A retração econômica do Brasil, que deve se arrastar até o ano que vem, está fazendo o país perder atratividade para as grandes redes de varejo estrangeiras. Em busca de expansão no mercado latino-americano, elas estão trocando o Brasil por seus vizinhos no continente, que registram crescimento e ainda têm juros menores. É o caso da sueca H&M, que chegou a estudar o mercado brasileiro, mas não tem definição de quando - e se - vai se instalar no país. O Brasil não está na lista de novos mercados que a varejista de moda cita em seu plano de expansão. A H&M entrou na América do Sul pelo Chile, em 2013, e, em maio, abriu sua primeira loja no Peru.
“Nesses outros países, as condições macroeconômicas estão mais favoráveis e, em alguns setores, como o de vestuário, a concorrência é menor. Isso faz algumas redes testarem outros mercados enquanto olham o desenvolvimento do Brasil”, explica Esteban Bowles, diretor da consultoria A.T. Kearney.
Outro fator que contribui para que as redes de varejo, assim como empresas de outros setores, olhem para esses países é o fato de eles terem uma inflação mais controlada. Enquanto no Brasil a projeção é que o índice oficial, o IPCA, encerre o ano a 9,3%, em Colômbia, Peru e Chile os preços devem subir em torno de 4%, já considerando o efeito da apreciação do dólar. Quanto maior a inflação, menor o poder de consumo da população, o que faz o Brasil perder pontos.
A alta taxa de juros - a Selic está em 14,25% ao ano - é outro agravante, já que os investimentos feitos no país precisam ter, no mínimo, essa rentabilidade para serem viáveis. Os juros no Chile estão em 3% ao ano, enquanto Peru e Colômbia têm taxas de 3,25%.
Esse movimento não significa que essas redes não olhem mais para o Brasil; elas apenas acabam pensando duas vezes antes de tomar uma decisão. Como a também sueca Ikea, de móveis e decoração, que abriu um escritório no país para estudar o mercado, mas adiou os planos de iniciar a operação, apesar de ter aqui fornecedores que exportam para outras unidades da empresa.
Segundo Andréa Aun, sócia da consultoria Integration, o Brasil fica na geladeira porque, em um ambiente econômico melhor, é mais fácil controlar os custos e, principalmente, avaliar os eventuais problemas na região.
“O custo de um país pode muitas vezes inviabilizar uma operação, então se testa em um local menor “, argumenta Andréa.
As projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) para o Brasil não são alentadoras. O organismo estima que este ano o país tenha retração de 1,5%. A expectativa para o Produto Interno Bruto (PIB) do Chile é de crescimento de 2,5%. Para a Colômbia, espera-se alta de 3,4%, e para o Peru, de 3,6%.
Isso não significa, porém, que não haja problema nesses países. O Peru, por exemplo, é visto como pouco amigável a investidores, pois tem controle de capitais, e a Colômbia até hoje enfrenta grupos paramilitares.
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