O que há de comum no perfil econômico de uma pessoa que usa seu cartão de crédito para comprar uma passagem aérea internacional e um consumidor que tenta abrir seu crediário sem comprovação de renda para comprar um celular pré-pago? Ambos são potenciais alvos do Bradesco em sua ofensiva no segmento de cartões.
O primeiro pode ser um dos cerca de 500 mil clientes American Express com os quais o maior conglomerado financeiro do país não tinha relacionamento até 20 de março, quando arrematou a operação brasileira da Amex por US$ 490 milhões.
O segundo, de renda mais baixa, pode entrar para a família junto com os 3 milhões de plásticos que o Bradesco pretende alcançar até o final deste ano na associação com as Casas Bahia.
- Dessa forma podemos atender às classes C e D como vamos atender à classe mais alta - disse a jornalistas o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, em conferência telefônica para apresentação do resultado do banco no primeiro trimestre deste ano, um lucro de R$ 1,53 bilhão, recorde para o período.
Segundo ele, o Bradesco tem atualmente 9,2 milhões de cartões de crédito emitidos. Até o meio do ano, a Amex somará seus cerca de 1,2 milhão de plásticos ao bolo.
- Ainda aguardamos o processo de análise no Banco Central. Tenho impressão que até o final do semestre já terá avançado bastante (a incorporação) - disse Cypriano, que ressaltou a facilidade para a absorção da carteira da Amex, já que a bandeira continuará operando separada, com praticamente a mesma estrutura que já tinha.
- Basicamente é só fazer integração com os sistemas do banco e isso até meados do semestre deve estar resolvido.
Na conta dos 9,2 milhões de cartões não estão também os 2,8 milhões de cartões de marca própria (private label). Mas o maior acréscimo à base espera-se que venha da associação com a rede varejista.
- Hoje estamos com 500 mil cartões e vamos dar um foco porque o resultado é realmente muito bom - disse Cypriano.
O segmento de cartão de crédito é visto como uma das formas de acelerar o crescimento dos bancos, dentro do processo de consolidação do setor, que já teve duas rodadas neste ano, cada uma vencida por um dos dois maiores rivais na disputa pela liderança do varejo bancário privado.
O primeiro round, travado pela compra da Amex, o Bradesco ganhou. No início deste mês, o Itaú deu a sua tacada e levou o BankBoston, por US$ 2,2 bilhões em ações.
Segundo o presidente do Bradesco, não restam muitas opções no mercado, mesmo usando as ações como cacife para a aquisições.
- Acho que o mercado está um pouco estreito hoje, pode eventualmente ter algumas aquisições pontuais.
Após a compra do BankBoston, o Itaú emparelhou com o Bradesco no ranking elaborado pelo Banco Central a partir dos balanços de 2005. Com o crescimento no primeiro trimestre, o total de ativos detidos pelo Bradesco somou R$ 216,4 bilhões de reais, uma evolução de 3,7% na comparação com dezembro.
Mas o tira-teima não vai demorar: o Itaú divulga seus resultados nesta terça-feira.