Artigo assinado pelo chefe do escritório brasileiro do jornal britânico "Financial Times" traz críticas à condução do modelo de concessões adotado pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Intitulado "O Brasil periga perder uma década enquanto estraga o impulso à infraestrutura", Joe Leahy diz que o Brasil está muito atrás de outras grandes economias em termos de investimento em transportes e que o governo perde tempo com "erros bobos".
O artigo cita o fracasso do leilão de concessão da BR-262, que terminou sem interessados, e a ausência de gigantes do setor petrolífero no rol de interessados em explorar o leilão na área de Libra, como Chevron, Exxon, BP e BG. No lugar das 40 empresas esperadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), 11 se inscreveram.
"O governo está tentando resolver o atraso na infraestrutura. Mas haja vista os dois processos licitatórios na semana passada -- uma para rodovias e outros para blocos de petróleo -- eles precisam entrar em ação ou ameaçam condenar o Brasil a uma década perdida em termos de maior crescimento econômico potencial", afirma.
O artigo frisa que apesar dos grandes estímulo governamental, a parcela de investimentos no Produto Interno Bruto (PIB) continua bem atrás da proporção encontrada em grandes economias. Segundo Leahy, parte se deve à fraca capacidade do governo de executar.No leilão da última semana, por exemplo, cita ele, duas grandes rodovias -- tidas como o melhor de um grupo de estradas que serão oferecidas nos próximos meses -- foram entregues ao setor privado.
Uma delas, a BR 262 entre Minas Gerais e Espírto Santo, não atraiu interesse de nenhum investidor. O fracasso se deveu a erros bobos. Ele incluiu um grande trecho de obras que seriam realizadas pelo Dnit. Naturalmente, licitantes não quiseram correr riscos com esse departamento, que tem um histórico pobre e não teria capacidade de entregar as obras a tempo. Não só o concessionário privado seria multado, como também perderia receitas com pedágios.
O governo negou o risco existente, dizendo que iria prover as garantias, mas era tarde demais. A confusão entre os investidores já estava feita.
No caso do petróleo, o governo exigiu uma taxa de inscrição de R$ 2 milhões das empresas que manifestaram interesse em participar do leilão.
Críticos dizem que o governo é obcecado por controlar a taxa de retorno do setor privado, ao ponto de tornar os projetos não atrativos, diz Leahy.
"A piada é que o partido de centro-esquerda de Dilma tem um instinto tão grande em desconfiar do setor privado que quer inventar um novo tipo de sistema econômico: o capitalismo sem fins lucrativos".
O jornalista ressalta que com os atrasos na rodada de rodovias, Dilma agora tem pouco tempo para fazer decolar o seu programa de infraestrutura. Ele cita os recessos no Natal e no carnaval, Copa do Mundo de futebol, em junho, e as eleições presidenciais no segundo semestre do ano que vem.
"Se os projetos forem concedidos até 2015, eles não serão concluídos até 2020. Levando em conta os três últimos anos de progresso econômico fraco, o Brasil periga ter uma década de crescimento lento. Pode ser não ser dois séculos, mas na era da globalização, uma década é um tempo longo demais para ser perdido.