Basileia - O Brasil gastou o equivalente a 5,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país) em incentivos fiscais para tirar a economia da recessão. Nesta semana, os novos dados do PIB indicarão o fim da recessão. Ainda assim, em termos porcentuais, o Brasil gastou mais que Estados Unidos, França, Reino Unido ou Japão em pacotes de incentivos para o setor produtivo.
De acordo com a ONU, o Brasil sofrerá uma contração de sua economia de 0,8% em 2009, contra uma queda de 2,5% no mundo. Esses dados fazem parte de um relatório divulgado pela Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento que fez um levantamento de tudo aquilo que foi gasto ou prometido por governos como ações anticrise. O documento ainda aponta que os sinais positivos registrados no mercado internacional não significam que a crise tenha sido superada no mundo. Segundo a entidade, os gastos brasileiros também estão acima da média dos países emergentes, que deixaram 4,7% de seus PIBs em medidas de resgate das economias. Nos países ricos, essas despesas chegaram a 3,7% do PIB, o que em valores absolutos significa muito mais do que o gasto dos países menos desenvolvidos.
G-20
No último fim de semana, o G-20 (grupo das maiores economias do mundo) deixou claro que não está na hora de retirar os pacotes de ajuda econômica. Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o Brasil também não deve atuar de forma prematura e retirar os incentivos. "A recomendação (do G-20) também vale para nós", disse Meirelles.
No total, a estimativa é de que em média cada uma das principais economias do mundo gastou 4% de seu PIB nessa crise. Nesse cálculo, a ONU inclui desoneração de impostos, investimentos públicos, ajuda a empresas que queriam manter seus empregados trabalhando, eventuais elevações de seguro desemprego e a distribuição de recursos para ajudar setores a exportar. Os estímulos fiscais dados pelo governo brasileiro foram inferiores aos da China e Coreia, com 6,2% do PIB, e dos 6,4% na Argentina.
Nos Estados Unidos, a taxa chegou a 5,5%, contra 4,7% no Japão e 3,9% na Espanha. Mas o Reino Unido destinou apenas 1,9% e na França a taxa foi de 1,5%. Detlef Kotte, autor do estudo, revela que de fato os pacotes foram e continuam sendo necessários para compensar as perdas geradas pela crise. "Sem essas medidas, a pobreza teria aumentado certamente, inclusive no Brasil", disse. Kotte alerta que o impacto nas contas do governo surgirá apenas em 2010, no cálculo do déficit fiscal. "A esperança de muitos governos é de que esse déficit seja neutralizado pelo crescimento que os pacotes vão gerar", disse. O risco, segundo ele, é de que a renda gerada pelo crescimento e o maior pagamento de impostos levem um certo tempo ainda para ocorrer.
Bancos
Nos pacotes de socorro aos bancos, a situação é diferente. O Brasil destinou apenas 1,5% de seu PIB para ajudar as instituições financeiras. Na Índia, a taxa chegou a 6%. Já nos países ricos, os volumes chegaram a 263% do PIB da Islândia, 230% na Irlanda, 81% nos EUA e 22% na Alemanha. Em média, as maiores economias destinaram o equivalente a 32% de seus PIBs em injeção de capitais em bancos, compra de ações, empréstimos, apoio do banco central e garantias.
Para a ONU, tudo isso não resolveu o problema. Muitos bancos continuaram sem emprestar, ainda que o sistema financeiro tenha sido salvo do colapso. Para a entidade, enquanto o desemprego aumentar e o consumo cair, os bancos não vão se sentir cômodos suficiente para voltar a liberar recursos.
Crescimento
Apesar dos gastos, a economia brasileira sofrerá uma queda de 0,8% em 2009, de acordo com a ONU. O tombo será mais suave que a média latino-americana, de 2%. A pior situação na região é do México, com uma contração de 7%. Meirelles, no entanto insiste que o Brasil apresentará uma taxa positiva ao longo deste ano.
China e Índia terão taxas bem altas para o atual cenário, de 7,8% e 5%, respectivamente. Os dois países puxarão a média dos emergentes para cima. No geral, os mercados em desenvolvimento terminarão 2009 com um crescimento de 1,3%.