Brasil e Estados Unidos tentaram mostrar um discurso afinado em assuntos relacionados ao câmbio, uma das questões mais controversas na economia global, em meio à intensa agenda da viagem do secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, ao país na segunda-feira.
Após se encontrar pela manhã com grandes empresários e estudantes, Geithner concluiu o dia em reuniões em Brasília com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, antes de uma conversa final com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a presidente Dilma Rousseff.
"Nossos interesses estão fundamentalmente alinhados", disse Geithner pela manhã, em São Paulo, ao defender a correção de desequilíbrios que possam colocar em risco a retomada da economia global.
Um desses desequilíbrios, a manutenção de moedas depreciadas por países emergentes para ganhar competitividade no comércio internacional, é um dos responsáveis pelo real caro, segundo Geithner.
Ao comentar sobre as razões do real forte, ele não fez nenhuma menção ao atual patamar dos juros nos EUA nem à política de estímulos daquele país, que tem contribuído para aumentar os fluxos de capital.
Embora não tenha citado nominalmente a China, o representante do governo americano afirmou que a moeda chinesa --o iuan-- está "substancialmente subvalorizada".
Segundo ele, a China está apenas no início de um processo de transição do modelo de câmbio rígido para um flutuante e projetou para os próximos anos uma apreciação importante da divisa chinesa.
Segundo uma fonte, Geithner pediu ajuda do governo brasileiro para pressionar os chineses a apreciar o iuan.
"Ele procurou convencer o ministro (da Fazenda, Guido Mantega) de que o problema do iuan subvalorizado não era só um problema para os Estados Unidos, mas um problema até maior para o Brasil, e que, portanto, o Brasil deveria atuar junto aos chineses para corrigir essa situação", disse a fonte sob condição de anonimato.
O iuan subvalorizado --parte do que Mantega chamou de "guerra cambial" global-- gerou um problema para a economia doméstica, erodindo a balança comercial e transferindo empregos para o exterior.
Comércio
Mas o câmbio não foi o único tema de sua visita ao país. Segundo um comunicado do BC, na conversa que Tombini teve com Geithner também foram discutidas as perspectivas da economia e agenda financeira internacional e esforços conjuntos no G20.
Nesse sentido, o encontro do representante do governo americano com autoridades brasileiras pode ter pavimentado o caminho para a viagem ao Brasil do presidente norte-americano, Barack Obama, em março.
Autoridades de ambos os países dizem que a visita sinalizará uma nova era de cooperação entre as duas maiores economias do Hemisfério Ocidental.
Outro assunto da visita foi a proposta da França para endurecer os regulamentos internacionais do mercado de commodities, medida que beneficia apenas importadores de alimentos e que pode prejudicar a produção dos principais exportadores, plano que encontra oposição de EUA e Brasil.
"Não se deve responsabilizar as commodities por desequilíbrios na economia mundial", foi a mensagem de Dilma a Geithner, segundo um assessor da Presidência.
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