| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

O governo brasileiro reforçou barreiras impostas contra importações de produtos estrangeiros em meio à crise econômica, atendendo a uma parcela crescente das reclamações apresentadas pela indústria nacional contra seus concorrentes importados.

CARREGANDO :)

O número de ações movidas pela indústria brasileira contra produtos estrangeiros acusados de concorrência desleal diminuiu nos últimos anos, mas o governo atendeu a uma parcela maior dos pedidos. A China foi o parceiro comercial mais atingido.

Siga a @gpeconomia

Publicidade

De acordo com as regras do comércio internacional, os países têm o direito de impor sobretaxas à importação de produtos acusados de praticar dumping, ou seja, vendidos a preços artificialmente inferiores aos de mercado.

No ano passado, foram apresentados 47 pedidos pela indústria e 31 foram atendidos pelo governo, o equivalente a dois terços. Em 2014, o governo impôs sobretaxas em 29 casos, sendo que 52 foram analisados.

Veja também
  • Maioria das empresas reduz jornada de trabalho sem usar o PPE
  • Não precisa rebobinar! Último fabricante de videocassetes anuncia fim da produção

A China foi alvo de 97 medidas aplicadas pelo governo desde 1988. Produtos dos Estados Unidos ficaram em segundo lugar, com 35 medidas.

“O governo Dilma Rousseff foi o mais protecionista que já tivemos”, diz o professor de relações internacionais da Universidade de São Paulo Yi Shin Tang, especialista em direito comercial internacional.

Publicidade

Cálculos feitos por ele mostram que as taxas antidumping aplicadas pelo Brasil contra a China quase dobraram o valor dos produtos atingidos em 2015. Em média, o país sobretaxou em 92% as importações acusadas de concorrência desleal.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil e a origem dos produtos comprados pelo país, com 17,2% de participação na pauta de importações, segundo dados da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).

Entre janeiro e maio deste ano, sobretaxas foram impostas a 2,64% do valor das importações da China. No mesmo período do ano passado, elas atingiram 2,33% do total. Cada par de calçados chineses, por exemplo, é alvo de uma sobretaxa de US$ 10,22, que aumentou em 266% o valor importado neste ano, segundo cálculos do professor.

Para determinar as sobretaxas, o Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento compara o preço dos produtos investigados em seus mercados de origem com os preços estabelecidos pelos exportadores.

O sistema de formação de preços da China, porém, é considerada pouco confiável, por causa da forte presença do Estado na economia. Por isso, a praxe em casos que envolvem produtos chineses é considerar nos cálculos preços cobrados em outro país.

Publicidade

Em dezembro, quando a China completará 15 anos na OMC (Organização Mundial do Comércio), perderá validade uma cláusula que autoriza os parceiros da China a fazerem isso nas investigações de casos de dumping. Com o fim da cláusula, a China quer que seus parceiros aceitem seus preços.

O Ministério das Relações Exteriores ainda está analisando com outras áreas do governo brasileiro o que fará quando isso acontecer. A indústria nacional pressiona o governo a não reconhecer a China como uma economia de mercado.

O imbróglio abre caminho para que a China questione medidas antidumping aplicadas contra seus produtos no órgão de solução de controvérsias da OMC. Como o Brasil, outros países que integram a organização também não definiram ainda o que farão com a China no fim do ano.

Se a disputa evoluir para um embate direto entre os EUA e a China, as maiores potências comerciais do planeta, a OMC e o sistema internacional de comércio podem enfrentar o maior teste de estresse da sua história, diz um diplomata brasileiro na OMC.