de recursos STK Capital, que tem cerca de 820 milhões de reais sob gestão.

Para o sócio da gestora Bogari Capital, que tem cerca de 500 milhões de reais sob gestão, Flávio Sznajder, mesmo com a queda recente do Ibovespa, o mercado ainda não chegou "num ponto em que os ativos estão baratos". "Mas você já começa a ter alguns indícios de que existem bons ativos com bons preços... A questão é: vale a pena tomar esse risco agora?"

Com 66 milhões de reais sob gestão, a Edge Investimentos tem mantido 29 por cento do patrimônio de seu fundo de ações em títulos do governo. "Não estamos achando oportunidades (na bolsa) que atendam nossas necessidades de investimento", disse o sócio Bernardo Dantas. "Os ativos de qualidade já estão bem precificados, e o que está barato em geral tem risco enorme."

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