A recente aversão ao risco que tem castigado os mercados emergentes provocou a saída de R$ 8,167 bilhões em investimento estrangeiro na Bovespa em pouco mais de um mês. Analistas afirmam que a desvalorização do real ante o dólar, o ceticismo em relação à política econômica do governo Dilma e o rebaixamento da perspectiva da nota de risco de crédito (rating) do Brasil pela Standard & Poor's (S&P) são alguns dos fatores que têm provocado essa fuga de capital externo. As apostas, porém, são de que parte desses recursos continue no País e tenha migrado para as aplicações em renda fixa, que está com retornos mais atraentes.
Há apenas um mês, em 10 de maio, a Bolsa acumulava um superávit de recursos estrangeiros de R$ 11,561 bilhões no ano, o que representava, naquela data, o pico de volume em 2013. Em 12 de junho, porém, o montante caiu para R$ 3,394 bilhões. O mau humor dos mercados pode também ser medido pelo comportamento do Ibovespa, que fechou naquela quarta-feira no menor nível desde 8 de agosto de 2011, aos 49.180,58 pontos, elevando as perdas no ano para quase 20%.
O gerente da mesa de renda variável da Fator Corretora, Frederico Lukaisus, avalia que esse movimento pode ser caracterizado como forte onda vendedora de ativos de risco brasileiros, conhecida como sell off. Para ele, "tudo indica que esse dinheiro não vai voltar (para a Bolsa)" e vai para outros mercados, com as ações mais atraentes.
Risco de crédito
Para a equipe de análise do BB Investimentos, a colocação em perspectiva negativa do rating soberano do Brasil pela S&P aumentou a retirada de capital externo no mercado à vista pelos estrangeiros, "exercendo pressões vendedoras sobre a Bolsa brasileira, visto que também existem investidores internacionais que têm restrições de alocações em renda variável dependendo da classificação de risco do País", comentam os estrategistas Nataniel Cezimbra e Hamilton Alves Moreira, em relatório.
Por outro lado, afirmam os profissionais, a colocação da nota de risco de crédito dos Estados Unidos em perspectiva positiva abre espaço para o retorno do rating americano ao grau máximo da S&P, de AAA, o que induz parcialmente o chamado "voo para qualidade" (fly to quality)e faz com que parte do dinheiro investido se redirecione para os EUA. Esse movimento externo de readequação de portfólios se antecipa ao possível fim de programas de estímulos - os investidores estão se voltando, principalmente, ao Federal Reserve. Os reflexos são sentidos pelos mercados acionários ao redor do mundo e atingem em cheio a Bovespa.
Porém, por enquanto, segundo analistas, a expectativa no curto prazo é de realizações de lucros mais acentuadas entre os mercados internacionais, sobretudo em Wall Street, que estão bem "esticados" recentemente. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.