Caso seja constatado que a proposta de endurecimento da legislação comercial norte-americana descumpra as normas internacionais, o Brasil poderá questionar os Estados Unidos, afirmou na sexta-feira (27) o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. Segundo ele, o governo ainda está analisando o texto da nova legislação antidumping e deverá apresentar posicionamento sobre o assunto na próxima semana.
Na quinta-feira (26), os Estados Unidos apresentaram uma proposta para endurecer a legislação antidumping, que impõe sobretaxas a produtos vindos de outros países abaixo do preço de custo, prejudicando produtores locais. O texto, que ainda irá a consulta pública, também simplifica a fórmula de cálculo do dumping, o que pode fazer novos produtos e setores serem acusados de concorrência desleal. Para empresários brasileiros, a nova legislação pode desestimular as exportações do país.
Welber Barral descartou, a princípio, que a medida venha a gerar grande impacto sobre as exportações brasileiras. Segundo ele, o objetivo das medidas norte-americanas é combater a concorrência com os produtos chineses. O secretário admitiu, no entanto, que a simples abertura de investigação, pelo governo norte-americano, sobre produtos nacionais pode prejudicar as vendas externas brasileiras, mas afirmou que o problema só ocorrerá se os Estados Unidos incluírem novos setores nas acusações de dumping venda abaixo do preço de mercado que caracteriza concorrência predatória.
"O simples anúncio da abertura de investigação fez os importadores [norte-americanos] ficarem receosos de comprar do Brasil, mas é importante ressaltar que esse problema já acontece com as práticas antidumping atuais", declarou o secretário.
Segundo o secretário, o ministério ainda está fazendo um levantamento para saber quais produtos brasileiros atualmente sofrem acusação de dumping nos Estados Unidos. Ele, no entanto, afirmou que os casos são poucos e não devem afetar significativamente o comércio com o Brasil. "Nas décadas de 70 e 80, houve muitas acusações contra o Brasil, mas, hoje, os casos são escassos".
Barral disse ainda que a proposta dos Estados Unidos de intensificar as medidas antidumping não interferirá nas negociações em torno da retaliação comercial aos produtores de algodão norte-americanos. De acordo com ele, as normas internacionais estabelecem que as negociações diplomáticas ocorram separadamente conforme os assuntos abordados.
Dessa forma, caso o Brasil seja punido com a aplicação de uma tarifa antidumping, as negociações para evitar a retaliação aos Estados Unidos por causa do algodão prosseguirão normalmente. No fim do ano passado, a OMC autorizou o Brasil a retaliar os Estados Unidos em até US$ 830 milhões por causa de subsídios concedidos aos produtores de algodão pelo governo norte-americano. Em junho, os dois países adiaram o início da retaliação, por dois anos, até a chegada de um acordo.
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