A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) reduz o ritmo de queda nesta quinta-feira (16) e, às 15h06, caía 5,24%, para 46.703.
Mais cedo, às 14h10, a bolsa chegou a cair 8,33%, para 45.179 pontos, patamar do início de abril, a maior quedado ano durante o pregão.
Em 2007, o Ibovespa registrou sua maior queda de fechamento em 27 de fevereiro, quando o índice paulista fechou em baixa de 6,6%.
No mesmo horário, o dólar era vendido a R$ 2,097, com alta de 3,25%. O risco país tem alta de 13%, aos 226 pontos.
A bolsa paulista fechou os 15 primeiros dias do mês com queda de 9%. A razão para tanta volatilidade continua a mesma que já vinha assombrando os investidores nos últimos meses: a especulação de que os problemas do setor de empréstimos imobiliários nos EUA possam contaminar a maior economia do mundo.
Isso porque uma intensificação dessa crise atrapalharia o crescimento econômico mundial e "enxugaria" a quantidade de dinheiro correndo pelos mercados internacionais.
O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações das empresas européias, despencou 3,21%, para 1.443 pontos. É o menor nível desde meados de março, e foi a maior queda percentual desde maio de 2003. O índice acumula queda de aproximadamente 3% no ano, e caminha para a quinta semana seguida de baixa.
Entenda a crise
O abalo nas bolsas de valores de todo o mundo, que resultou na seqüência de fortes quedas no mercado financeiro, tem origem no mercado imobiliário dos EUA: os americanos estão atrasando ou deixando de pagar a hipoteca da casa própria.
Há alguns anos, com a queda da taxa de juros nos EUA, houve uma corrida por refinanciamento de residências. Envididados com compras do comércio - especialmente com cartão de crédito -, muitos americanos resolveram renovar a hipoteca da casa, levando dinheiro na troca, saldando as dívidas de consumo e esticando o prazo de pagamento das casas.
Esse subterfúgio foi usado especialmente pelo grupo "subprime", reservado para os clientes que são considerados "propensos à inadimplência" por não terem renda comprovada, por comprometerem grande parte dela com as prestações ou por terem um histórico de inadimplência em outras modalidades de crédito. Ainda assim, essas pessoas conseguiram dinheiro emprestado para refinanciar a casa.
Por representarem um risco, esses clientes pagam juros mais altos, que podem chegar a 12% ao ano - o que é normal para o Brasil, mas quase inconcebível para os Estados Unidos. Porém, os juros altos, combinados ao fato de o "boom" imobiliário ter reduzido o valor dos imóveis, fizeram com que muita gente simplesmente desistisse de pagar os empréstimos da casa própria para não acabar no prejuízo.
O que aconteceu foi o seguinte: com as casas valendo menos, não era mais vantagem pagar as prestações. O G1 encontrou um caso de um mutuário que tinha um financiamento de R$ 370 mil no banco - com juros de 12% ao ano - para um imóvel que hoje vale somente R$ 320 mil. Além disso, mesmo depois do refinanciamento, ele tinha dívidas no cartão de crédito, as quais ele precisaria saldar para poder convencer o banco a novamente refinanciar a dívida, só que com juros menores.
O movimento de desistência das hipotecas caras demais, conforme se temia, está tendo um efeito corrosivo nos resultados das empresas de crédito imobiliário. Nesta quinta-feira, duas empresas que atuam no ramo - uma americana e uma australiana - anunciaram que estão tendo dificuldade para conseguir empréstimos para cobrir o buraco financeiro deixado pela inadimplência no setor "subprime".
Notícias negativas
"O noticiário está recheado de notícias negativas relacionadas com a crise no mercado de crédito", disse Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora.
As ações da Countrywide Financial, maior concessora de hipotecas dos Estados Unidos, despencavam no pregão eletrônico em Nova York depois que a empresa informou que está usando uma linha de crédito de US$ 11,5 bilhões para aumentar sua liquidez.
Além disso, as ações da financeira hipotecária australiana RAMS Home Loans Group caíram 36% com o anúncio de que não conseguiu rolar empréstimos de curto prazo por causa da falta de liquidez no mercado.
"O grau de tensão vai se elevando à medida que a crise vai se aprofundando. Os mercados não conseguem encontrar um equilíbrio, e há o temor de uma crise bancária mais aberta", acrescentou Caramaschi.
Mesmo assim, o economista diz que os efeitos da turbulência sobre o mercado de câmbio devem ser temporários, já que o foco dos problemas não está na economia brasileira.
"A maioria dos agentes mantém a idéia de que a situação é confortável no balanço de pagamentos [brasileiro] e que o acúmulo de reservas dá uma tranquilizada. Acho que é um movimento de curto prazo que reflete o aumento da aversão ao risco e a incerteza provocada pela crise", disse.
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