O comércio entre Brasil e Estados Unidos se recuperou rápido do baque de 2020, provocado pela pandemia da Covid-19. Dados do governo federal mostram que o Brasil nunca exportou tanto para os EUA quanto em 2021 (US$ 31,1 bilhões); tampouco importou tanto (US$ 39,4 bilhões). Como resultado, a corrente comercial entre os dois países – a soma das duas vias de comércio – foi recorde no ano passado, com movimentação total de US$ 70,5 bilhões.
O fluxo cresceu 43% na comparação com 2020 e 9,3% ante 2019, quando fora registrado o recorde anterior, de US$ 64,4 bi em exportações mais importações. Bastante impactado pela crise sanitária, o resultado da corrente comercial em 2020 foi de US$$ 49,3 bilhões, com queda de 23,5% sobre o ano anterior.
No saldo da balança, o registro foi do maior déficit no comércio bilateral com Estados Unidos desde 2013 e o maior com qualquer parceiro comercial em 2021: importamos US$ 8,3 bilhões a mais do que exportamos, com pandemia e crise hídrica puxando as nossas compras.
Crises (sanitária e hídrica) aqueceram importações de produtos dos EUA
As importações brasileiras de produtos norte-americanos tiveram incremento de 41,3% na comparação com 2020, chegando ao recorde de US$ 39,4 bilhões, "fortemente determinado por questões conjunturais, em particular a crise hídrica e a pandemia", destaca o vice-presidente executivo da Amcham Brasil, Abrão Neto.
Houve aumento expressivo em compras de gás natural para abastecer as termelétricas em meio à escassez hídrica vivenciada pelo Brasil e ampla aquisição de vacinas contra a Covid-19.
Em números, as importações de gás natural foram catapultadas, com alta de 2.330%, representando sozinhas US$ 3,3 bilhões no ano. A compra de vacinas norte-americanas pelo Brasil, por sua vez, alcançaram US$ 2,3 bilhões, com incremento de 406%.
De acordo com o Monitor do Comércio Brasil-EUA, publicado trimestralmente pela Amcham Brasil, outros produtos de destaque foram combustíveis de petróleo (US$ 7,4 bilhões), motores não elétricos (US$ 3 bilhões), aeronaves (US$ 1,2 bilhão), petróleo bruto (US$ 1 bilhão) e polímeros de etileno (US$ 1 bilhão).
Aumento da demanda garantiu recorde das exportações brasileiras para os EUA
As exportações brasileiras para os Estados Unidos tiveram alta de 45% na comparação com 2020, chegando a patamar inédito de US$ 31,1 bilhões.
De acordo com o Monitor do Comércio da Amcham Brasil, elas foram impulsionadas pelo aumento da demanda interna norte-americana e também pela alta dos preços em setores como siderúrgico e petróleo.
Têm destaque nas exportações brasileiras para os norte-americanos produtos semiacabados de ferro e aço (US$ 4,5 bilhões), petróleo bruto (US$ 3,1 bilhões), aeronaves (US$ 1,5 bilhão), ferro-gusa (US$ 1,2 bilhão), café não torrado (US$ 1,1 bilhão) e celulose (US$ 1,1 bilhão).
Controle da pandemia, retomada americana e preço explicam patamares
Na avaliação do sócio de Transações da consultoria Grant Thornton Brasil, Jeferson Gimenez, o crescimento relevante nos negócios entre Brasil e Estados Unidos em 2021 foi apoiado pelo tripé formado por controle da pandemia, retomada do crescimento e preço.
"Primeiro, o aspecto sanitário no mundo, por causa de vacinação e um começo de controle da pandemia, que trouxe para o Brasil o benefício da devolução da força de trabalho para atender demanda. Segundo ponto foi a retomada do crescimento do mundo e especificamente os Estados Unidos que, voltando a taxas maiores de crescimento, consequentemente importa mais", diz Gimenez.
Aqui, segundo ele, "a política fiscal e econômica norte-americana [que injetou trilhões de dólares na economia] fez o mercado reaquecer e buscar matérias que a gente exporta", disse. O movimento, cabe apontar, já vem sendo reduzido pelo Federal Reserve.
Completando a base de sustentação da recuperação observada no comércio bilateral Brasil-EUA em 2021, o analista pondera que "teve volume, mas teve também preço", ao falar sobre a dobradinha desvalorização cambial e commodities.
Segundo Gimenez, a baixa oferta causada por dificuldades de mão de obra no mundo, com demanda caminhando acima da oferta, puxou o preço das commodities, significativas para o comércio exterior brasileiro; em paralelo, o real desvalorizado ante o dólar incentivou exportações. "Um mercado interno com lenta retomada de crescimento e um mercado externo já mais agitado faz o empresário focar lá fora", afirma.
O que esperar de 2022 para o comércio entre Brasil e Estados Unidos
O cenário consolidado de 2021 mantém os Estados Unidos como segundo principal parceiro comercial do Brasil, com participação de 14,1% do total das nossas trocas externas. Perde para a China, que concentra 27,1% do comércio bilateral brasileiro.
Após a recuperação importante de 2020 para 2021, a expectativa da Amcham é de que a economia e o comércio internacional repitam desempenhos positivos neste ano, ainda que em ritmo menor. Para Abrão Neto, "o comércio bilateral manterá uma trajetória crescente, com aumento moderado das trocas”.
A análise se baseia nos indicadores já apontados por organismos como Banco Mundial, OCDE e FMI, que esperam crescimento mundial entre 4,1% e 4,9% em 2022; expansão de até 5,2% do PIB dos EUA e de 1,5% do Brasil.
De olho no que puxou os números em 2021, a Amcham frisa que os elementos mais relevantes a serem monitorados no espectro bilateral são os impactos econômicos decorrentes da pandemia, a manutenção da demanda brasileira por gás e vacinas, os preços internacionais dos principais produtos comercializados, além do patamar cambial e os reflexos comerciais de politicas públicas, como o plano de infraestrutura nos Estados Unidos.
Cabe ainda acompanhar importantes geradores de incerteza, entre os quais o risco de falhas nas cadeias de fornecimento e eventuais novas ondas do coronavírus.
Confira a seguir a série histórica da balança comercial entre Brasil e Estados Unidos, com exportação de produtos brasileiros, importação de produtos norte-americanos, corrente comercial (soma de exportações e importações) e saldo da balança (exportações menos importações). Valores em bilhões de dólares:
ANO | EXPORTAÇÃO | IMPORTAÇÃO | CORRENTE | SALDO |
1997 | 9,3 | 13,7 | 22,9 | -4,4 |
1998 | 9,7 | 13,5 | 23,2 | -3,7 |
1999 | 10,7 | 11,7 | 22,4 | -1,1 |
2000 | 13,2 | 12,9 | 26,1 | 0,3 |
2001 | 14,1 | 12,9 | 27,0 | 1,3 |
2002 | 15,3 | 10,3 | 25,6 | 5,1 |
2003 | 16,7 | 9,6 | 26,2 | 7,1 |
2004 | 20,0 | 11,3 | 31,3 | 8,7 |
2005 | 22,6 | 12,6 | 35,3 | 10,0 |
2006 | 24,5 | 14,6 | 39,1 | 9,9 |
2007 | 25,1 | 18,7 | 43,7 | 6,4 |
2008 | 26,5 | 25,6 | 52,2 | 0,9 |
2009 | 15,6 | 20,0 | 35,6 | -4,4 |
2010 | 19,3 | 27,0 | 46,3 | -7,7 |
2011 | 25,8 | 34,0 | 59,7 | -8,2 |
2012 | 26,6 | 32,5 | 59,1 | -5,8 |
2013 | 24,6 | 36,0 | 60,7 | -11,4 |
2014 | 27,0 | 35,0 | 62,0 | -8,0 |
2015 | 24,0 | 26,5 | 50,5 | -2,4 |
2016 | 23,2 | 23,8 | 47,0 | -0,7 |
2017 | 26,9 | 27,8 | 54,7 | -0,9 |
2018 | 28,7 | 32,8 | 61,5 | -4,1 |
2019 | 29,7 | 34,8 | 64,5 | -5,1 |
2020 | 21,5 | 27,9 | 49,3 | -6,4 |
2021 | 31,1 | 39,4 | 70,5 | -8,3 |
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