São Paulo - Submetido a um último grande teste maior crise internacional em 80 anos , o Brasil mostrou que, de fato, a sua economia mudou de nível.
Foi esse entendimento que levou a agência de classificação de risco americana Moodys a conceder ao país, ontem, o chamado grau de investimento.
Nações que possuem tal selo são consideradas destino seguro para investimentos, pois têm boas condições de honrar suas dívidas. "As turbulências deixaram claro quão resiliente é a economia brasileira e evidenciaram a sua capacidade de absorver choques significativos", afirmou Mauro Leos, analista-chefe de crédito da Moodys para a América Latina. "É notável, ainda, o fato de que o seu desempenho tenha sido melhor do que o das outras nações."
A decisão da Moodys vem um ano e quatro meses depois das primeiras elevações da nota do país para esse patamar mais alto da escala, que significa grande confiabilidade, feitas pelas agências Standard and Poors e Fitch Ratings. Naquele momento, o pior da crise ainda estava por acontecer.
O fato de a última das grandes classificadoras ter resolvido tomar uma atitude não quer dizer, entretanto, que a razão pela qual não acompanhou os seus pares em maio do ano passado tenha sido deixada de lado. A Moodys e as demais agências continuam assinalando que a situação fiscal do país a arrecadação e os gastos do governo federal preocupa.
"As contas públicas têm dois lados: o tamanho da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e a sua estrutura, ou seja, qual é a parcela de débitos em moeda estrangeira, em quanto tempo os compromissos expiram. No passado, como a parte em dólar e com vencimento no curto prazo eram maiores, o país estava mais vulnerável. Os dois são importantes, porém é esse segundo aspecto o que representa o maior risco em tempos de uma crise global como a que vivemos", afirma Leos.
Sobreviver à tempestade é uma coisa. Progredir é outra, frisam os especialistas.
Em meados de 2008, o professor Aldo Musacchio, da Harvard Business School, disse não estar convencido de que a situação do país era tão positiva quanto as recentes elevações para grau de investimento faziam crer.
Agora, ele admite ter se surpreendido com a pujança do mercado interno brasileiro, que ajudou a sustentar a atividade econômica quando a demanda externa estava fraca, mas ressalva que as reformas tributária, trabalhista e fiscal são essenciais para o país avançar: "Em matéria de administração dos seus gastos, a nota do governo Luiz Inácio Lula da Silva não é boa. Esse ponto diz respeito ao planejamento da nação para o futuro e segue sendo um problema que deve atrapalhar o seu progresso".
Risco fiscal
A Moodys colocou ainda a nota do país em perspectiva positiva: pode ser mais uma vez aumentada. "Não ocorrerá nenhuma modificação pelo menos até 2011. Até lá, queremos acompanhar com muita atenção o que o governo vai fazer quanto à situação fiscal. A elevação da nota não deve ser, portanto, uma desculpa para que relaxe", disse Leos.
Especialistas preveem que a moeda brasileira sofrerá valorizações adicionais por conta da nova classificação, já que os investidores internacionais devem trazer mais recursos para o país.