Evidente desde o início do ano, a recessão do Brasil foi confirmada e medida em números oficiais nesta sexta-feira (28). Ainda não é visível é a saída da crise. Dados divulgados pelo IBGE apontam um declínio recorde dos investimentos, que prenunciam a retração econômica mais prolongada desde o lançamento do Plano Real, em 1994.
Medida da produção e da renda do país, o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,9% no 2.º trimestre do ano, na comparação com o 1.º, que já havia sofrido um recuo de 0,7%, segundo revisão do IBGE –em maio, a queda apontada tinha sido de 0,2%.
Dois trimestres consecutivos de queda são um sintoma tradicionalmente aceito de recessão – algo que não ocorria desde 2008/2009. Mas esses números não contam toda a história: para a Fundação Getulio Vargas, a recessão já completou cinco trimestres. Afinal, a produção da indústria, agropecuária e serviços segue em patamar inferior ao do início de 2014, assim como vendas no comércio e obras de infraestrutura. O tombo recém-divulgado pelo IBGE é o mais doloroso do período.
Motor da economia ao longo da administração petista, o consumo das famílias teve queda de 2,1%, a maior desde a recessão de 2001, quando o país passava por um racionamento de energia elétrica, e o mundo, pelos atentados terroristas do 11 de setembro.
Há piora entre os diferentes setores e transações da economia, mas não é difícil identificar sua origem: a queda dos investimentos por um período ininterrupto de dois anos, inédito nas estatísticas iniciadas na década de 1990. No período, despencou de 20,7% para 17,8% a parcela do PIB destinada a essas despesas, cujo objetivo é ampliar a capacidade produtiva.
É também o que deixa mais longínqua a recuperação. Nos tempos do real, o PIB nunca caiu mais de dois trimestres consecutivos; agora, uma nova queda no 3.º trimestre do ano é consensual.
Previsões
O tombo maior que o esperado no 2.º trimestre, aliado à revisão para baixo dos dados de janeiro e março, fez com que economistas de bancos e consultorias de investimentos projetem desempenho econômico ainda pior em 2015.
As previsões dos analistas ouvidos pela reportagem variam de -2,5% a -3,0%. Antes, ficavam em torno de -2%, em linha com o número apresentado pela pesquisa Focus, do Banco Central, na última segunda-feira (24), de 2,06%.
“A forte revisão da contração no primeiro trimestre e um comportamento negativo do consumo das famílias já no início do ano surpreenderam”, afirmou André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, que projeta retração de 2,5%.
O consumo deve cair ainda mais nos próximos trimestres, prejudicado pela piora no mercado de trabalho e pela queda acentuada na renda do brasileiros.
No terceiro trimestre,o país ainda deve registrar retração econômica, embora de menor intensidade, segundo os analistas do mercado.