A recessão brasileira em 2015 deixará a América do Sul no vermelho e a América Latina próxima da estagnação, revelam os números da edição de abril do relatório “Panorama da Economia Mundial”, divulgado esta manhã em Washington pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil registrará uma retração de 1% este ano, como o organismo multilateral havia antecipado sexta-feira passada no documento de revisão anual da economia do país (o chamado Artigo IV). Será a principal contribuição negativa à expansão latino-americana — 0,9%, contra 1,3% na projeção anterior — e à contração de 0,2% dos sul-americanos.
No cenário internacional, a América Latina só não será menos dinâmica em 2015 do que o bloco que reúne as ex-repúblicas socialistas soviéticas, que, puxado pela acentuada recessão russa (-3,8%), vai encolher 2,6% este ano. Entre os principais motores globais (países ricos, Brics e emergentes asiáticos), Rússia e Brasil terão os piores desempenhos anuais, prevê o FMI.
Este será o quinto ano seguido de desaceleração do crescimento da América Latina (em 2014, o PIB regional cresceu 1,3%, após alta de 2,9% no ano anterior e uma média de 4,2% entre 2009 e 2013).
Sem perspectiva
De acordo com os economistas do Fundo, não há “impulsos aparentes para uma retomada no médio prazo” e a região continuará sendo castigada por dois dos fatores que travam a expansão: baixo preço das commodities agrícolas e metálicas e “reduzido espaço para políticas”, devido à deterioração do quadro fiscal em muitas economias, à perda de vigor dos investimentos e ao aperto das condições financeiras globais.
O México, segunda maior economia latina, também perdeu fôlego e contribuiu para a marcha lenta da região. Ainda assim, tem crescimento projetado de 3,3% este ano.
Segundo a avaliação do FMI, a principal draga do crescimento regional é a América do Sul, que já sofria com o caos econômico da Venezuela (retração de 7% este ano) e a situação difícil da Argentina (-0,2%) e está sendo particularmente castigada pela queda dos preços das commodities. A América Central e o Caribe, beneficiando-se da recuperação dos EUA e da queda dos preços do petróleo, aparecem como área mais dinâmica.
Impacto das commodities
“As revisões para baixo estão concentradas nos exportadores de commodities sul-americanos. Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru, todos tiveram projeção de crescimento em 2015 cortadas entre 0,5 e 2 pontos percentuais”, afirma o documento do Fundo Monetário. O panorama de curto prazo, acrescenta o FMI, não é animador:
“A atividade nos exportadores de commodities da região pode enfraquecer ainda mais diante de choques adversos, notavelmente uma desaceleração mais aguda do investimento na China”.
No caso do Brasil, cuja projeção de crescimento foi ceifada em mais de 2 pontos percentuais em relação à de outubro e a previsão engloba estouro da meta de inflação (7% pelo IPCA este ano) e a probabilidade de turbulências financeiras, particularidades internas acentuam os problemas econômicos:
“O sentimento do setor privado continua resistentemente fraco, por causa de desafios de competitividade que não foram enfrentados, o risco de racionamentos de energia e água no médio prazo e os desdobramentos da investigação da Petrobras. A necessidade de um aperto fiscal maior do que o esperado também tem papel na piora das projeções”.
No médio prazo, o risco maior para os latinos que estão patinando é que um ritmo fraco prolongado dos investimentos reduza ainda mais o crescimento potencial da região, já limitado por gargalos de infraestrutura, custo e qualificação de mão de obra e baixa produtividade.
“Esforços equivocados de atacar a atual desaceleração com uma política de estímulos excessivos, ao vez de atacar gargalos de oferta e problemas de competitividade, pode corroer a estabilidade macroeconômica duramente conquistada pelos países”, adverte a equipe do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. “O principal desafio para a região, portanto, e gerenciar o ajuste ao novo ambiente externo preservando fundamentos sólidos e elevando o crescimento potencial”.
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