Passada a pior fase da crise que se abateu sobre os mercados com a quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008, os investidores estão aumentando aos poucos suas exposições a ativos de mercados emergentes, atraídos pelo potencial de crescimento desses países.
No primeiro semestre deste ano, os fundos de ações de países emergentes captaram cerca de 30 bilhões de dólares, recuperando 62 por cento dos resgates registrados no último ano, que foram de 48,3 bilhões de dólares, segundo dados da consultoria EPFR.
"O apetite dos investidores aumentou nos últimos meses com grande fluxo de recursos para os fundos em mercados emergentes e recuperação do mercado acionário", afirmou à Reuters, por email, Mark Mobius, diretor responsável por mercados emergentes da Franklin Templeton, que em maio de 2009 contava com 448 bilhões de dólares sob gestão.
A participação de ativos brasileiros nos fundos da Franklin Templeton geridos por Mobius alcançava, no final de junho deste ano, 3,8 bilhões de dólares, só perdendo para a China, com 5,3 bilhões de dólares. O valor supera o volume da Índia (2,2 bilhões de dólares) e da Rússia (1,6 bilhão de dólares).
Segundo Mobius, os múltiplos das ações brasileiras estão com um valor atrativo.
"O índice MSCI Brazil está negociando a uma relação de preço/lucro de 11,8 vezes, mais barato que o do índice MSCI Emerging Markets, a 14,3 vezes. O P/L do MSCI da Índia também está muito caro em 18,2 vezes, enquanto o da China está sendo negociado a 16,8 vezes", comparou.
Mobius destacou que, no Brasil, os fundos da Franklin Templeton têm focado companhias do setor de consumo e recursos naturais. "Companhias brasileiras como Petrobras, Vale e Itausa estão todas incluídas nas principais participações de nosso fundo FTIF Templeton Latin America."
No fim de junho, os fundos FTIF Templeton Latin America e o FTIF-Templeton BRIC Fund, ambos domiciliados em Luxemburgo, contavam com patrimônio líquido de 2,2 bilhões e 1,7 bilhões de dólares, respectivamente.
O índice do Morgan Stanley composto por 22 países emergentes acumula valorização superior a 30 por cento neste ano, enquanto o MSCI World Index das economias desenvolvidas subiu cerca de 3 por cento.
Para o gestor dos fundos de renda variável para América Latina da Blackrock, Will Landers, o mercado acionário brasileiro tem se tornado mais atrativo comparado a outros emergentes, com a queda da taxa de juros e menor dependência do mercado externo.
"O Brasil é o segundo mercado mais barato dos Brics, depois da Rússia --que, embora mais barato, é fortemente concentrado em petróleo e sofre com o problema de falta de credibilidade."
Concorrência de Índia e China
O gestor da Blackrock vê potencial de crescimento para as companhias brasileiras ligadas a consumo, nos segmentos financeiro, de varejo e imobiliário. "Apesar dos juros mais baixos, os bancos brasileiros continuam com alta rentabilidade", disse Landers.
O Brasil responde por cerca de 74 por cento do portfólio da Blackrock de ações da América Latina, que conta com cinco fundos e 5 bilhões de dólares sob gestão. Somando os investimentos dos fundos globais da Blackrock dedicados a emergentes, a gestora atinge 7 bilhões de dólares alocados em ações brasileiras.
Mobius, da Templeton, destacou que muitas companhias ligadas à commodities estão ainda rentáveis no atual preço. "Não prevemos os preços das commodities retornando a níveis extremamente baixos no futuro próximo. Dessa forma, acreditamos que essas companhias devem permanecer lucrativas e constituir oportunidades de investimento", disse.
Segundo o administrador de renda variável do BNP Paribas, Jacopo Valentino, o Brasil também tem maior peso na carteira dos fundos do BNP Paribas voltados para América Latina.
A aplicação em ativos brasileiros representa 63 por cento do portifólio do fundo Parvest Latam, domiciliado em Luxemburgo e com distribuição global, e 61 por cento do fundo distribuído na Coréia do Sul, o Bonjour Latam. Os patrimônios desses dois fundos somam 620 milhões e 450 milhões de dólares, respectivamente.
A gestora possui outro fundo com distribuição global, Parvest Bric, de cerca de 450 milhões de dólares, dos quais aproximadamente 112 milhões de dólares estão alocados em ativos brasileiros.
Valentino afirmou que, neste momento, as alocações em ativos da China e da Índia têm ganhado preferência. "São economias que crescem mais do que o Brasil e tem oferecido investimentos bastante rentáveis."