A petrolífera Total demorou para chegar ao mercado petrolífero brasileiro, mas hoje vê potencial enorme nas reservas do Brasil e pretende participar de uma rodada de licitações que prevê que o país realize em 2011 ou 2012, depois de uma nova lei sobre a participação estrangeira na exploração petrolífera abrir caminho para isso.
A Total anunciou na semana passada a aquisição de uma participação de 20 por cento na licença BM-S-54 da Shell na Bacia de Santos, 200 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro, onde ambos os grupos esperam iniciar perfurações exploratórias no final do ano.
O diretor de geociências da Total - grupo francês que tem presença na África ocidental, norte da Europa e Oriente Médio, mas ainda não conta com ativos produtivos no Brasil -, Marc Blaizot, disse que isso será apenas um primeiro passo.
"Não acho que a Total esteja chegando tarde ao Brasil. Ainda há áreas enormes de interesse a explorar nas bacias de Santos e Campos," disse Blaizot à Reuters.
"Haverá novas rodadas, e queremos estar presentes no Brasil para preparar o futuro ali."
A Total não estudou as perspectivas brasileiras seriamente no início desta década, já que o grupo tinha dúvidas quanto à possibilidade de serem encontradas reservas substanciais na camada do pré-sal. O sal dificulta a leitura de levantamentos sísmicos.
As empresas estrangeiras que já estão envolvidas nos campos brasileiros do pré-sal incluem o grupo britânico BG, a portuguesa Galp e a espanhola Repsol.
"Pensamos que havia riscos sérios de não serem encontradas reservas, mas elas foram encontradas e evidentemente são muito melhores do que o previsto," disse Blaizot, que vê o Brasil como oportunidade chave de crescimento, especialmente com a maturação dos campos europeus e africanos do grupo.
Ele disse que o Brasil precisa de investimentos "extraordinários" para explorar seus campos marítimos, que apresentam desafios tecnológicos grandes, e procura novos recursos para continuar a produzir depois de 2020-2025.A estatal brasileira Petrobrás tem consciência dessas duas considerações.
"Achamos que a Petrobrás tem essas duas questões em mente. e está pensando em formar parcerias com petrolíferas internacionais que possam oferecer o know-how técnico para a exploração marítima em grandes profundidades," disse ele, acrescentando que a Total agora aguarda mudanças legais que esclareçam a situação dos investimentos estrangeiros no setor petrolífero brasileiro.
MODELO DE PARTILHA DE PRODUÇÃO
No mês passado o Senado brasileiro aprovou um plano de criação de um modelo de partilha de produção para tomar o lugar do sistema atual de concessões em projetos petrolíferos futuros, aumentando o controle do governo sobre as reservas marítimas maciças do país.
O plano, que é um elemento chave dos esforços do presidente Luis Inácio Lula da Silva para aumentar o controle do Estado sobre as reservas de óleo, vai garantir que a Petrobrás seja a operadora única dos novos projetos, com participação mínima de 30 por cento.
Depois que a Câmara dos Deputados aprovar a lei, o Brasil poderá retomar os leilões que suspendeu em 2007, depois de a Petrobrás anunciar algumas das maiores descobertas em três décadas nas Américas.
Embora a Total considere pequenas as chances de assinar novos acordos semelhantes ao da semana passada com a Shell, o grupo francês aguarda uma nova rodada de licitações de licenças que espera que vá ocorrer em 2011 ou 2012.
"Haverá eleições em outubro, e várias leis ainda não foram votadas, de modo que uma nova rodada de licitações é improvável este ano," disse à Reuters na mesma entrevista a vice-presidente da Total para a Argentina, Bolívia e Brasil, Emmanuelle Tutenuit.