Pílulas de nervosismo
Os principais fatos econômicos que abalaram os mercados nesta sexta-feira.
- Duas grandes fábricas de brinquedos da Smart Union, no sul da China, fecharam as portas em razão da crise nos EUA, principal destino de suas exportações. Mais de 6 mil pessoas ficaram desempregadas.
- Manifestantes saíram em passeata em Madri, na Espanha, para protestar contra os pacotes de ajuda ao sistema financeiro anunciados ao redor do mundo.
- A câmara alta do Parlamento alemão aprovou por unanimidade o plano de aproximadamente 500 bilhões de euros (US$ 670 bilhões) elaborado pelo governo para restaurar a confiança no sistema financeiro e ressuscitar o mercado de empréstimos interbancários.
- O megainvestidor americano Warren Buffett defendeu a compra de ações de empresas americanas em um artigo publicado ontem pelo jornal "The New York Times".
- "Uma regra simples dita minhas compras: fique com medo quando os outros forem gananciosos; seja ganancioso quando os outros estiverem com medo", escreveu Buffett.
O fechamento do pregão de ontem, quando foi registrada baixa de 0,12%, não ilustra bem o que foi o dia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Dentro da tônica que tem dominado os mercados, expressivas oscilações, com alternâncias de momentos de perdas e de ganhos, marcaram os negócios. Em seu momento mais forte, a Bovespa registrou valorização de 5,21%. Em seu piso no pregão, recuou 1,67%. Aos 36.399 pontos, o índice Ibovespa teve alta de 2,22% na semana. Mas as perdas acumuladas no mês seguem muito elevadas, em 26,53%. No ano, a queda registrada pela bolsa paulista está em 43,03%.
No mercado de câmbio, que tem sido influenciado pelas atuações do Banco Central, o dólar encerrou em baixa de 1,99%, cotado a R$ 2,12. Na semana, a queda do dólar ficou em 8,38%. Ontem, o BC anunciou nova medida, que é a realização de leilões para ofertar dólares destinados a financiar as exportações. "Com a ligeira melhora do ambiente externo, previsão de ingresso de cerca de US$ 3,12 bilhões da venda da Namisa pela CSN e expectativa pelo leilão de até US$ 2 bilhões de linha carimbada para exportadores na segunda-feira, as tesourarias anteciparam-se vendendo moeda", explicou um operador. Mas a volatilidade permanece como o "nome do jogo" no curto prazo. "O mercado não tem direção, está amassado e as incertezas persistem", comentou um profissional da área de renda variável de uma corretora em São Paulo. Para ele, o Ibovespa pode ter batido o "fundo" na semana passada, "mas não tem força pra subir porque está claro que a recessão será forte e longa", ponderou.
Ações
O resultado favorável das ações de maior peso na composição do Ibovespa, o principal índice da bolsa brasileira, ajudou o mercado brasileiro a recuar menos do que o norte-americano. Em Nova Iorque, o Dow Jones, que é o índice que agrupa as 30 ações americanas de maior liquidez, encerrou com depreciação de 1,41%. A Petrobras conseguiu se apreciar, em um dia marcado pela alta do barril de petróleo. Mas, apesar da valorização de 3,55%, a ação PN da estatal terminou a semana com baixa de 4,2%. Outro papel de elevada liquidez, o preferencial "A da Vale, encerrou o pregão com ganhos de 3,62%.
Medo da recessão
Nesta semana, com a diminuição dos temores em relação ao risco de o sistema bancário internacional entrar em colapso, os mercados voltaram a focar suas atenções na temida ameaça de recessão econômica. Dessa forma, cada novo dado econômico conhecido tem agitado os pregões. Nos últimos dias foram apresentados mais números decepcionantes da economia norte-americana. Ontem, por exemplo, foi anunciada a queda na construção de novas casas nos Estados Unidos, que recuou a seu mais baixo nível desde o começo de 1991.
"Muitos investidores fundos, bancos, empresas e pessoas físicas estão machucados, e bem machucados. É normal, então, diante de um cenário pessimista como o atual, que cada notícia, dado econômico ou declaração de alguma autoridade leve a várias interpretações e conseqüentemente a uma movimentação brutal dos preços dos ativos", explicou Fernando Barbará, gestor de renda variável na Ático Asset Management.
No Brasil, apesar de a economia estar longe de uma recessão, os economistas começam a contar com um crescimento menos robusto à frente. "Diante do atual cenário pouco animador, a economia brasileira também deve registrar menor crescimento ao longo do próximo ano. Com o aumento das incertezas, menor liquidez mundial e crédito mais restrito, estimamos uma desaceleração da taxa de crescimento do PIB brasileiro para 3,2% no próximo ano, após dois anos de crescimento acima de 5%, diz Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra.
Sinais opostos
Na semana, a Bovespa viveu pregões bastante díspares: na segunda, houve valorização de 14,66%. Já na quarta, o mercado foi em sentido oposto, e a bolsa recuou 11,39%. Apesar dos dias ainda difíceis no mercado acionário, vários papéis tiveram apreciação elevada na semana. Foram 52 as altas dentre as 66 ações do Ibovespa. A ação PN da Ultrapar liderou os ganhos, com alta de 34,18% na semana, seguida por Nossa Caixa ON (24,88%) e Braskem PNA (22,08%). Na outra ponta, a ação ordinária da Cosan foi a que mais caiu: 12,20%. Logo atrás apareceram BM&FBovespa ON, com baixa de 12,16%, e Petrobras ON, que recuou 8,9%.
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