A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) sobe forte pelo quarto dia consecutivo acompanhando os mercados internacionais e recuperou os níveis registrados antes do auge da crise do setor de crédito imobiliário americano, ocorrido na última quinta-feira. O bom humor dos investidores globais veio após declarações atribuídas nessa terça-feira ao presidente do Fed (banco central americano), Ben Bernanke, que reforçaram as apostas do mercado de que a instituição deverá cortar os juros básicos dos Estados Unidos para amenizar os efeitos da crise. Também contribuiu para alta o desembolso de mais US$ 2 bilhões do Fed em crédito para os quatro maiores bancos americanos.
Segundo um senador americano que teve uma reunião com Bernanke, ele teria afirmado que usaria todos os instrumentos disponíveis para manter a liquidez do sistema financeiro. Com isso, investidores passaram a apostar que uma redução dos juros pode acontecer até antes da próxima reunião da autoridade monetária, prevista para 18 de setembro.
"Esse recado foi suficiente para empolgar o mercado, pois é esperado um corte na taxa básica de juros (Fed Funds) dos Estados Unidos em breve e certamente esse será o foco do mercado nesta quarta-feira" informou o economista-chefe da consultoria de investimentos Lopes Filho e Associados, Julio Hegedus Netto, em seu boletim desta manhã de quarta-feira.
Às 16h05, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, subia 3,01%, para 51.316 pontos, no maior nível desde a terça-feira da semana passada. O volume financeiro era de R$ 4,033 bilhões. O dólar caía 1,03%, para os R$ 2,014. O risco-país caía 4,11%, para os 210 pontos.
As ações da Vale do Rio Doce e da Petrobras, que têm os maiores pesos no Ibovespa, puxam o índice com fortes altas devido à recuperação dos preços das commodities, como petróleo e minério, com a melhora do humor dos mercados. Às 16h, as ações PN da Vale subiam 4,39%, para R$ 73,60. Já os papéis Petrobras PN tinham alta de 4,18%, para R$ 48,10.
Fitch: bancos da América Latina têm pouca exposição ao 'subprime'
Na avaliação do diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Moura Nehme, a Bovespa, que sofreu fortes quedas, mostra um movimento de recuperação até, às vezes, "descolado" das bolsas americanas, num esforço dos fundos locais e do remanescente de investidores estrangeiros em reaver as perdas. Segundo ele, enquanto o movimento de recuperação da Bovespa persistir não deverá ocorrer novas pressões de demanda (investidores estrangeiros vendendo ativos no país e comprando dólares para retirar os recursos do país) que têm influenciado a alta do dólar nos últimos dias. Nehme avalia que a maior parte desses estrangeiros já deixou o mercado brasileiro.
A agência de classificação de risco Fitch também minimizou os problemas de contágio da crise do crédito imobiliário americano de alto risco, os chamados 'subprime' na América Latina. Segundo levantamento da empresa divulgado nesta quarta-feira, os bancos da região têm pouca exposição ao 'subprime' .
Sobre o bom humor dos mercados americanos, Nehme lembra, no entanto, que o próprio Bernanke não fez declarações públicas e que as palavras atribuídas a ele foram do senador americano Christopher Dodd, que é também pré-candidato republicano à presidência dos EUA. Por isso, ele levanta dúvidas sobre um eventual corte dos juros pelo Fed.
De acordo com o diretor da Ágora Corretora, Álvaro Bandeira, aos poucos os mercados financeiros de todo o mundo estão se equacionando em relação aos problemas do crédito imobiliário americano.
As bolsas americanas também registram forte alta e, às 16h, o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, subia 0,68% e o SP 500 se valorizava 0,64%. A bolsa eletrônica Nasdaq registrava ganhos de 0,89%.
A alta das bolsas americanas fora aceleradas ainda com o anúncio de que os quatro maiores bancos dos Estados Unidos tomaram empréstimos com o Fed já com as novas taxas de redesconto (juros cobrados do bancos comerciais pelo Fed), de 5,75% ao ano, oferecidas pelo banco central americano desde sexta-feira para amenizar a crise de liquidez do sistema financeiro. Ao todo os empréstimos somaram US$ 2 bilhões.
Mais uma empresa de crédito suspende operações nos EUA
Outras notícias sobre a crise imobiliária também foram divulgadas nesta quarta-feira. Em Nova York, a Accredited Home Lenders Holding anunciou na quarta-feira que parou de receber pedidos de empréstimos e que vai cortar 1.600 empregos. A companhia citou as turbulências no setor de crédito imobiliário de risco dos Estados Unidos como motivo das decisões.
Outra consequência da crise do subprime nos EUA é a decisão do HSBC de fechar unidade norte-americana de hipotecas . O banco encerrará as atividades no escritório em Carmel, Indiana, até o final do segundo trimestre de 2008.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) informou nesta quarta-feira que injetará 40 bilhões de euros em recursos de 91 dias no mercado aberto da região na quinta-feira.
"Essa operação é uma medida técnica que visa dar suporte à normalização do funcionamento do mercado aberto europeu. Ela é conduzida além das operações mensais de refinanciamento de longo prazo", informou em nota o BCE.Mercados europeus em alta
Os mercados europeus registraram forte alta também. Na Bolsa de Londres, o índice FTSE fechou em alta de 1,81%. Em Frankfurt, o DAX subiu 1,02% e, em Paris, o CAC se valorizou 1,83%.
Na Ásia, , com exceção de Tóquio, que ficou estável, as bolsas fecharam com valorização pelo terceiro dia consecutivo.
Na terça-feira, o Ibovespa encerrou o dia com valorização de 1,24%, na terceira alta consecutiva também.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast