Conhecidos os vencedores de nove das 13 categorias em competição no 58.º Festival Internacional de Criatividade de Cannes, o Brasil tem muito para festejar. O desempenho do país este ano, com 60 estatuetas, sendo cinco de ouro, já é o melhor pelo menos dos últimos dez anos em 2010, recorde anterior, haviam sido 58 Leões.
Nas quatro categorias restantes, cujos resultados serão divulgados amanhã, o Brasil tem mais chances. As maiores esperanças dos brasileiros estão em filmes comerciais. A lista preliminar foi divulgada ontem e o país tem 14 peças na chamada shortlist.
Nas outras três categorias Titanium & Integrated Lions, que premia a inovação em ações de comunicação nas diferentes plataformas de mídia; Film Craft Lions, para inovações na produção de filmes comerciais; e Creative Effectiveness Lions, que elege as peças publicitárias que efetivamente deram resultados aos anunciantes , o país ainda não tem grande tradição.
As categorias em que o Brasil realmente se destaca são as de anúncios impressos e os outdoors. Nesta última o país ganhou 17 troféus. Em anúncios impressos foram 20, sendo um deles de ouro. Outros três prêmios vieram da categoria Rádio sendo um para o escritório da JWT em Curitiba, com o spot criado para a 91 Rádio Rock. "Foram inscritos mais de 1,3 mil spots do mundo todo e apenas três brasileiros foram premiados. Por aí dá para ter uma ideia da dificuldade e da importância do prêmio. Para a carreira de um publicitário, o Leão faz toda a diferença. E poder recebê-lo pessoalmente é melhor ainda", comemora o redator da JWT, Marco Pupo, um dos criadores do anúncio.
A peça, que ganhou um Leão de bronze, celebra o rock n´roll. "Nossa ideia foi apagar os instrumentos musicais de alguns clássicos do rock, deixando só os vocais originais. Com esse áudio, gravamos uma espécie de mini-novela, ambientamos novas historias. No spot vencedor, por exemplo, o Brian Johnson [vocalista do AC/DC] virou um vizinho chato reclamando do barulho de uma festa."
Reconhecimento
O jurado brasileiro em Impressos, Marcos Medeiros, diretor de arte da AlmapBBDO, diz que há reverência ao trabalho brasileiro na área. "O presidente do júri [Tony Granger, presidente global de criação da Young & Rubicam] olhava para uma peça é dizia: deve ser do Brasil. E era", conta. "Confesso que eu mesmo não sei identificar exatamente, mas há um jeito de fazer peças impressas que tem a cara do Brasil."
Medeiros reconhece que o desenvolvimento do Brasil na arte de fazer bons anúncios impressos está no preço que o anunciante paga por uma veiculação. "Com US$ 150 mil, o cliente não consegue fazer um filme que se destaque, mas faz uma boa campanha que, se ganhar destaque e prêmio em Cannes, ainda tem repercussão na mídia."
Design
Sem esconder o cansaço pela maratona de trabalho na presidência do júri de Design, o brasileiro Luciano Deos, sócio do escritório GAD Design e presidente da Associação Brasileira de Design (Abedesign), se mostrava bastante satisfeito com os cinco troféus obtidos na categoria dois deles de ouro.
"São apenas quatro anos de participação no festival de Cannes", disse. "Há três a Abedesign começou a se envolver e a mudar a percepção de que o Brasil também tem design de qualidade. Tanto que, no folder que preparamos para o estande que montamos aqui, mostramos que temos design em carro (Fiat Mille desenvolvido no Brasil), temos design em avião. Não precisamos nos intimidar com a produção na área dos anglo-saxões."
Deos está convicto de que, mais do que o crescimento da participação, ou a preocupação com a quantidade de prêmios obtidos, o que precisa efetivamente mudar é a mentalidade. "Temos capacitação para oferecer alternativas a clientes globais, e faremos isso. Por isso mesmo, destacamos a frase de que o mundo, em cinco anos, estará comprando o design brasileiro."
De forma geral, a categoria, que passou a estar presente na competição em Cannes há quatro anos, é relativamente nova também para os outros países participantes. "Então", diz Deos, "vamos ocupar posições, antes que outros façam isso."
Em seu balanço sobre o festival o designer Ericson Straub, head da agência que leva seu sobrenome, diz que a criatividade não pode ser vista como algo isolado. "Ela faz parte de um processo do conhecimento do problema e da solução, que em diversas vezes pode trazer o rompimento com o esperado, a quebra de paradigma. E isso torna a atividade criativa tão excitante e intrigante. O Grand Prix de design reflete exatamente isso", diz, em referência ao case "The Cosmopolitan Digital Experience". O trabalho feito para um hotel, explica Straub, mistura elementos digitais e tridimensionais para criar uma experiência única para as pessoas. "Ao mesmo tempo ele rompe com a visão dos tradicionais hotéis de Las Vegas onde se imagina logo de cara, grandes pirâmides, deusas gregas, luzes e fumaça colorida."
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