BC deve comprar mais dólares, diz Mantega
Folhapress
Nova Iorque e São Paulo - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em Nova Iorque que o país receberá mais investimentos após a elevação da sua classificação pela Moodys. Segundo Mantega, a notícia trará duas consequências: a entrada de capital de longo prazo, de investidores conservadores (como fundos de pensão) e, de outro lado, a entrada de mais dólares, que deverá ser administrada por meio da compra de reservas pelo Banco Central no mercado.
"Nós estamos comprando reservas, nada impede que elas continuem crescendo, e não há limite de crescimento das reservas brasileiras", disse.
Segundo Mantega, a mudança na avaliação da Moodys foi um sinal de reconhecimento do desempenho da economia brasileira diante da crise. "A crise demonstrou que o Brasil estava mais sólido do que os demais países que já tinham grau de investimento", disse.
Segundo o ministro, um dos fatores de destaque na avaliação da agência de classificação de risco foi a melhora da estrutura da dívida brasileira, mais focada no longo prazo.
Em São Paulo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não comentou sobre as compras de dólares pelo BC no mercado, mas também comemorou o grau de investimento concedido pela Moodys.
Bolsa passa dos 61 mil pontos e bate recorde
Folhapress
São Paulo - Em seu terceiro dia consecutivo de ganhos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) atingiu o patamar inédito dos 61 mil pontos neste ano, o mais alto em 14 meses. A valorização da bolsa brasileira foi fortemente afetada pela alta das commodities, que influenciaram as ações domésticas mais influentes (como os papéis da Vale), e também pela nota dada pela agência Moodys que já considera o Brasil como um país grau de investimento.
No momento em que a agência Moodys anunciou o grau de investimento, o expediente no mercado de câmbio já estava encerrado o dólar havia fechado abaixo de R$ 1,80 pela primeira vez em doze meses. Os analistas, apesar de julgarem importante a notícia, avaliam que o mercado não deve comemorar demais porque já a esperava.
O Ibovespa, termômetro dos negócios da bolsa paulista, subiu 0,93% no fechamento, batendo os 61.493 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,84 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova Iorque fechou em alta de 0,52%.
"O mercado de commodities (matérias-primas) está muito ativo, com muitas compras e isso tem provocado a alta das principais ações brasileiras, inclusive nas bolsas europeias. Também me parece destacar que houve uma queda nos níveis de aversão a risco, porque a rentabilidade dos demais ativos financeiros está muito baixa. E você sabe: risco é igual à Bolsa", comenta Boris Kogan, da mesa de operações da corretora Walpires.
Os papéis de maior destaque na Bovespa são justamente de empresas muito ligadas às commodities, como Vale (minério de ferro), Petrobras (petróleo) e as siderúrgicas.
São Paulo - Submetido a um último grande teste maior crise internacional em 80 anos , o Brasil mostrou que, de fato, a sua economia mudou de nível.
Foi esse entendimento que levou a agência de classificação de risco americana Moodys a conceder ao país, ontem, o chamado grau de investimento.
Nações que possuem tal selo são consideradas destino seguro para investimentos, pois têm boas condições de honrar suas dívidas. "As turbulências deixaram claro quão resiliente é a economia brasileira e evidenciaram a sua capacidade de absorver choques significativos", afirmou Mauro Leos, analista-chefe de crédito da Moodys para a América Latina. "É notável, ainda, o fato de que o seu desempenho tenha sido melhor do que o das outras nações."
A decisão da Moodys vem um ano e quatro meses depois das primeiras elevações da nota do país para esse patamar mais alto da escala, que significa grande confiabilidade, feitas pelas agências Standard and Poors e Fitch Ratings. Naquele momento, o pior da crise ainda estava por acontecer.
O fato de a última das grandes classificadoras ter resolvido tomar uma atitude não quer dizer, entretanto, que a razão pela qual não acompanhou os seus pares em maio do ano passado tenha sido deixada de lado. A Moodys e as demais agências continuam assinalando que a situação fiscal do país a arrecadação e os gastos do governo federal preocupa.
"As contas públicas têm dois lados: o tamanho da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e a sua estrutura, ou seja, qual é a parcela de débitos em moeda estrangeira, em quanto tempo os compromissos expiram. No passado, como a parte em dólar e com vencimento no curto prazo eram maiores, o país estava mais vulnerável. Os dois são importantes, porém é esse segundo aspecto o que representa o maior risco em tempos de uma crise global como a que vivemos", afirma Leos.
Sobreviver à tempestade é uma coisa. Progredir é outra, frisam os especialistas.
Em meados de 2008, o professor Aldo Musacchio, da Harvard Business School, disse não estar convencido de que a situação do país era tão positiva quanto as recentes elevações para grau de investimento faziam crer.
Agora, ele admite ter se surpreendido com a pujança do mercado interno brasileiro, que ajudou a sustentar a atividade econômica quando a demanda externa estava fraca, mas ressalva que as reformas tributária, trabalhista e fiscal são essenciais para o país avançar: "Em matéria de administração dos seus gastos, a nota do governo Luiz Inácio Lula da Silva não é boa. Esse ponto diz respeito ao planejamento da nação para o futuro e segue sendo um problema que deve atrapalhar o seu progresso".
Risco fiscal
A Moodys colocou ainda a nota do país em perspectiva positiva: pode ser mais uma vez aumentada. "Não ocorrerá nenhuma modificação pelo menos até 2011. Até lá, queremos acompanhar com muita atenção o que o governo vai fazer quanto à situação fiscal. A elevação da nota não deve ser, portanto, uma desculpa para que relaxe", disse Leos.
Especialistas preveem que a moeda brasileira sofrerá valorizações adicionais por conta da nova classificação, já que os investidores internacionais devem trazer mais recursos para o país.
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