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Alimentos

Brasil Foods nasce com desafios

Secches e Furlan com um exemplar exclusivo da camisa do Corinthians: patrocínio do time continuará com a Batavo | Mauricio Lima/AFP
Secches e Furlan com um exemplar exclusivo da camisa do Corinthians: patrocínio do time continuará com a Batavo (Foto: Mauricio Lima/AFP)
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A Brasil Foods S.A., maior empresa de alimentos industrializados do país, resultante da união da Perdigão com a Sadia, teve sua criação oficialmente anunciada ontem e já tem dois grandes desafios a vencer no curto prazo. O primeiro refere-se à própria modelagem da venda da Sadia para a Perdigão, que precisa receber o aval de todos os controladores em no máximo 15 dias. Desde já, Luiz Fernando Furlan, que preside o Conselho de Administração da Sadia, e Nildemar Secches, que comanda o Conselho da Perdigão, também correm contra o relógio para elaborar até 2 de junho toda a documentação necessária para uma nova emissão de ações, no valor de R$ 4 bilhões, uma vez que a empresa nasce com uma dívida de US$ 10 bilhões.

Do capital total da Brasil Foods, os antigos controladores da Perdigão ficarão com 68% de participação, ou o equivalente a R$ 6,8 bilhões do valor de mercado estimado para a companhia (de R$ 10 bilhões). Os acionistas da Sadia ficarão com os 32% restantes.

Considerando os dados de 2008, a Brasil Foods nasce como a quinta maior exportadora brasileira, atrás apenas de Bunge, Embraer, Vale e Petrobras, e a maior empregadora do país. Seu faturamento líquido é de R$ 25 bilhões. Segundo Furlan, apesar da crise, esse valor deve chegar a R$ 30 bilhões este ano, e o principal objetivo da nova companhia é a expansão das operações internacionais. "Temos a convicção de que estamos criando uma campeã, uma empresa brasileira de porte mundial, que num curto prazo se tornará o maior exportador de carnes processadas do mundo", disse.

Furlan e Secches evitaram dar um número preciso sobre os ganhos que as duas empresas terão com sinergias. Mas citaram as projeções correntes no mercado, que vão de R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões. Uma empresa especializada será contratada para avaliar esses ganhos, bem como coordenar o processo de integração de Sadia e Perdigão, que continuarão com administrações separadas até que os órgãos de defesa da concorrência deem sinal verde para a união.

Dinheiro público

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já confirmou que injetará recursos para financiar a fusão. O presidente da instituição, Luciano Coutinho, disse ontem que participará do processo, mesmo que "nossa participação venha a ser mínima". Com o aporte, o BNDES vai acabar ajudando as três grandes empresas brasileiras (Sadia, Votorantim Celulose e Aracruz) que tiveram pesadas perdas na crise por causa de apostas financeiras especulativas muito criticadas pelo governo.

"O BNDES entrará como um participante normal do mercado de capitais", diz Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento do governo Lula. "Nós, que somos clientes antigos das linhas tradicionais de financiamento do banco, continuaremos a buscá-las."

O maior acionista individual da Brasil Foods passará a ser a Previ, o fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil, com cerca de 12% de participação. As famílias Fontana e Furlan terão participação um pouco menor.

Porte

Para analistas, a fusão promete trazer redução de custos, ganhos de escala e abrir caminho para uma atuação mais agressiva no mercado internacional. "A fusão fortalece as duas empresas em âmbito global. Teremos uma empresa brasileira com porte para brigar de igual para igual com outras gigantes do setor", diz José Roberto Martins, da consultoria GlobalBrands. A Brasil Foods nasce com uma estrutura que emprega cerca de 116 mil funcionários e vende seus produtos em mais de cem países.

"Para o acionista é um bom negócio sobretudo em relação a perspectivas de longo prazo", diz Alexandre Nunes, da DealMaker, especializada em fusões e aquisições. Mas por outro lado há dúvidas sobre os efeitos da criação de uma gigante do setor de alimentos sobre as negociações com fornecedores e varejo e sobre os preços ao consumidor. De acordo com dados da ACNielsen, Sadia e Perdigão, juntas, respondem por aproximadamente 80% do mercado brasileiro de produtos congelados, 57% do segmento de industrializados de carne e 67% das vendas de margarinas. A concentração lhes garante um alto poder de barganha, mas também facilita o aumento de preços, segundo Christian Majczak, da GO4! Consultoria.

Concorrência

Para Eugênio Foganholo, da Mixxer Consultoria Empresarial, o varejo terá mais dificuldade na negociação com a nova empresa e o consumidor terá menos opções. Mas o comportamento de preços no mercado vai depender também do grau de monitoramento do governo e do poder de competição das demais marcas. "É bem provável que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ordene algum tipo de mudança, como a venda de alguma marca, por exemplo", diz Nunes, da DealMaker.

Para analistas, é praticamente certo que uma fusão desse porte implique também redução no número de fábricas e de empregados. No entanto, as mudanças não serão imediatas. As empresas devem permanecer com as operações separadas por pelo menos um ano.

Solução para crise

O maior desafio das duas, segundo os especialistas, será administrar diferenças culturais. A tendência é prevalecer a gestão da Perdigão, que tem maior participação societária e é mais conservadora e concentrada em redução de custos. Em um cenário de crise, a fusão é uma solução sobretudo para a Sadia, que não vive seus melhores dias e cuja imagem saiu arranhada depois da malsucedida operação com derivativos que a levou a ter prejuízo de R$ 2,5 bilhões em 2008.

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