Rio de Janeiro Guitarrista da banda Barão Vermelho desde 1985, Fernando Magalhães decidiu se aventurar numa seara até então inexplorada por ele: vai lançar, pela Warner Music, um álbum inteiramente digital. Ou seja, não haverá CD físico, disponível nas lojas. As 10 músicas, sendo 9 inéditas, serão todas oferecidas em arquivos e poderão ser baixadas em vários portais da internet brasileira.
A iniciativa de Magalhães é apenas mais um indício de que o mercado do download legal começa a ficar agitado. O primeiro passo para a retomada dos investimentos neste segmento foi uma mudança de comportamento por parte dos detentores dos direitos autorais: depois de anos reclamando da pirataria, as gravadoras, consideradas as grandes vilãs da polêmica, se renderam ao mundo virtual, principalmente quando viram as vendas de CDs despencarem.
E se a Apple não demonstra interesse em trazer a bem sucedida loja de downloads iTunes para cá, já há boas alternativas para os internautas que desejam comprar arquivos de forma legal. Há pelo menos cinco portais disputando, páreo a páreo, os cliques dos navegantes: iG, Terra, UOL, iMusica e Baixa Hits aumentam a cada dia seu catálogo de arquivos.
Segundo Gian Uccello, gerente de novas mídias da Warner Music, o mercado brasileiro de downloads legais, ao contrário do americano, está só começando e ainda se estuda a melhor forma de seduzir o consumidor: o caminho, diz ele, pode apontar para um modelo de assinatura, que evita que o internauta precise sacar o cartão de crédito sempre que decidir adquirir um arquivo. "Se seu filho de 17 anos quiser comprar uma música, você vai dar o cartão de crédito para ele?", questiona, para depois explicar: "Se o download for através de uma assinatura mensal, fica mais fácil. O canal de cobrança é a chave".
Players
Não há como negar: o iPod, MP3 player da Apple, foi o grande catalisador do sucesso de público alcançado pelos arquivos musicais, principalmente nos mercados onde a iTunes tem presença garantida. Mas não é só a Apple que colhe os louros da revolução: um dos grandes nomes do mercado de telefonia móvel, a finlandesa Nokia está de olho na venda de downloads legais, tanto que lançou uma loja, a Nokia Music Store, com a pretensão de concorrer com a iTunes. Ainda não há previsão de chegada da loja no Brasil.
De acordo com o gerente de produtos da Nokia, Fernando Soares, até pouco tempo atrás as fabricantes de celular se restringiam a criar o terminal. Às operadoras, cabia a tarefa de lançar serviços. Agora, as fabricantes também querem investir na criação. "A venda de conteúdo é a venda de uma experiência. Se ela for boa, você repete", diz.
É claro que numa cadeia de valores grande como é a venda de música, sempre há um elo ou outro que pode atrasar ou dificultar a implementação dos serviços. Não à toa, diz Soares, as operadoras levaram tanto tempo para oferecer serviços de venda de "full tracks", ou seja, de arquivos completos. "Aqui, você fala de editores, gravadoras, autores. Tem de pensar na imagem da capa do CD, no preço dos arquivos. Tem mais: até pouco tempo, você era obrigado a comprar um CD inteiro por causa de uma música. Isso está mudando, a revolução vai entrar numa velocidade exponencial", diz o executivo.
Em algum momento, no entanto, os atores desta peça foram obrigados a pensar em ceder. Afinal, a competição é grande e há, do outro lado da tela, uma centena de sites e programas oferecendo downloads "livres" (eufemismo para "piratas") a um clique de distância.
Competição pirata
Uma das saídas é a assinatura de downloads; outra é a queda nos preços dos arquivos. A terceira passa por parcerias firmadas entre gravadoras, autores e operadoras. Estas, por sua vez, se tornam as responsáveis pela cobrança dos downloads, que passaria a vir incorporada na conta. "O cliente não quer mais ser ilegal, quer comprar a coisa certa, basta ter a possibilidade", diz o gerente de serviços de valor agregado da TIM Brasil, Gabriel Mendes.
De acordo com ele, pesquisas mostram que, desde que surgiu a música digital, a arrecadação com direitos autorais aumentou consideravelmente. "Mas nesta cadeia de valor todos os participantes têm de ter a clareza de que o cenário atual é outro. Alguns elos dessa cadeia ainda vivem no passado, não perceberam que esse modelo é muito forte e que é preciso se adaptar."