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Brasil é mais desigual que EUA

 | Luciano Amarante/Folhapress
(Foto: Luciano Amarante/Folhapress)

No Brasil para divulgar seu livro, Thomas Piketty informou que, em breve, lançará um estudo sobre o Brasil. Seus resultados preliminares apontam que os dados oficiais sobre desigualdade estão subestimados e que o Brasil é mais desigual que os EUA. Para o economista, o aumento do salário mínimo, o Bolsa-Família e o investimento em educação pública são cruciais para reverter a concentração de renda.

A nova equipe econômica acena com ajuste fiscal, e há o risco do congelamento de programas sociais.

Seria um erro o Brasil imaginar que já fez o bastante para diminuir o nível de desigualdade e que pode desacelerar o processo agora. Iniciativas como o Bolsa Família e a política de valorização do mínimo são parte da solução para a desigualdade. O salário mínimo teve um grande impacto na redução da desigualdade nos últimos 15 anos, talvez tenha sido a principal política para aumentar a renda de 50% da população mais pobre, e isso deveria continuar sendo uma política importante. É importante manter os programas sociais, até porque a educação pública no Brasil não é boa o bastante.

No passado, acreditou-se que era preciso fazer o bolo crescer primeiro para depois dividi-lo. Faz sentido?

É um erro acreditar que para crescer mais deveríamos ignorar a desigualdade. No caso do Brasil, onde a desigualdade é extremamente alta de acordo com as estatísticas oficiais, e devem ser ainda maiores porque tais estatísticas subestimam a realidade, é possível diminuir a desigualdade e aumentar o crescimento econômico ao mesmo tempo. É preciso ressaltar que muitas das histórias de sucesso em crescimento, particularmente na Ásia, em países como China, Taiwan e Coreia, foram baseadas em patamares muito menores de desigualdade, em comparação à América Latina, especialmente o Brasil. Quando a desigualdade é alta demais, isso atrapalha o crescimento. Ninguém quer igualdade total, o que também não é bom, mas casos extremos como o brasileiro não são funcionais.

Na sua avaliação, quando a desigualdade é um problema? Não existe fórmula matemática para dizer isso. Há quem use o coeficiente Gini para medir isso, mas eu prefiro olhar para o percentual de riqueza e renda que vai para os 50% mais pobres da população e a parcela que vai para os 10% mais ricos. No Brasil, a proporção de renda que vai para os 10% mais ricos atinge mais de 50% do total produzido. É o percentual mais alto do mundo. Isso quer dizer que os 50% mais pobres acabam recebendo menos de 15% da renda.

Há quem critique a proposta de taxação de riquezas, com o argumento de que isso diminuiria os investimentos e a produtividade. Os pobres no Brasil estão longe de consumir muito. É difícil fazer os ricos pagarem mais impostos porque eles têm mais influência política. Mas os ricos no Brasil não pagam impostos demais. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que não é uma esquerdista, está muito longe de propor que os alemães paguem apenas 4% de impostos sobre as heranças, como é no Brasil. É uma questão de equilíbrio: o que precisamos é mais transparência sobre quanto os ricos e os pobres ganham, e a evolução de renda e riqueza. Precisamos tornar esse debate mais concreto, com dados.

O senhor pretende continuar seus estudos sobre desigualdade em outros países?

Quero ampliar os dados para os países emergentes, especialmente para o Brasil. Estou atuando em parceria com a UnB. Os dados oficiais do Brasil mostram que o país é menos desigual que os EUA, mas já sabemos que eles estão subestimados porque se baseiam apenas na declaração das pessoas. Uma análise preliminar dos dados do Fisco no período entre 2006 e 2012 já mostra uma desigualdade maior no Brasil do que nos EUA. Estamos esperando ver um resultado espetacular. O artigo deve ficar pronto nos próximos meses, mas depende um pouco do acesso que o governo dará aos dados.

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