Celular é o iPod brasileiro
Rio de Janeiro O site de venda de downloads do iG, o MusiG, entrou no ar no final do ano passado, em versão beta. O lançamento oficial está previsto para o segundo semestre deste ano. O catálogo inicial será de 150 mil músicas, com a expectativa de chegar a 500 mil no período de um ano. De acordo com o diretor de produtos e serviços do iG, André Molinari, a venda de downloads através da web é uma tendência, assim como a mobilidade dos arquivos, que serão acessíveis em quaisquer plataformas. "Por que o iTunes explodiu nos 22 países em que entrou? Por causa do iPod. O iTunes, hoje, é a terceira maior loja de música do mercado americano", diz.
Segundo o diretor do iG, o mercado brasileiro não terá uma explosão de vendas de iPods como aconteceu nos Estados Unidos, mas o celular vai ser o centro do entretenimento digital, tal qual o player da Apple. Pensando nisso, o iG está investindo na integração de seus serviços de desktop e equipamentos móveis.
O bicho-papão, depois de sanado o problema da falta de opções, é a mudança cultural necessária para o sucesso das lojas virtuais de música. Infelizmente, o brasileiro ainda dá preferência aos arquivos gratuitos, disponíveis na internet. E, aqui, dois motivos devem ser levados em consideração: em primeiro lugar, o preço dos arquivos ainda é muito alto; em segundo lugar, o internauta ainda acha que comprar música é atitude "dos bobos".
"É necessário observar que a diferença de qualidade é muito grande. Se você compra uma música no iTunes, ela chega perfeita, garantida. A questão é que o mercado deve tornar esta compra o mais fácil possível. É claro que sempre vai existir a cultura de que só bobo paga. O esperto é furar a lei. Mas o problema da pirataria não é só nosso, é do mundo inteiro", diz Molinari.
É claro que o preço também conta e, por isso, os portais e as gravadoras procuram baixar o valor dos downloads e facilitar o pagamento. Uma outra saída seria faturar com serviços adjacentes links patrocinados, por exemplo.
Firmar parcerias com operadoras, para vender músicas através dos sites WAP ou de lojas como a TIM Music Store ou Claro Idéias Música também pode ser uma boa sacada. "Os smartphones vão fazer com o computador o que o celular que só tinha voz fez com a linha fixa", completa Molinari.
Apostar no full track (download de músicas completas) é o objetivo de todas as operadoras. Mas há aquelas que decidem ir além ao promover um cruzamento de mídias. A Oi decidiu focar em sua rádio, a Oi FM, como carro-chefe de seus produtos musicais. "Ninguém mais aceita que uma gravadora simplesmente empacote 25 músicas para você. O cliente quer ter o direito de montar seu próprio portfólio. E nos celulares a cultura do download foi criada ao contrário da cultura da internet, onde as pessoas estão acostumadas a ter tudo de graça", diz o gerente de conteúdo da Oi, Fiamma Zarife. "Precisamos ter formas de cobrança mais eficientes, como uma assinatura ou a venda do streaming", conclui o executivo.
Colecionador quer capa e encarte
A questão é que, agora, o produto físico perde um pouco o sentido. Mas ainda há, claro, aqueles que preferem tocar o CD, colecioná-lo. É para "fisgar" esses clientes que Fernando Magalhães decidiu oferecer a capa de seu álbum digital para download. Assim, o cliente paga, por cada faixa, R$ 1,89. Se quiser levar o álbum completo vai pagar R$ 9,90. Tudo à venda no site da gravadora Warner Music e também no UOL Megastore, no Sonora, no Baixa Hits, no MusiG e no iMusica e toda sua rede de franqueados.
Por falar em iMusica, o site de downloads acabou de anunciar um contrato com a America Móvil (dona da Claro) e com a Nokia para a distribuição de conteúdo digital para celulares, através da rede de operadoras da operadora mexicana. O serviço deverá ser estendido para 15 países da América Latina, com um alcance total de 132 milhões de usuários. O anúncio vem corroborar a teoria de que os telefones celulares serão os grandes receptores dos downloads de arquivos digitais. Para que isso aconteça, no entanto, as redes de terceira dimensão precisam estar disponíveis.
Rio de Janeiro Guitarrista da banda Barão Vermelho desde 1985, Fernando Magalhães decidiu se aventurar numa seara até então inexplorada por ele: vai lançar, pela Warner Music, um álbum inteiramente digital. Ou seja, não haverá CD físico, disponível nas lojas. As 10 músicas, sendo 9 inéditas, serão todas oferecidas em arquivos e poderão ser baixadas em vários portais da internet brasileira.
A iniciativa de Magalhães é apenas mais um indício de que o mercado do download legal começa a ficar agitado. O primeiro passo para a retomada dos investimentos neste segmento foi uma mudança de comportamento por parte dos detentores dos direitos autorais: depois de anos reclamando da pirataria, as gravadoras, consideradas as grandes vilãs da polêmica, se renderam ao mundo virtual, principalmente quando viram as vendas de CDs despencarem.
E se a Apple não demonstra interesse em trazer a bem sucedida loja de downloads iTunes para cá, já há boas alternativas para os internautas que desejam comprar arquivos de forma legal. Há pelo menos cinco portais disputando, páreo a páreo, os cliques dos navegantes: iG, Terra, UOL, iMusica e Baixa Hits aumentam a cada dia seu catálogo de arquivos.
Segundo Gian Uccello, gerente de novas mídias da Warner Music, o mercado brasileiro de downloads legais, ao contrário do americano, está só começando e ainda se estuda a melhor forma de seduzir o consumidor: o caminho, diz ele, pode apontar para um modelo de assinatura, que evita que o internauta precise sacar o cartão de crédito sempre que decidir adquirir um arquivo. "Se seu filho de 17 anos quiser comprar uma música, você vai dar o cartão de crédito para ele?", questiona, para depois explicar: "Se o download for através de uma assinatura mensal, fica mais fácil. O canal de cobrança é a chave".
Players
Não há como negar: o iPod, MP3 player da Apple, foi o grande catalisador do sucesso de público alcançado pelos arquivos musicais, principalmente nos mercados onde a iTunes tem presença garantida. Mas não é só a Apple que colhe os louros da revolução: um dos grandes nomes do mercado de telefonia móvel, a finlandesa Nokia está de olho na venda de downloads legais, tanto que lançou uma loja, a Nokia Music Store, com a pretensão de concorrer com a iTunes. Ainda não há previsão de chegada da loja no Brasil.
De acordo com o gerente de produtos da Nokia, Fernando Soares, até pouco tempo atrás as fabricantes de celular se restringiam a criar o terminal. Às operadoras, cabia a tarefa de lançar serviços. Agora, as fabricantes também querem investir na criação. "A venda de conteúdo é a venda de uma experiência. Se ela for boa, você repete", diz.
É claro que numa cadeia de valores grande como é a venda de música, sempre há um elo ou outro que pode atrasar ou dificultar a implementação dos serviços. Não à toa, diz Soares, as operadoras levaram tanto tempo para oferecer serviços de venda de "full tracks", ou seja, de arquivos completos. "Aqui, você fala de editores, gravadoras, autores. Tem de pensar na imagem da capa do CD, no preço dos arquivos. Tem mais: até pouco tempo, você era obrigado a comprar um CD inteiro por causa de uma música. Isso está mudando, a revolução vai entrar numa velocidade exponencial", diz o executivo.
Em algum momento, no entanto, os atores desta peça foram obrigados a pensar em ceder. Afinal, a competição é grande e há, do outro lado da tela, uma centena de sites e programas oferecendo downloads "livres" (eufemismo para "piratas") a um clique de distância.
Competição pirata
Uma das saídas é a assinatura de downloads; outra é a queda nos preços dos arquivos. A terceira passa por parcerias firmadas entre gravadoras, autores e operadoras. Estas, por sua vez, se tornam as responsáveis pela cobrança dos downloads, que passaria a vir incorporada na conta. "O cliente não quer mais ser ilegal, quer comprar a coisa certa, basta ter a possibilidade", diz o gerente de serviços de valor agregado da TIM Brasil, Gabriel Mendes.
De acordo com ele, pesquisas mostram que, desde que surgiu a música digital, a arrecadação com direitos autorais aumentou consideravelmente. "Mas nesta cadeia de valor todos os participantes têm de ter a clareza de que o cenário atual é outro. Alguns elos dessa cadeia ainda vivem no passado, não perceberam que esse modelo é muito forte e que é preciso se adaptar."
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