O principal índice da Bovespa caiu quase 2,5% nesta quinta-feira (9) e fechou abaixo dos 50 mil pontos, perdendo um importante suporte técnico, diante de temores de desaceleração da China e preocupações com a economia doméstica. O Ibovespa caiu 2,48%, maior variação negativa desde 30 de setembro, a 49.321 pontos. Desde o fim de agosto o índice não fechava abaixo de 50 mil pontos. O giro financeiro do pregão somou R$ 7 bilhões. No câmbio, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, encerrou o dia com alta de 0,25% em relação ao real, cotado em R$ 2,395 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 0,29%, a R$ 2,397.
A inflação anual ao consumidor da China, principal país destino das exportações brasileiras, desacelerou com mais força do que o esperado em dezembro, para 2,5%, a mínima em sete meses. "Os números de inflação da China foram baixos, o que significa um desaquecimento do consumo chinês", disse o operador de renda variável Luiz Roberto Monteiro, da Renascença DTVM.
A notícia afetou os papéis de empresas exportadoras de commodities, como a Vale, que foi a principal influência negativa do dia, e Bradespar, que tem participação na mineradora. O dado da China, que também provocou queda de preços dos metais na Europa, contribuiu para que o Ibovespa perdesse o suporte técnico na faixa de 49.900 e 49.800 pontos, desencadeando mais vendas por parte de investidores que operam com base em análise gráfica, afirmou o especialista em renda variável Rogério Oliveira, da Icap Brasil.
Ainda no cenário macroeconômico, o mercado operou na expectativa do relatório de emprego dos Estados Unidos de dezembro, a ser divulgado na sexta-feira. Investidores temem que um resultado forte possa fazer a redução do programa de compra de ativos do Federal Reserve, banco central do país, ganhar força, diminuindo ainda mais a oferta global de liquidez.
Além disso, continuaram pesando na Bovespa preocupações com o cenário doméstico devido à deterioração fiscal, o nível da inflação e expectativa de baixo crescimento, assim como temores de um rebaixamento da nota de crédito. "Desde a entrada do ano, as expectativas estavam muito mais para baixo do que para cima. Talvez não tenha ocorrido essa intensificação das perdas antes pois os volumes foram baixos. Mas as maiores mesas de operação estão voltando à ativa", disse o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt.
Além da Vale, os papéis da Petrobras ,Itaú Unibanco e Bradesco encabeçaram as influências negativas do dia. Energias do Brasil teve a maior queda percentual.
Apenas 5 dos 72 ativos do Ibovespa rumaram no sentido oposto e fecharam no azul. A ação da concessionária de ferrovias ALL teve a alta mais expressiva, de 8,8 por cento. Em menor magnitude, Cosan também subiu, com avanço de 1,06 por cento.
O jornal "Valor Econômico" desta quinta-feira afirmou que uma fusão entre a ALL e a Rumo Logística, empresa de transporte de açúcar da Cosan, é avaliada como opção para encerrar a disputa judicial entre as duas empresas relativa ao volume contratos para escoamento de açúcar. "Resolver o imbróglio é bom para as duas empresas, que alinhariam interesses", disse o analista William Alves, da XP Investimentos.
Câmbio O dólar à vista encerrou o dia com alta de 0,25% em relação ao real, cotado em R$ 2,395 na venda. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 0,29%, a R$ 2,397. Este é o maior valor para o dólar desde 22 de agosto, quando a moeda chegou a bater os R$ 2,45, forçando o Banco Central do Brasil a adotar um programa de intervenções diárias no câmbio para tentar conter a escalada da cotação.
"Tivemos em 2013 a maior saída de dólares do país desde 2002, a elevação do IOF [Imposto sobre Produto Industrializado] pelo governo nos cartões pré-pagos pode não ser suficiente para frear os gastos no exterior e ainda permanecem as preocupações sobre um possível corte na nota soberana do Brasil. Tudo isso força a cotação do dólar para cima", diz Reginaldo Siaca, superintendente de câmbio da Advanced Corretora.
Segundo ele, o mercado não tem motivos para enxergar uma melhora na economia brasileira em 2014. "Com Carnaval, Copa do Mundo e eleição, o crescimento [econômico] já está comprometido", completa. "O que piora o quadro é que ninguém do governo pode vir a público para botar panos quentes, como foi feito o ano passado inteiro, porque o governo está em recesso", diz Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
A alta do dólar ocorre mesmo com a intervenção programada do BC brasileiro no mercado, através da venda de 4 mil contratos de swaps cambiais tradicionais (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), por US$ 199,2 milhões.