O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta terça-feira (23) não considerar que o atual cenário global possa desembocar em uma grave crise econômica para o Brasil. Ele refutou a possibilidade de uma situação que chamou de "devastadora" para o mercado de crédito nacional e ressaltou que a autoridade monetária brasileira tem condições de amenizar os efeitos de um agravamento da crise mundial. Fernando Henrique lembrou que as reservas do país estão elevadas, mas ponderou que é necessário acompanhar os desdobramentos do impasse internacional. "Nós temos de observar qual será a extensão dessa crise global. Nós temos reservas elevadas e a autoridade monetária tem condições de amenizar os efeitos do atual cenário", afirmou. "Eu não vejo que nós estamos numa situação que terá um impacto tão devastador no crédito. E eu não vejo, neste momento, que essa crise se transforme numa crise maior para nós", acrescentou.
O ex-presidente ministrou nesta terça-feira aula aula magna no Vision 2011, evento organizado pela Serasa Experian, na capital paulista. Na palestra, ele apontou que falta uma espécie de comando na União Europeia para solucionar a crise econômica no continente. A mesma avaliação foi feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 12. Na ocasião, Lula disse que falta "atitude" aos governos norte-americano e dos países europeus. Fernando Henrique sugeriu que esse controle seja feito pelo Banco Central Europeu (BCE), que precisa, segundo ele, limitar os gastos das nações do bloco. "A Europa tem de fazer isso agora e teria de ser feito por uma autoridade central", disse o tucano. O ex-presidente observou como um dos possíveis sinais da crise global no Brasil a queda na exportação de produtos manufaturados e vislumbrou como uma solução para este quadro o investimento em produtividade e tecnologia.
Fernando Henrique avaliou ainda que as instituições brasileiras estão mais consolidadas que nas crises passadas, o que dá mais tranquilidade ao País. Ressaltou que, neste momento, o Brasil deve adotar uma agenda de reformas estruturantes que garanta o desenvolvimento nacional a longo prazo. Um dos temas que, em sua avaliação, devem ser discutidos é a diminuição do custo Brasil e a privatização de empresas públicas. "O Brasil, queira ou não, vai ter de entrar nessas questões", disse. "E para manter a economia sob controle é necessário tomar decisões estratégicas." Fernando Henrique afirmou que o atual momento é o "da verdade", em que o governo federal deve se pautar mais pela efetividade das decisões do que pelos "sonhos de grandeza".
O ex-presidente observou ainda que é melhor o país manter uma meta realista de crescimento em torno de 4%, mas que dê um "salto qualitativo" em áreas como educação, saúde e segurança. "Não basta crescer, tem de crescer com decência", defendeu. "Nós temos de concentrar o investimento público em áreas consideradas substanciais." Ele considerou ainda que a nova classe média só pode ser considerada como parte do nível econômico médio da população graças à sua renda, mas não pela sua qualidade de vida.
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