A indústria precisa de uma política de Estado que permita ao setor recuperar o vigor perdido nos últimos anos. A previsão para este ano é que o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira sofra uma retração de até 1%. "Teríamos condições de crescer 4% a 6%, mas o setor industrial sofre os efeitos da ausência de reformas tributária e fiscal, da burocracia e do baixo investimento", diz o presidente da Federação das Indústrias do Paraná, Edson Campagnolo. A entidade, que completa 70 anos amanhã, representa 47 mil empresas que geram cerca de 850 mil empregos diretos no estado. Segundo ele, a indústria paranaense, graças à diversificação e aos investimentos em ampliação e novas fábricas nos últimos anos, ainda tem uma situação melhor, devendo registrar um crescimento do PIB de 4% a 5% em 2014. Apesar disso, os investimentos do setor só devem deslanchar a partir de 2015. Veja os principais trechos da entrevista. Por que a indústria brasileira parou de crescer?
Por uma combinação de fatores. Desde a falta da reforma tributária e de um ambiente mais favorável ao investimento, até o custo da logística e da burocracia, que tiram a competitividade dos nossos produtos. A indústria reclama muito da falta de reformas. Mas as empresas fizeram sua lição de casa? A queda na produtividade nas fábricas também não é culpa das companhias?
A indústria é competitiva e investiu em melhorias de processo. Da porta da fábrica para dentro, temos custos que se comparam a outros países. Mas, com a carga tributária, os custos de logística, enfim, o chamado custo brasil, perdemos espaço.
O Brasil sofre um processo de desindustrialização?
Tenho convicção disso. A participação da indústria na economia está encolhendo. Alguns acreditam que a vocação do país está mesmo no agronegócio. Mas deem à indústria as mesmas condições que são dadas ao agronegócio, como juros subsidiados e securitização, para tornar competitiva a indústria nacional. Teríamos condições de voltar a crescer 4% a 6% ao ano. O Brasil precisa de uma política industrial clara, permanente. Não adianta apenas investir em "pacotinhos". Também é necessário fazer as reformas tributária e fiscal e discutir as relações de trabalho.
Como a entidade vem se posicionando para defender as questões do setor?
Elaboramos um documento com base em uma pesquisa junto às empresas. O levantamento foi feito em maio e colheu as principais reivindicações. Vamos apresentar o resultado aos candidatos ao governo do estado. Teremos encontros na terça-feira e na quinta-feira. Trata-se de uma série de recomendações na área tributária, de educação, inovação e infraestrutura que podem ajudar a indústria voltar a crescer.
A Fiep completa 70 anos amanhã. Que balanço o senhor faz da história da entidade nesse período?
A Fiep nasceu durante a segunda guerra mundial, da iniciativa de nove sindicatos, com destaque para as áreas de alimentos, madeira, mate e leite. A ideia era unir forças, ganhar representatividade e superar os obstáculos. Ao longo dos anos, a entidade cresceu com os ciclos de industrialização no estado. O primeiro, na década de 1970, com a Cidade Industrial de Curitiba, o segundo no fim da década de 1990, com a chegada das novas montadoras. Foram anos de superação. Hoje temos 109 sindicatos 10% do total representado na Confederação Nacional da Indústria (CNI) e reunimos 47 mil indústrias que geram 850 mil empregos no estado. O Senai e o Sesi recebem respectivamente 360 mil e 650 mil matrículas por ano. O Paraná viveu dois grandes ciclos de industrialização. Haverá outro?
O próximo ciclo de industrialização terá que estar relacionado à inovação e tecnologia. Não existe outro caminho. Por isso, o importante é estimular a criação de empresas e dar suporte para que elas se desenvolvam.
2015 promete ser um ano de ajuste de contas, provavelmente com um ajuste fiscal mais forte, aumento de carga tributária, inflação e juros ainda altos. Mesmo assim, os investimentos do setor vão sair do papel?
Acredito que sim. O Brasil é um país com um enorme potencial. Esse investimento que está represado precisa começar a ocorrer. Mas o país precisa de estabilidade e reformas estruturantes. O governo terá que fazer seu papel e cortar na carne também. Porque senão quem paga a conta é o empresário, a população. Seja quem for que vença as eleições desse ano, espero que tenha a coragem de fazer isso.