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O Brasil recebeu 41% de todo o investimento estrangeiro direto da América Latina ao longo de 2022 de acordo com o relatório da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), divulgado na manhã desta segunda (10) em Santiago, Chile.
A região como um todo recebeu US$ 224,5 bilhões (R$ 1 trilhão) no ano passado, um aumento de 55,2% na comparação com 2021 e recorde que não era atingido desde 2013, quando o montante alcançou US$ 200 (R$ 973 bilhões).
Segundo a Cepal, os investimentos estrangeiros diretos no Brasil também colocaram o país como o quinto maior destino global da categoria, seguido por México (17%), Chile (9%), Colômbia (8%), Argentina (7%) e Peru (5%).
Já a Costa Rica foi o principal recebedor de investimento estrangeiro direto na América Central, enquanto na Guatemala estes fluxos registraram uma queda significativa devido a um valor extraordinário em 2021, mas voltaram à sua média histórica.
José Manuel Salazar-Xirinachs, secretário-executivo da Cepal, explica que, além do recorde de investimentos, também houve um aumento do peso destes fluxos no PIB (Produto Interno Bruto, soma de todos os bens e serviços produzidos) regional, atingindo 4%. No entanto, não está claro se este bom desempenho vai se repetir em 2023, já que o resultado de 2022 ocorreu por conta da recuperação da economia no pós-pandemia.
“O desafio de atrair e reter o investimento estrangeiro direto que contribua efetivamente para o desenvolvimento produtivo sustentável e inclusivo da região continua sendo mais relevante do que nunca. Há novas oportunidades em uma era de reconfiguração das cadeias de valor globais e de relocalização geográfica da produção diante de uma globalização em mutação”, disse.
Ainda segundo Salazar-Xirinachs, o desafio dos países da América Latina e do Caribe é “maximizar a contribuição do investimento estrangeiro direto para o desenvolvimento com políticas de agregação de valor e de ascensão nas cadeias de valor, de desenvolvimento de recursos humanos, de infraestruturas e logística e de reforço das capacidades locais”.
Setor de serviços lidera investimentos, mas indústria também recuperou
Em nível regional, 54% do investimento estrangeiro direto foi destinado ao setor de serviços, embora tanto a indústria de transformação como a de recursos naturais tenham recuperado.
Em termos de investidores, os Estados Unidos (38% do total) e a União Europeia (17%, excluindo Holanda e Luxemburgo) foram os principais investidores.
Na mesma linha, o investimento estrangeiro direto proveniente de países da mesma região da América Latina e do Caribe saltou de 9% para 14% do total.
Em 2022, o montante investido no exterior pelas empresas transnacionais latino-americanas, conhecidas como translatinas, atingiu níveis históricos: US$ 74,6 bilhões (R$ 363,1 bilhões), o valor mais alto registrado desde que esta série começou a ser compilada na década de 1990.
O montante de anúncios de projetos de investimento estrangeiro direto na América Latina e no Caribe cresceu 93% em 2022, totalizando cerca de US$ 100 bilhões (R$ 486,7 bilhões).
Pela primeira vez desde 2010, o setor de hidrocarbonetos (carvão, petróleo e gás) liderou os anúncios, com 24% do total, seguido do setor automotivo (13%) e das energias renováveis (11%).
Transição energética é a tendência
O estudo da Cepal também identifica a transição energética como um dos setores que podem impulsionar o crescimento econômico e, por isso, recomenda que os países a priorizem nas suas agendas econômicas e a transformem em um importante motor da transformação produtiva da região.
“O investimento estrangeiro direto pode desempenhar um papel fundamental na aceleração da transição energética, facilitando a transferência de tecnologia e permitindo tecnologias emergentes. Os governos devem assumir a liderança na coordenação de estratégias para uma transição energética bem-sucedida na região”, enfatiza a Cepal.
Para a entidade, um dos papéis centrais dos governos é desenvolver políticas de longo prazo que promovam investimentos em fontes de energia renováveis para que a transição seja rápida e segura e não deixe a região para trás, “num contexto em que a energia de fontes limpas é um fator de competitividade”, completa.
No entanto, a Cepal também alerta que esse processo deve levar em conta a importância que o setor de energia não renovável ainda tem para alguns países da região, especialmente em termos de geração de renda para atender às demandas sociais, desenvolvimento produtivo e segurança energética.